N E C R Ó P O L E
Contado pelos mais antigos moradores de AREIAS DO OESTE, aqueles que vivenciaram o período do desenvolvimento da cidade, podemos descrever:
As casas residenciais aglomeravam até à Rua Nove de Julho, estendida pela Rua João dos Santos, até as imediações da Santa Casa de Misericórdia, hoje já um Hospital, bem equipado de recursos. Inclusive essa primeira rua da cidade, seguia logo em seguida através de trilhos, entre matagais, até a Santa Cruz do Abacaxi, em direção oeste do pequeno povoado.
Não havia nenhum bairro, apenas um considerado núcleo urbano, como resultado da pequena cidade, um simples e humilde povoado, muito familiar. Tudo isso por volta dos anos de 1925.
AREIAS DO OESTE, a exemplo dos grandes, como pequenos povoados, não fugiu às regras para a fundação do seu CAMPO SANTO. Já se fazia hora desse tão necessitado espaço, reservado aos falecidos das famílias.
Parece que o Senhor Matoso, um eficientíssimo funcionário público municipal, muito intelectual, acumulava o cargo de administrador do povoado, ainda não emancipado, nas condições de Distrito de um dos municípios vizinhos. Logo, através dos seus empenhos, foi escolhido o local para a construção do PRIMEIRO CEMÍTERIO. Esse se localizava bem distante do centro urbano do vilarejo, característica de todos os logradouros públicos desta espécie de qualquer localidade, nos seus primórdios do desenvolvimento: primeiro pelo espaço grande de que se necessitava, como objetivo de se evitar superlotação futura. Segundo, ele teria como portão central voltado à principal estrada (ainda na rua) que embocava no povoado.
A área escolhida ficava logo acima do já existente Buracão, onde tudo ao seu redor eram matas fechadas, sendo uma delas derrubada. A sua metragem equivalia aproximadamente dois mil metros quadrados, pouco mais pelo padrão estipulado de um quarteirão.
Tudo jogado abaixo, em pleno solo virgem, fértil, limpo... estava preparado às futuras vidas eternas dos entres areenses. Pelas nossas pesquisas, não temos certificado qual teria sido “o defunto debutante!” Uns dizem da família Inácio Barreto, outros da família do Dr. Góes, ainda mais Felipe Inácio Filho... Aqueles mais disputados como verdadeiros historiadores de Areias do Oeste, afirmam categoricamente, ter sido um corpo não identificado, ele, encontrado nas margens do Rio da Cobra Grande (grande rio que atravessa a cidade), tido como causa morte por deficiência respiratória por afogamento. Porém essas particularidades secundárias, não marcaram época nos anais da história areense e sim, o grande benefício: um avanço como índice do progresso crescente do povoado e principalmente um CEMITÉRIO, numa metragem de dois mil metros quadrados, que revelava um excelente desenvolvimento da população.
Ouvimos dizer que a queimada da mata, antes da derrubada, foi num cair de tarde e o fogo foi uma enorme atração para o povoado. Juntou-se ao crepúsculo, fumaças escuras que misturavam à atmosfera pesada, com ar de tristeza, pois ali dias depois repousariam entes inesquecíveis. Uma segunda atração popular foi à fase do destocamento das raízes das árvores e arbustos. Populares iam buscá-las para queima nos fogões caseiros que na época eram exclusivos à lenha. Os místicos e supersticiosos, não contribuíram nessa locomoção de limpeza, interpretavam mal agouro às futuras almas que ali habitariam, elas não iriam gostar! Tudo daquela área, já pertencia a elas...
Depois de tudo arado, planado, a infra-estrutura remota estava pronta, com suas ruas em número de três verticais em paralelas que divisavam as quadras para as futuras sepulturas.
Em consequência da baixa renda econômica do Distrito, o perímetro limítrofe dessa Necrópole não foi murado. Foi construída uma cerca de arame grosso, liso, pregado por vários fios em paralelos de mais ou menos cinquenta centímetros de distância, em mourões, perfazendo toda metragem dos quatro lados dos seus limites. Os esteios de segurança (mourões) foram aproveitados dos próprios troncos das árvores quando da derrubada para tal construção.
O portão de entrada, de duas folhas de tábuas foi colocado no lado inferior da área já considerada um CAMPO SANTO. Ficava na rua um, que cruzava com a única rua em travessia, onde foi construído o necrotério. Esse centralizava o cemitério. Servia de recolhimento para os cadáveres não identificados; aos que precisava submeter às autópsias; àqueles em estágio de decomposição cadavérica, vitimados por afogamento (muito comum, devido à proximidade do imenso Rio da Cobra Grande, que atravessava a cidade, o qual atraia muitos visitantes nas suas margens, na busca de lazer e principalmente pesca); assassinatos, demais acidentes e mortes prematuras. O ambiente desse necrotério, destinado às causas de emergência, mesmo vazio era indesejável de encará-lo no seu interior, transmitia medo, nojo ou sensações estranhas... Quando ativado atraia os mais curiosos, dotados de elevada coragem. Eram os indivíduos que no dito popular, ”saiam dali sempre aumentando mais um ponto” às tragédias, procurando levar ao povoado o dom da curiosidade e dramatização dos óbitos especiais, transformando-os em casos mais sérios da realidade vitimada ocorrida.
E, o CEMITÉRIO MUNICIPAL DE AREIAS DO OESTE estava fundado e muito bem preparado para a época, dentro dos padrões de um povoado simples e com poucos recursos políticos e econômicos. Não foram constados discursos, bandas, fogos, autoridades...como ato inaugural. À espera da primeira vítima ali ele permaneceu! Gostaríamos de estar presente para ter observado como deveria ter sido o primeiro enterro!... Infelizmente não temos em mãos esse evento marcante, por mais que levantássemos nossas pesquisas. Vale justificar que os assentamentos, mesmo nos arquivos mortos deixaram de existir, tanto no cartório civil da época, como dos registros das sepulturas perpétuas da Prefeitura Municipal de Areias do Oeste desse primeiro cemitério.
