O Menino e o Monstro

Contou um certo ceguinho numa pequena cidade do interior de Goias que ali exatamente naquela cidadezinha fatos estranhos aconteciam e um que muito me marcou dos que o cego contou foi de um menino que beirava sete anos.

Eu tinha dez anos quando fui levado por uma tia nas minhas férias escolares para visitar essa tal pequena cidade. Era uma aconchegante de estilo colonial onde as janelas das casicas ficavam à beira da rua e praticamente tinha-se a impressão de quando passava alguém conversando na rua se pensava que tinha um estranho dentro de casa.

Passei lá toda as férias quase que dois meses e pra mim era deslumbrante aquele lugar totalmente diferente do que estava acostumado.

As ruas todas de pedra-de-mão e o silêncio era sepulcral.Os cavalos que ainda por lá eram bastante utilizados trotavam nas pedras com suas ferraduras deixando um certo rastro de sinistralidade oculta. Acho até que isso na minha cabeça de menino ficou mais acentuado porque o tal ceguinho adorava contar histórias de terror e sentia prazer em ver as crianças com muito medo que aos poucos iam se apartando dele e era assim que ele conseguia ficar só sentado na praça com seu cachorro pulguento.

Nesse dia fomos para praça já ao cair da tarde brincar de pique-esconde e depois de nos escondermos debaixo de um coreto antigo próximo ao banco aonde o tal ceguinho costumava sentar-se notamos que ele começou de pronto a assoviar e de imediato pensamos que o ceguinho chamava seu cachorro pulguento, mas percebemos que não, porque o malandro do cão continuava imóvel

sentado aos seus pés e parecia entender o dono nos mínimos gestos e acredito que o malandro ajudava o ceguinho a contar histórias de terror.

A noite já começava a cair quando acompanhado de um frio própio do lugar o ceguinho nos chamou e começou a falar que ali na cidade quando ele ainda era menino ao escurecer ninguém ficava na rua porque tinha um tal monstro que atacava as pessoas,portanto, a população se resguardava em suas casas e apagava todos os lapiões, deixando a cidade em trevas. Aí o pulguento uivou! A palavra sinistra era o comando para o coadjuvante fazer a sua parte. Dali em diante era só uivo.

O ceguinho adorava e começou contando que indignado o menino se rebelou com aquela história e tão logo a cidade ficou um breu, não precisa dizer que o pulguento uivou, esperou seus pais dormirem e saiu de fininho na tentativa de encontrar o tal monstro e eliminá-lo, assim salvaria a cidade.

O que fez! Saiu a caminhar pelas ruas e nada de monstro! O pulguento uivou mais ainda, como se quisesse chamar o monstro e dizer que ali o território era Dele, pulguento.

Andaram até chegar a uma tal caverna, segundo a história, aonde vivia o monstro, e como nada do Bicho aparecer o ceguinho-menino resolveu gritar: _ Monstro! Monstro! OH! Monstro apareça seu covarde. O pulguento não aguentou a tal covardia do monstro e uivou três vezes consecutivas. Era o estrelato do Cão! Entraram na caverna e como estava tudo um breu o menino fez uma pequena fogueira, porque assim já espantaria o Bicho de vez. Mas que nada pra decepção dos nossos protagonistas nada de bicho.

Os dois voltaram felizes por terem enfrentado o tal monstro que não apareceu. O difícil disse o ceguinho foi convencer a população da cidade que não havia monstro algum. Até hoje o povo não acredita no ceguinho e em seu fiel escudeiro pulguento, mas fazer o quê? Dormir cedo não é mais o hábito daquela cidadezinha.