A FOME
Que desumano! Que pecado! Pobre miserável, diziam alguns transeuntes ao topar com o Sr. Elias, um pedinte que sentado à beira da calçada (junto aos seus pãezinhos já separados para o café da tarde), estendia a sua mão amarelada e sebosa para catar algumas moedinhas ou umas cédulas quando tinha sorte.
Contudo, para o seu sustento ele dispunha de alimentos bem mais nutritivos, como ele mesmo de fato nas suas auto-afirmações mencionava; já que era muito sozinho e quase sempre consigo mesmo dialogava. Além de água, café e pães, o Sr. Elias comia arroz e uma carne (digamos que de um tipo especial) quase todos os dias, que ele mesmo preparava e assava no seu fogãozinho de tijolos. Regalava-se neste cardápio, acompanhado com alguns copinhos de pinga da forte, sempre.
Deliraaaaava! Feliz estava, dormindo com a pança cheia e inchada debaixo daquele viaduto, que era a sua casa. Num recente passado, ao qual ele recordava com emoção, esse homem que fora do sítio, foi um ardiloso caçador... Agora, na necessidade e na indiferente cidade, construiu uma bela arapuca e de bairro em bairro a armava... Os gatos da redondeza pareciam ser infinitos...
Novembro/1998.