Na ESTADA de Milou, a reedição de um 'A dama e o vagabundo' tupiniquim ...

Eu nunca havia ouvido isso, mas, como nessa nossa vida há sempre uma primeira vez para tudo ...

Nas várias viagens que efetuei por este Brasil, fossem elas por motivo de serviço ou de lazer, deparei-me com ofertas de estadia em diversos hotéis, hospedarias, estalagens, etc. Nunca me ative ao fato de que, em verdade, o termo correto que deveria ser utilizado por estes ‘locais de repouso’ para contagem do tempo de permanência de um hospede teria de ser, em verdade, estada!

Meu atual MESTRE de língua portuguesa, nada mais nada menos do que um gramático Doutor em letras, com especialização na França, vai ‘à loucura’ quando se depara com estas errôneas utilizações em nossa língua.

A alto e bom som, ‘proclamou’ para uma platéia de alunos atenta e interessada, que ESTADIA, foi inicialmente utilizada para denotar o ‘estacionamento’ de navios em seus ancoradouros (originou-se do nome do local onde se procediam estes ancoradouros, ou seja, num ESTALEIRO ...). Com o passar do tempo, o uso de ESTADIA passou a ser utilizado também quando se queria ‘guardar’ veículos automotores, tais como: carros, motos, ... Prosseguiu-se utilizando o termo para animais, inicialmente de grande porte (bois, cavalos, vacas, ...). Posteriormente, também para animais de pequeno porte, depois plantas até chegar-se na época atual a ‘sites’ de informática.

Portanto, é perfeitamente lícito se dissermos que será cobrada ESTADIA em um Haras pela permanência de um cavalo por lá; pela permanência de um gato em um ‘hotelzinho’ para animais; pela permanência de uma samambaia em um jardim botânico e até pela ‘guarda’ de um site por uma empresa especializada em salvaguardar portais informáticos!

Como vimos, seres humanos não foram ‘enquadrados’ no uso da palavra ESTADIA.

Já para nós, seres humanos, o termo que deve ser definitivamente utilizado é ESTADA, que foi oriundo de estância (No Aurélio: s.f. Lugar onde se está; morada, residência, mansão. / Parada, pouso, estação. / Ancoradouro. / Depósito de madeiras, lenha, carvão. / Bras. (S) Fazenda para a criação de gado. / Bras. (N) Barracão, cortiço. / Bras. (SE) Estação de água mineral. / Poética O mesmo que estrofe e estança.).

Portanto, é perfeitamente lícito se dissermos que será cobrada ESTADIA em um Hotel, no valor de R$ 500,00 a diária!

Após tudo isso, adveio a história de Milou, a dama tupiniquim que se apaixonou por um vagabundo!

Aquela família muito abastada resolveu fazer uma longa viagem, que incluía passeio nos Alpes suíços, Egito, Índias, Israel …

A madame, apesar de muito constrangida, resolveu deixar hospedada em um conceituado hotelzinho para animais, seu mimo de cadelinha (que chamava de filha e que tinha um tratamento equivalente a …).

Recebida com muita ‘pompa’ pelos responsáveis pelo hotelzinho, a ‘pequena’ Milou foi lá deixada sob muitas recomendações para que tivessem cuidado com ela e até com algumas lágrimas derramadas no momento da ‘separação’!

É de bom teor frisar-se que a referida cadelinha era ‘um mimo só’! Minúscula e com pedigree, era tratada a ‘pão de ló’ pela familia …

Os dias transcorreram dentro da normalidade que imperava naquele receptáculo de animais ‘valiosos’.

Convém ressaltar que o proprietário do hotelzinho em questão era um renomado veterinário, que primava em manter-se sempre em ‘política de boa vizinhança’ com os proprietários das autênticas jóias que eram confiadas à proteção de seu estabelecimento e fazia questão que as coisas por lá não fugissem de seu controle absoluto.

De relevante, houve o episódio de um atropelamento ocorrido em frente à clínica-hotel, envolvendo um maltratado vira-latas que vivia perambulando pelas cercanias já há algum tempo.

