AS AVENTURAS DE DON FACUNDO -SEGUNDA PARTE -

AS AVENTURAS DE DON FACUNDO – SEGUNDA PARTE -

Casamento com direito a festa de polaco. Três dias de festa.

A vida a dois já somava 10 anos. A fortuna só em terras somava 9.680 quadras de campo, sem contar o gado, ovelhas, tropa de cavalos e éguas, quadras de arroz irrigado e a empresa que herdara com o falecimento dos pais.

Amava Sônia Regina de forma quase que devocional. Não conseguia viver sem ela.

Mas ... tinha algo que não sabia como se desenvencilhar: carteado, jogo de osso e velório de viúva relativamente jovem.

Sua esposa sabia muito bem como controlar a mania de Don Facundo pelas cartas. Só jogava nas quintas-feiras, mas em casa. Um jantar e carteado e o máximo em dinheiro, R$ 5.000,00 e só até as duas horas da madrugada. Quanto ao jogo de osso a mesma postura. Só domingo após o churrasco e era proibido jogar a própria mulher, montaria e a sogra. Mas não sabia deste segredo funerário de Don Facundo: velório onde a viúva fosse jovem e bonita. Nem desconfiava as suas inusitadas viagens, para ver este ou aquele negócio.

E agora? O que fazer? A viúva que provara uma nova e inusitada forma de sentir mulher por completo, que havia atingido o clímax pela primeira vez, não o largaria assim de maneira tão simples.

A noite entrou pela madrugada adentro e se os pelegos tivessem ouvidos, teriam escutado a explosão contida por anos, por aquela mulher. O sol já clareava os primeiros borrões do horizonte. A chuva dera lugar ao vento frio e fino, que cortava suavemente os campos e balançava o bambuzal, provocando um farfalhar melodioso. E então Don Facundo começou novamente a pensar como se livrar da enrascada.

Tinha que voltar. Uma união de 10 anos, não poderia ser jogada fora desta maneira. Por um simples capricho, que já beirava mania doentia.

Deu a entender a jovem mulher que agora teria que tocar a vida, de forma solitária e que a sorte lhe fosse uma constante. O certo seria vender a selaria, o estoque de couro e pelegos, a casa e os poucos móveis e ir tentar a vida na cidade grande. Pois ali, não teria outra opção a que não se casar novamente com algum peão ou estancieiro viúvo e quebrado.

Um beijo prolongado resultou em um novo ato de entrega total. Estava ficando perigosa a situação. O fogo que ardia nas entranhas daquela mulher era algo inusitado. Resistiu ao máximo para se demorar mais um dia, mas sabia que tal acontecesse perderia para sempre Sônia Regina.

A tarde já vinha entrando na quarta hora, iniciando os preparativos para o dia dormir, quando chegou em casa. O cachorro Piloto o reconheceu e começou a latir o latido de boas vindas.

Na varanda florida e fresca, a mulher da sua vida o esperava.

Aquela noite fora especial. Sabia que o amor com sexo é diferente de sexo sem amor. Conhecia cada palmo daquele corpo, cada movimento e suspiro, indicando a forma, freqüência e ritmo. Os beijos suaves no início e selvagens no final davam a tônica do que viria a seguir.

E a vida continuava nas lidas do campo, de parte de Don Facundo.

Na cidade a empresa de transportes de carga e passageiros, sob a batuta de Sônia Regina.

Duas funcionárias pediram demissão. Uma auxiliar administrativa e outra responsável pelos serviços de lanches, cafezinho e chimarrão. Havia necessidade de se recompor o quadro funcional e duas novas funcionárias foram contratadas.

Em relação a auxiliar administrativa, vinha com boas recomendações. Em relação a digamos, copeira, não tinha a menor experiência, mas uma coisa era inegável, o chimarrão e os lanches eram simplesmente magníficos. No primeiro dia, conquistou a todos, com seu sorriso e lógico com um corpo de deixar qualquer eremita em estado de plena e total excitação.

