VENDEDOR DE SUCATA DO CEMITÉRIO
SUCATA NO CEMITÉRIO
Não há comunidade que não tenham seus elementos pão duro. Aqueles que só abrem a mão para receber alguma coisa. Alguns chegam a comer a popa da banana no almoço e guardar a casca para o jantar, rachar o palito de fósforo ao meio para usar duas vezes.
Conheci um destes por aqui. Foi meu conterrâneo e em vida dizia ser meu amigo. Não confiava nem na roupa que vestia. Certa vez em conversa, ele me disse que seu pesar em morrer, era não poder levar seu patrimônio. Eu lhe disse, então faces o seguinte, venda seus bens construa um tumulo bem luxuoso, e coloque a sobra no seu caixão. Ele respondeu-me: - e os ladrões?! – Eu o tranqüilizei. Pode preparar tudo, se você for primeiro que eu, troco pra você por um cheque nominal! E você pode ir tranqüilo! – Quem falou que confiarei nisso? Prefiro deixar pro meu genro, apesar dele queimar tudo em pouco tempo. - Já morreu fás tempo, não levou um centavo se quer!
Dia destes, eu fui ao cemitério, levando uma imagem de N.S.Aparecida para colocar num oratório no tumulo de meu irmão, que em vida foi seu devoto fervoroso. Tendo me esquecido de levar algo para amarrar a portinha do oratório, procurei um pedaço de arame, ali por perto para realizar meu intento. Ao me deparar com os restos de um boquêt de flores sobre um tumulo, retirei dele, um pedaço do arame que o amarrava. Ao ler a inscrição na lápide, notei que fora colocado em homenagem ao amigo acima mencionado. Aproveitando a oportunidade falei a ele lá com os meus botões. - E ai colega; do que adiantou o seu pão durismo, agora está aí, imóvel neste jazigo, e teu genro desfrutando do seu dinheiro nas pousadas, praias, e outras tantas mordomias, bem feito, quem te mandasses ser tão miserável! Se tu ainda fosses vivo talvez me negasse até esse simples pedaço de arame enferrujado, seu pão duro!
Concluído meu objetivo, voltei a casa trabalhei com normalidade esquecendo-me daquela brincadeira imaginária. Deixei o trabalho um pouco mais tarde, já perto das 22 duas horas fechei a loja e me recolhi. Bastante cansado, levei certo tempo para adormecer. Logo que o fato ocorreu, veio um sonho, e nele o malvado me cobrando o arame!
Respondi pra ele... Puxa cara! Nem depois de morto tu não abre a mão de nada... Sabe o que danado me respondeu? - Que isso rapaz! La onde eu moro tem um a quadrilha de desmanche, dona de um ferro velho, estão comprando tudo que é sucata de cemitério! Estou lavando a égua com eles, ninguem reclama de nada, e eu pego tudo que é metal valioso, velho ou novo! Dá uma nota preta. Já tenho até uma caderneta de poupança, no banco do lúcifer! Não tem conversa vá la e me devolva meu arame... Velho!Ao contrario não terá mais sossego vou cobrar todo dia!
Acordei trêmulo de susto!
Apesar não de ser tão medroso, fez uma oração para alma dele, e prometi devolver seu pedaço de arame. Mas vou aguardar um pouco mais, quero ver, se sou eu, ou ele, que está mentindo!