O DEDO ATOLADO NO OSSO
Verdadeiramente este "CAUSO" aconteceu !
Sempre fiquei ouvindo em minha casa, na roda de amigos, quando cada um contava o seu "CAUSO".
Meu marido (já falecido), sempre contava este, que também seu avô já contava também. Na fazenda, nas noites de frio, a família se reunia na cozinha da casa grande, onde um fogão à lenha os aquecia, entre um cafezinho e um "CAUSO".
Pois bem, o avõ de meu marido tinha uma grande fazenda lá para os lados de Vitória da Conquista, no Estado da Bahia. Ele era conhecido como o coronel João Brito. Dita fazenda era de muita fartura, onde só vinha da cidade o querosene para os candeeiros e o sal para a cozinha.
Frutas existiam de montão: banana, laranja, manga, etc. Café, arroz, mandioca, milho, algodão, criação de gado de engorda, vacas leiteiras, porcos, galinhas, perus, nada faltava na despensa da cozinha.
A cana-de-açúcar, no tempo da moagem, virava uma verdadeira festa. Os vizinhos se achegavam à casa do coronel, os filhos, netos e amigos que moravam em Vitória da Conquista, também vinham; os empregados da fazenda também. Era festa para muitos dias.
Tinha o coronel um compadre amigo que ficara viúvo e estava de olho em uma de suas filhas. Certo domingo apareceu o compadre todo bem vestido, montado em seu cavalo alazão, para a prosa do domingo. As horam foram passando e logo o cheiro bom da cozinha já chegava até a sala de visitas.
Dindinha, como era chamada a mulher do coronel João Brito, tinha os olhos azulíssimos. Era organizada em tudo que fazia e tinha um cuidado especial com as festas dos domingos.
Começou a preparar a mesa com muito esmero. Toalha branca, cheia de bicos e rendas, bem engomada. As rendas quase chegavam ao chão. A mesa era muito grande para poder conter todos os convidados e as iguarias, porque depois de uma boa aguardente, todos já estavam com muito apetite.
Tudo pronto à mesa, como já sabemos, com muita fartura: pirão de corredor de boi, verduras, galinha, carne de porco assado, carne de sol, etc. Todos à mesa. Faz-se uma oração e começa cada um a fazer o seu prato, entre um golinho e outro de pinga.
O compadre já estava muito vermelho com o efeito da caninha. Começou a comer com verdadeira gulodice. Eis que peleja daqui e dali para tirar o tutano do osso. Tentou com o cabo da colher, mas nada saiu. Perdendo a paciência, mete o dedo dentro do osso para puxar o danado do tutano. Para azar do mesmo, o dedo fica preso. Ele puxa o osso na beira do prato. Que nada, não saiu. Muito sem graça, colocou a mão embaixo da mesa sem imaginar que o cachorro da casa (Ferrabrás) lá estava a esperar um ossinho.
O cachorro avançou na mão do compadre. Foi aquela confusão. O compadre já não aguentava mais o dedo preso no osso. Todos ficaram pasmos ao virem a toalha vir ao chão com todos os pratos e comidas, pois na agonia em que se encontrava, o compadre levantou-se de vez da mesa e, para grande surpresa, a espora enganchou no bico da toalha e lá se foi tudo ao chão.
O compadre saiu quase às carreiras, sem se despedir de ninguém e ainda com o osso no dedo, montou seu cavalo e nunca mais apareceu.
Dizem que a vergonha foi tanta, que o mesmo foi embora para as bandas de Minas Gerais e nunca mais se ouviu falar do compadre, pois ao invés de arrumar uma noiva, arranjou uma grande confusão, que foi motivo de muitas e boas gargalhadas.
Eita cabra desajeitado !