O pobre animal, com sérias escoriações por todo corpo ficou abandonado à mercê de sua própria sorte muito próximo à entrada principal do hotelzinho.

O doutor veterinário, compadecido pela situação na qual encontrava-se o animal, ordenou que o recolhessem e fizessem um trabalho rotineiro com o fito de minimizar suas agruras. Houve necessidade de imobilização radical das patas do ‘atropelado’, seriamente atingidas no abalroamento, além de curativos vários por várias partes de seu ‘maltratado corpo’.

Pela lamentável situação na qual encontrava-se o animal, houve por bem o proprietário mantê-lo ‘hospedado’ por lá por algum tempo, até que ele tivesse condições de ser colocado novamente em sua peregrinação pelas ruas ...

Obviamente, não contou o ‘acudido ser’ com as regalias próprias daqueles ‘hospedados’ pelas vias normais de fato e de direito! Improvisaram os ‘atendentes’ um local fora do ‘habitat’ dos lá ‘hospedados’ e que possuíam pedigree e lá ‘depositaram’ o infeliz ‘vagabundo’.

Os dias transcorreram velozmente e, numa manhã em que o veterinário adentrava sua propriedade de ESTADIA de pequenos animais, teve sua atenção chamada para um movimento estranho que acontecia no local onde se encontrava o ‘hóspede bastardo’. Com bastante cuidado, quase ‘pé ante pé’, o doutor aproximou-se do local e, quase teve uma síncope cardíaca com a cena que presenciou!

Aconchegada entre as patas devidamente ‘gessadas’ do ‘vagabundo atropelado’ achava-se ‘toda lânguida’ a mimosa Milou!

Com seu ímpeto inicial, o doutor veterinário teria, literalmente, agredido com chutes e pontapés aquele ser ‘mal agradecido’ que havia auxiliado e dado guarida e proteção, porém, racionalmente, como só compete àqueles que têm domínio pleno sobre seus atos e também agradecido por não haver tido maiores conseqüências aquele ato ‘impensado’ da mimosa cadelinha, aproximou-se ‘de mansinho’ e gentilmente retirou a mimosa Milou dos braços, que esboçou um breve desapontamento por ser ‘guindada’ da posição na qual demonstrava sentir-se bastante prazerosa!

Tão logo houve a recuperação do ‘bastardo hóspede’, tratou o doutor veterinário de devolvê-lo às ruas, fazendo questão de levá-lo para local bem distante, impossibilitando um seu retorno às imediações da clínica-hotel.

Após um não tão longo tempo, retornou de sua viagem a abastada família e, de imediato, dirigiram-se ao local onde haviam deixado sua pequena ‘filhota’ hospedada!

Acertos feitos, agradecimentos mil, elogios mútuos, lá se foi a alvissareira madame levando a tiracolo, de acordo com sua própria declaração e demonstração explícita, o ‘objeto de sua devoção’!

Vale ressaltar que, passados alguns dias do episódio do ‘resgate’ da pequena Milou ‘dos braços’ do ‘vagabundo hóspede’, numa investigação efetuada pelo doutor veterinário devidamente auxiliado por um clã de colaboradores, deduziram que ela, na ‘calada da noite’, aproveitando-se de seu pequeno tamanho, esgueirava-se por uma pequena fresta que existia no portão que separava as acomodações do ‘hóspedes com pedigree’ do local onde se encontrava o já acima citado ‘vagabundo hóspede’ e ia ter com ele, quem sabe num gesto de solidariedade entre seres de mesma espécie ...

A surpresa maior ainda estava por vir ...

Passados uns dois meses desde o retorno da abastada família de sua viagem, eis que a madame retornou a clinica-hotel levando a tiracolo a pequena Milou. Como de praxe foi levada imediatamente à presença do doutor veterinário que foi informado da preocupação existente por parte da senhora, haja vista haver notado que sua pequena ‘filhota’ estava ‘um pouco gordinha’ e que ela estava ‘preocupadíssima’ pois poderia ser alguma virose ou coisa semelhante que havia acometido a ‘menina’, ocasionando algum inchaço. Foi tranqüilizada pelo doutor, que disse que faria um exame superficial na ‘donzela’ e que, logo em seguida, poderia dar um diagnóstico definitivo sobre o que estaria ocorrendo.

