DURANGO O VALENTÃO X ZÉ CANGALHA
DURANGO O VALENTÃO X ZÉ CANGALHA
Era uma vez há muitos e muitos anos, numa cidade pequena e pobre no interior de Paraíba. Na estrebaria do Zé Cangalha as horas demoravam a passar e os hóspedes hibernavam depois do almoço. Seu nome foi Zé Andrade, mas virou Zé Cangalha por causa dos burros de carga que possuía. Numa daquelas tardes preguiçosas quando o calor debilitava os viventes, que uma grande silhueta cinza cortou as réstias de sol que penetravam esbeltas pela fresta da porta entreaberta. Era Durango, o valentão capeta da região, que com um coice certeiro, empurrou brutalmente a porta indo ela bater contra a parede onde descansava o retrato de Dona Juquinha mãe de Zé Cangalha. Isso despertou o homem e o irritou de tal modo que empunhou o facão e atirou num zás na direção do visitante. Durango, ligeiro e sabichão que era, curvou o corpanzil para trás deixando o facão zunir perto de sua orelha direita. Zé pôs-se em pé num pulo e logo gritou:
— Diz logo pra que veio homem, pois coisa boa num há de ser – e empunhou a garrucha com a qual nunca na vida errara um tiro sequer sem importar a distância ou mobilidade do alvo.
Durango conhecia a qualidade de seu oponente, percebeu a situação delicada, mas não amansou mantendo as duas mãos no cabo dos revólveres que ainda estavam nos coldres. Seguiu adiante dois passos lentamente em direção ao dono do estabelecimento e disse:
— Você sabe o que quero aqui. Vim de longe pra buscar o que é meu seu moço. Quero a Mariete de volta e agora, agorinha mesmo senão ela vai ficar viúva – disse e sacudiu os revólveres.
Zé Cangalha não era homem de muita conversa e foi balançando a cabeça em negativa, sabia que Mariete não fazia gosto de voltar para a casa do safado onde ela apanhava todos os dias para satisfazer o capeta. Já fazia mais de dois anos que a mulher pediu socorro na hospedaria e lá ficou dormindo com o Zé fugida de Durango. No começo as noites eram de vigília e os dias de pavor. Pela casa uma porção de armadilhas para serem acionadas caso o valentão viesse arrumar confusão. Eles sabiam que um dia esse acerto de contas tinha que acontecer, mas com o tempo que passou Zé e Mariete pensavam que o capeta já estava morto por aí, tal era sua braveza, e nem se preocupavam tanto com ele. Ninguém sabia mais dele, desde que sumiu da cidade e nem a porta da casa fechou.
— A mulher vai enviuvar é agora mesmo – disse Durango empunhando os dois revólveres em direção do Zé.
A garrucha com um único tiro estava em desvantagem, a menos que Zé fosse mais rápido. Não esperou os músculos dos dedos de Durango mexerem nos gatilhos e disparou o tiro mirado na cabeça grande de Durango. A fumaça se espalhou pela salinha e o cheiro de pólvora tomou conta de tudo. O homem caiu fazendo estrondo e o sangue escorreu pelo cimento vermelho. Zé mantinha ainda a respiração presa quando caminhou devagar até o corpo truculento e desajeitado de Durango, cutucou o valentão com a espora e constatou que morto estava o fanfarrão.
Com a zoada os hóspedes chegaram curiosos. Mariete que escondidinha via tudo, respirou aliviada e correu para os braços de Zé Cangalha que guardou a arma na cinta como sempre usou desde menino.
E assim terminou a história de Durango o capeta valentão, para começar a história de amor de Zé Cangalha e Mariete.
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