O curandeiro Stevo

Eta povo de fé é a gente do sertão! Assim nos conta Zezinho à história de Estevo, o curandeiro do lugar. Estevo era homem muito religioso e temente a Deus, e através de sua fé, curava os males de gente ou de bicho. O mais interessante de sua história de milagres, era que ele não precisava vê o objeto de sua cura, este podia estar a muitas léguas de distancia, mas o homem conseguia curá-los.

Assim foi essa história que ouvi naquela noite enluarada, na pracinha de Tapuio. Zelito tinha uma vaquinha que era muita querida, era de sua estima, dava leite que só, quando tinha comida de fartura. Quando não tinha, Zelito se virava de todo jeito para lhe alimentar, lhe dar de beber. Um dia, porém, Pindoca, esse era o nome da vaquinha, pegou uma bicheira. E a bicheira só crescia, não tinha remédio que curasse. Zelito ficou desesperado, não queria perder seu bicho. Era de dar dor a tristeza do homem. Enlouquecido com a possibilidade de Pindoca morrer, Zelito foi procurar Estevo. Andou muitas léguas até chegar à casa do curandeiro. Falou com ele:

– Ô Estevo, pelo amor de Nosso senhor Jesus Cristo, cura a bicheira de minha vaquinha.

– Pra que lados ela anda? Perguntou Estevo, com ar de santidade no olhar e simplicidade na fala.

O homem, angustiado, apontou a direção. Estevo se posicionou na direção indicada. Ficou de frente para aquela que seria curada, segundo sua idéia de cura, e começou a rezar. Rezou com muita fé, se benzeu e mandou Zelito ir embora. Sua vaca ficaria boa daqui a três dias.

Zelito foi embora aliviado, acreditando na cura. Voltou mais rápido por causa da certeza que tinha. Quando chegou a casa, correu para o curral, Pindoca já estava comendo. Três dias depois, estava curada.

No sertão é assim, as pessoas acreditam de verdade, vivem da esperança e da fé. Também, se não for assim, como viver num lugar tão castigado pela natureza? É a fé que faz homens como Zelito, Stevo, Isidoro, Jão e outros suportarem todas as necessidades e mazelas, e ainda encontrar alegria na secura da terra, encontrar frescor no calor ardente daquele sertão.