O doutor levou imediatamente Milou para a sala de exames, já com uma terrível suspeita que assolava sua mente. Não foram necessários mais do que alguns minutos para que sua suspeita fosse confirmada: A pequena e mimosa Milou estava ‘prenha’!

Embora receoso com a forma de recepção que tal noticia pudesse ter da parte da futura ‘vovó’, o doutor fez sua obrigação e anunciou o veredicto de seu exame.

E tudo o que temia se concretizou. A madame, desmanchando-se em lágrimas acusou frontalmente o doutor de ineficácia em suas atribuições, pois ela havia confiado-lhe a guarda de sua ‘donzela’ garotinha e lá estava ela agora, ‘prenha’ sabe-se lá de que tipo de parceiro!

Literalmente, ‘engolindo em seco’, o doutor viu-se na obrigação de confessar que tinha uma desconfiança do que poderia ter ocorrido com a mimosa. Acuado como se encontrava, narrou o episódio das ‘escapadas’ noturnas de Milou para encontros furtivos com o vira-latas bastardo, levando a madame a um desespero que beirou uma comoção. Chorando, esbravejava que ainda não passava por sua cabeça ‘entregar’ sua pequenina para cruzamento, pois ela não estava ainda preparada para ser mãe e nem ela própria preparada para ser avó! Ainda mais, ter cruzado com animal sem qualquer estirpe ... E que iria processar a clínica e por conseqüência seu proprietário ...

Nem quis obter do doutor os procedimentos que teria de seguir para propiciar um bom seguimento da gravidez de sua ‘descendente’, alegando que iria procurar outro local ‘mais confiável’ ...

Prometeu e cumpriu ...

Passados alguns dias, o doutor veterinário recebeu uma intimação que deveria comparecer para uma audiência sobre caso de um ‘relapso profissional’ que havia cometido.

E a ‘coisa’ foi parar nas ‘barras dos tribunais’, sendo que o advogado contratado pela família abastada fazia questão de, em suas petições e falas, tratar a pequena Milou como se fosse parte integrante da família, utilizando de verbetes próprios para o tratamento de seres humanos, como por exemplo, quando nos autos fez constar que:

“... deixada a senhorita Milou para que fizesse uma ESTADA de alguns dias hospedada na clinica-hotel do Doutor Mister X, não tivesse a devida vigilância e sofresse ‘abuso sexual’ de um ‘desqualificado’ vira-latas, introduzido na clinica em questão por desleixo da direção ...”.

E seguiu, nos Direitos:

“... desta forma, vem a família da ‘ultrajada’ requerer o competente ressarcimento dos danos causados à sua honra, em virtude deste desleixo imiscuído de muita incompetência...”.

Ao final do processo, foi dado ganho de causa à requerente, tendo o acusado de arcar com todas as despesas relativas aos gastos oriundos pelo pré-natal, parto, pós-parto da parturiente, bem como ao pagamento de uma vultosa quantia pela responsabilidade sobre o ocorrido.

E a Milou, felicidade estampada na face, amamentava o seu ‘monstrengo’ filhote, que mesmo sem a presença do pai e com certo ‘desprezo’ dos avôs, a fazia feliz e bastante realizada em seu lado mulher!

Há de se destacar que a avó abastada, fez constar no seu depoimento que nunca houvera sonhado em ser avó a partir de um parto de sua mimosa Milou e que, se assim fosse, pretendia sê-lo de um neto de estirpe, com pedigree e que, agora, de acordo com informações colhidas junto aos 'experts' em reprodução, sua ‘menina’ teria de ter ao menos ter partos ‘abortados’ para limpar seu ‘viciado útero’, possibilitando que este desejo fosse realizado!

HICS
Enviado por HICS em 03/05/2010
Código do texto: T2235116
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