O Caso da Pauta de Audiência que Sumiu

I

Um advogado amigo me repassou no balcão da Secretaria um caso acontecido com ele e um juiz (infelizmente) falecido há alguns anos em decorrência de parada cárdio-respiratória.

Era o meritíssimo um companheiro muito apreciado pelos advogados e servidores do Tribunal, tendo exercido a magistratura durante uma boa quantidade de anos em muitas das Juntas de Conciliação e Julgamento de Belo Horizonte.

Fica o presente texto como uma homenagem a todos os servidores e juízes que foram cumprir ou elaborar “novos prazos” junto ao mais justo dos Juízes.

II

Em determinado dia, pouco antes de iniciadas as audiências, o referido advogado solicitou despachar com o meritíssimo sobre determinada questão sucitada num dos autos em que aquele era procurador.

Ao entrar na sala do juiz, o homem colocou inadvertidamente os autos que trazia consigo sobre a pilha de processos da audiência do dia que estavam localizados no canto esquerdo da mesa do meritíssimo. O juiz aguardava apenas a chamada das partes pelo datilógrafo para dar início à primeira audiência do dia.

Assim que expôs ao juiz os motivos que o haviam trazido a presença dele e, após ouvir a resposta do meritíssimo, o advogado volta a pegar de sobre a mesa a pilha de processos que trouxera e vai embora.

Daí a pouco, entretanto – após iniciada a primeira audiência do dia – percebe o juiz a falta dos autos dos processos relativos às cinco audiências iniciais. E se põe a pensar no que poderia ter acontecido

III

Não demorou para que o meritíssimo chegasse a uma simples conclusão: aqueles autos certamente haviam sido “levados” enganosamente por aquele aquele procurador desatento e avoado.

O juiz solicitou então que a Secretaria o colocasse imediatamente em contato telefônico com o dito advogado.

III

Contou-me o homem então ter sido esta a primeira vez em que vira aquele juiz completamente nervoso. Apesar de toda a educação e urbanidade com que normalmente procurava tratar as partes e seus procuradores. Só faltou chamá-lo de “beija-flor” e “andorinha”, pois ouvira naquele telefonema todos os adjetivos imagináveis e inimagináveis, possíveis e impossíveis.

O advogado tratou então de devolver os autos o mais rápidamente que lhe fosse possível. Entregara-os naquela mesma tarde ao atendente de balcao daquela Secretaria.

Para completar – comentou - buscaria com todas as suas forças se esquivar do contato direto com aquele juiz durante as próximas semanas e meses. Imaginava que assim

Alguns dias depois, entretanto, o destino acabou tramando um encontro entre aqueles dois trabalhadores do direito. O procurador teve que participar de uma audiência na Junta na qual o juiz era o titular.

Mas - muito ao contrário do que esperara - o que aconteceu foi que os dois companheiros acabaram se entendendo perfeitamente. Deram algumas risadas em relação àquele fato e àquele dia fatídico.

Terminada a audiência, porém – e antes que as partes e os procuradores se dispusessem a se levantar e a sair da sala de audiência, o juiz se dirigiu ao ilustre procurador e lhe fez uma solicitação:

- Não estaria o senhor levando junto aos seus alguns dos processos das minhas próximas audiências, estaria doutor?! Me faça a gentileza de dar uma olhada e uma conferida...

O advogado soltou uma longa risada que foi acompanhada por outra do juiz.

Em seguida deixou a sala no rumo do seu escritório. E o datilógrafo do juiz chamou imediatamente as partes e procuradores da audiência seguinte.