Fatos estes comentados por Sônia Regina com Don Facundo durante o jantar.

Passou despercebido este fato, até que resolveram comemorar o aniversário de Don Facundo na estância. Foram convocados alguns funcionários e funcionárias da empresa de transporte de cargas e passageiros, para auxiliar nos preparativos da festa e para atender e servir os convidados.

Mesas postas, bebidas geladas, salgadinhos e lógico uma vista d’olhos nos assados de costela e carneiros.

Os funcionários e funcionárias uniformizados se esmeravam em atender os convivas, não deixavam nenhuma taça sem que uma bebida gelada fosse reposta. Gentilmente atendiam aos pedidos como – não tem uma empadinha de camarão-? E assim decorriam os momentos que antecediam o grande almoço em homenagem a Don Facundo.

Mas algo então aconteceu.

Estava mordiscando uma empadinha de palmito, quando uma das funcionárias veio preencher a sua taça com champanhe. Arregalou os olhos, sentiu um frio a percorrer todo o corpo, o suor a escorrer pela testa e mal conseguiu pronunciar a frase: Vooocê ? Que estás fazen...do aqui? Desmaiou em seguida.

Foi aquela correria. Um mal súbito? Um enfarte? Emoção demais?

A confusão se generalizou a ponto de se cogitar em suspender o almoço. Mas Don Facundo logo apareceu totalmente recuperado. Diagnóstico. Afogara-se com um farelo da empadinha...

Durante todo o almoço e no transcorrer da festa, que se prolongou até altas da madrugada, o seu olhar era de uma inquietude sem par. Sonia Regina, havia notado que algo de anormal pairava no ar.

Um desafeto? Difícil. Mas como era dado as suas manias de jogar cartas e osso, quem lhe garantiria que não houvesse participado destes jogos, quando saia para negociar por esse mundo afora?

Já ouvira falar de “causos” onde até a mulher foi objeto de pagamento de aposta perdida.

Convidados satisfeitos, abraços, votos de felicidade, saúde e muito dinheiro era o que mais se ouvia até o último sair. O relógio de carrilhão solenemente, instalado na sala de troféus batia quatro horas da manhã.

Banho quente, pijama de seda, lavanda suave e a esposa a sua espera.

Não dormiu ainda? Não está cansada depois de um dia tão agitado?

Me responda uma coisa. Porque você desmaiou quando viu aquela moça, que veio lhe servir a bebida?

Que moça? Não se faça de tatu. Eu sei muito bem com quem eu me casei. Não venha com rodeios. Quem era aquela moça? Que moça? De novo? Não se faça de bobo, vamos de uma vez quem era a chinoca?

Como sair desta camisa de onze - varas? Conhecia como ninguém suas manias e disfarces.

E ...uma luz. Olha vou lhe confessar. Em uma destas minhas viagens para comprar gado e vender arroz, me enfiei num jogo de osso e ganhei esta dita moça. O pai dela perdeu praticamente tudo e no desespero bancou a moça. Como ganhei o jogo, na primeira deu “suerte” e o pai da moça infelizmente não conseguiu uma só jogada de “suerte” e deu no que deu. Perdeu o jogo e como paga a moça. O que fazer?

Dívida de jogo é assim mesmo e em especial no jogo do osso. Só me restou pedir para que o pai da moça a trouxesse para a cidade e então ela foi trabalhar na empresa. Mas juro pelo Negrinho do Pastoreio, que nunca tive nada com ela. Nem sequer sei o nome da coitada. Nem onde mora.

A situação estava ficando mais positiva para Don Facundo, assim pensava. Então a esposa, que estava desconfiada das aventuras, levantou-se e abriu a porta do quarto de vestir. Para assombro total trazia pelas mãos a jovem viúva do finado seleiro.

Ambos se olharam de forma constrangedora. Don Facundo não acreditava no estava acontecendo.

E então? É esta a dita prenda, que você ganhou no jogo do osso? Me responda de uma vez.

Não havia como negar. Estava ali, de carne e osso. De corpo presente.

Com uma cara de pasmado, confirmou. Sim é a viúva, ou melhor, a moça do jogo do osso.

Agora sim, a situação se complicou de vez, quando a jovem viúva abriu um embrulho e dele tirou a cueca samba canção, que Don Facundo havia deixado pendurada no banheiro e que se esquecera de vestir, após aquela noite de sexo, luxúria e encantamento.

Eu sou a viúva do finado seleiro. Quanto a moça do jogo do osso, não sou eu e nem sei quem é ela.

A estas altura Sônia Regina, estava prestes a ter uma ataque de cólera.

Se a viúva do seleiro estava com a cueca de Don Facundo nas mãos, algo havia acontecido de anormal. Me explica de uma vez como é que você ficou sem a cueca?

Não havia como explicar o óbvio. Mesmo que inventasse o fogo, a roda, ou seja, lá o que for não havia uma justificativa, para uma situação tão esdrúxula como esta.

Don Facundo pensou, pensou e mais uma vez não encontrou a resposta.

Como sair desta enrascada? Era o tipo de prova “batom na cueca”. Tentar explicar o óbvio era ridículo.

Estava em jogo 10 anos de solidez matrimonial e financeira.

A estas alturas dos acontecimentos, a festa de aniversário de Don Facundo, estava com o seu epílogo assemelhado a um funeral. Por sinal em função do bendito funeral é que as coisas estavam acontecendo.

O clima estava muito tenso. A esposa a exigir explicações. Novidades como a de praticar e participar do jogo do osso, quando viajava. Mas ainda nem desconfiava dos velórios, onde viúvas novas e bonitas necessitavam de consolo e de um ombro amigo.

No caso específico, havia uma tênue ligação com o finado. Todos os apetrechos usados nas montarias, inclusive botas, botinas e pederneiras, que se usavam nas fazendas, eram fabricados na selaria do finado seleiro. A noticia que era casado com uma mulher bonita e nova, não despertava nada de especial em Don Facundo. Mas ao saber do falecimento do seleiro, as coisas mudaram e deram no que deu. Confusão.

Não havia saída plausível. Incômodo generalizado.

Uma coisa passara despercebida a Don Facundo. O presente de aniversário, que todos os anos Sônia Regina providenciava e o entregava logo após o café da manhã e de sexo bastante intenso. Isto era uma marca íntima do casal. Não lhe entregara o presente como de costume. Não fizeram sexo. Simplesmente um café sem muitas variedades, a não ser uma simples banana, um tanto mole e tão madura que estava.

E então? Perguntou lívida de raiva a esposa indignada.

Vamos responda de uma vez por todas: Como esta moça veio a trabalhar na empresa? Como esta cueca foi parar nas mãos desta mulher? Como se conheceram?

Inventar uma desculpa em forma de resposta seria uma tentativa em vão. A esposa sabia muito bem quando estava sendo enrolada. Só restava uma saída.

Pergunte a moça ai. Ela tem as respostas.

Temporariamente a situação se inverteu. Agora a esposa com a cueca de Don Facundo nas mãos, estava em desvantagem e quem passara a ser o foco das atenções era viúva.

E então aconteceu o que ninguém poderia imaginar.

Contou do acontecido em relação ao falecimento do marido, do tombo na lama, do banho e do pedido que fizera a Don Facundo. Que deixasse a cueca dele, para que pudesse fazer uma simpatia, que feita com a cueca de um estranho, ajudaria a arrumar um novo marido e por esta razão estava com a dita peça íntima do marido de Sonia Regina nas mãos e viera devolver ao dono. Mas que para a simpatia desse certo, a devolução teria de ser feita à esposa do marido vivo.

Alívio total. Em prantos se desculpou pelo transtorno, pelo mal entendido e se retirou do recinto.

Agora a situação era menos tensa.

Ainda permanecia um certo grau de desconfiança. Ligou o computador. Foi direto ao buscador e ali digitou simpatias. Como uma viúva faz para arrumar um novo marido? Várias e várias simpatias. Estava quase desistindo quando apareceu uma simpatia. Deveria ser um tanto velha, mas tinha alguma coisa de antigo, velha e ultrapassada. Mas simpatia é simpatia. Falava que era necessário roubar as ceroulas de um homem casado. Vestir e dormir com a ceroula roubada. Temporariamente. E depois entregar a ceroula à esposa do dono da dita cuja.

E naquela noite a InterNert salvou mais uma vez Don Facundo de uma das suas aventuras

Sentaram e conversaram a respeito do assunto. Você acredita que eu seria capaz de trair você? Não sabe que você é a única mulher da minha vida? Sonia Regina foi aos poucos se acalmando, menos tensa, um sorriso leve e meio maroto, era o sinal que tudo estava prestes a ser resolvido.

Deram por encerrado o episódio.

Banho tomado, loção suave, pijama de seda, barba aparada e encontrou a esposa deitada totalmente nua sobre um tapete de lã de carneiro, que havia comprado especialmente para aquela ocasião, como um presente de aniversário.

Don Facundo, não conseguia acreditar que estava acontecendo novamente uma situação vivida há poucos dias. Ficou um pouco tenso e confuso. A esposa sempre fora um pouco conservadora, nunca se dera a estas destemperanças sexuais.

A cara metade sempre fora emblemática e agora sim compreendia a razão do café da manhã: uma banana mole....

Como não houve sexo pela manhã e tão pouco o café e o presente, entendeu que a festa de aniversário já era um presente, ou seria o tapete de lã de carneiro, todo branco e macio? O sexo a estas alturas, já atravessava os limites, do ocorrido em outras datas natalinas anteriores. Estava mais apimentado.

O momento era de entrega total, o sofá estrategicamente colocado a beira do tapete, dava vazão a inúmeras fantasias e posições.

Mas nem tudo estava, digamos por terminado. O mal-entendido fora esclarecido. As escapadas para jogar osso, idem. E a nova mania de visitar viúva bonita, nova e com corpo escultural, a esposa ainda não sabia e provavelmente não viesse, a saber, nunca desta sua fraqueza.

Estavam sentados sobre o tapete saboreando um champanhe, com praticamente sem luz no ambiente, a não ser a refletida pelo enorme aquário, refazendo-se dos momentos de intenso prazer. Resolveram então tomar um banho de hidromassagem, que lhes daria, digamos, mais motivos para celebrar aquele dia, um tanto conturbado.

Demoraram mais do que era comum demorar, mais por iniciativa de Sônia Regina. Resolvera que Don Facundo lhe fizesse uma massagem com óleos essenciais de amêndoa e erva doce e que fosse bem demorado, para melhor relaxar e se entregar toda perfumada e digamos... besuntada.

Ao saírem do quarto de banho, para uma nova de envolvimento amoroso, Sônia Regina pediu para o marido fosse à frente e servisse mais uma taça de champanhe.

Estático. Qual uma estátua, mas de boca aberta. Esfregou os olhos, piscou e não acreditou.

Deitada sobre o tapete de lã de carneiro, ali estava a viúva. Nua como viera ao mundo.

Tentou pronunciar algo, olhou novamente. Não acreditava na cena, como que surrealista.

Foi quando ouviu: Gostou da surpresa?

Não fique ai parado, este é o meu presente de aniversário.

A jovem viúva levantou-se e foi de encontro ao aniversariante e sussurrou no ouvido: Feliz aniversário.

E então a noite foi regada a três. Três corpos se envolvendo, se revezando e tendo Don Facundo como mestre de cerimônia e ao mesmo tempo submisso aos desejos das insaciáveis amantes, um tanto eufóricas e atrevidas.

Desta noite quase madrugada, a vida de Don Facundo não seria mais a mesma.

E uma coisa agora ficara como que lição.

Não iria mais a nenhum velório, pois se a moda pega...

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 08/04/2010
Código do texto: T2184909