A grande maioria dos sepultamentos eram feitos em “covas”, que na interpretação popular, queria dizer: “enterrado na terra”, num espaço simples, onde plantavam flores ou simplesmente vasos com algumas espécies naturais comuns ou artificiais. Todos levavam uma “cruz de madeira”, feita pelos próprios familiares dos enterrados. Os primeiros jazigos oficializados como “carneiros”, feitos de tijolos e gavetas “boca de forno” foram das famílias Vellares, Souza Almeida e Ignácios; em consequência disso é que há aqueles que falam, ter sido um ente dessas famílias, os primeiros enterros ocorridos. Sabemos até hoje, ali exposto, que o jazigo da família Vellares, tem um lugar de destaque, logo na entrada oficial, pelo lado direito, constituído por uma antiga “capelinha”, rodeada de gavetas para sepultamentos. –Seriam realmente os primeiros defuntos?... –Não sabemos!...
Uma das quadras do cemitério estava reservada para os “anjinhos”, porque ali arrebanhavam corpos de criança de todas as idades. A mortalidade infantil era grande naquela época! Ainda não havia chegado as “vacinas” e os recursos na manutenção da saúde eram precários e deficientes. Tudo muito primitivo.
Mesmo com a derrubada da mata, que veio dar lugar ao CAMPO SANTO, algumas árvores insistiram em brotar e foram comuns algumas espécies permanecerem naquele interior. As que se destacaram foram às chamadas “árvores choronas”, de galhos pendentes e com o movimento do vento emitia um som estranho, triste, assombrado para os contadores dos efeitos sobrenaturais. Sem contar os tatus que faziam as suas tocas entre as sepulturas e urubus eram vistos no arames das cercas. Era um cenário, além de fúnebre, um tanto de terror, mesmo levando em abono o naturalismo de uma época de desenvolvimento de um povo, preso aos costumes primitivistas. Com certeza algumas aves canoras, coloridas, delicadas, de belas plumagens...lagartos, bichinhos, insetos...também circulavam pelo primeiro cemitério de AREIAS DO OESTE. Evidente que os místicos ou voltados ao ocultismo do terror, viam somente os animais de mal agouro. Imaginamos que as populares e nocivas baratas, hoje comuns nas entradas e saídas dos cemitérios da atualidade, ainda não tinham as suas tocas nesse novo cemitério! Não havia muitas sujeiras, poluição e contaminação, tudo era muito natural e um tanto sadio! Tão menos tantos “defuntos” para serem devorados!
O velho BERNARDO parece ter o seu registro como o primeiro coveiro ou zelador desse cemitério.
As sepulturas eram consideradas de duas posses: as “permanentes” identificadas com uma placa louçada de forma ovulada, de azul com letras brancas, nelas lia-se: PERPÉTUA, o que traduzia PARA SEMPRE, ou seja, demarcavam ter sido compradas pelas famílias dos falecidos. As “transitórias” não eram compradas e sim, emprestadas, depois de sete anos a ossada do cadáver era desenterrada (caso não fosse comprada pelos familiares, no decorrer dessa carência), para colocar um próximo falecido junto à mesma cova (buraco de terra). Resumindo: as duas opções de posse das sepulturas revelavam claramente que todos os mortos “tinham que comer o capim pela raiz!” Ninguém ficava para os urubus! Ninguém ficava sem a sua “cova”! Todos tinham o mesmo direito de serem enterrados!
Pela localização do aglomerado do pequeno povoado, visitar o CAMPO SANTO ou acompanhar um cortejo fúnebre, despendia cansaço e uma boa caminhada. Diziam com forte expressão popular: - “O nosso cemitério fica no final do mundo!” Na realidade um duplo sentido: à distância da zona urbana e o lado verdadeiro era um final de mundo para aquele ser humano que estava sendo recolhido em consequência da morte.
Todos os enterros subiam por um único caminho, poucas consideradas ruas e em seguida, por uma estrada aberta em direção ao cemitério, rodeada por matos e arranha-gatos, até se chegar ao portão central do CAMPO SANTO. Essa estrada, conhecida na época como da SAUDADE, hoje é uma das principais ruas que dá aceso ao centro velho da cidade.
Muitos anos depois, o cemitério foi murado com estrutura de tijolos de alto porte, molduras sobrepostas (estilo gótico sacro), na parte superior, dando um acabamento que nos dias dia hoje pode ser considerado uma engenharia bonita do passado. Foram abertos mais dois portões laterais, bem grandes de duas folhas, no mesmo local do primeiro de madeira construído. Os três existentes montados de ferro, trabalhados em desenhos fundidos, antigos e raros.
Com o avanço e desenvolvimento rápido do povoado, depois município e nos dias contemporâneos, uma cidade quase de porte médio, o cemitério passou a ser localizado bem na zona central e urbana de AREIAS DO OESTE.
Como um dos resultados, do aumento da população, veio depois a super lotação das sepulturas, não havendo espaços ociosos para novos lotes e continuidade de se construir outros sepulcros. Daí o direcionamento para a construção de uma nova Necrópole.
E Ele se tornou um patrimônio público tradicional da cidade, levando em consideração todos os processos e fases, desde a sua fundação até os dias de hoje sendo conservado e ainda usado pelos procedentes de antigas e tradicionais famílias de AREIAS DO OESTE nos momentos derradeiros da morte.
Como todo conto vem de uma história e toda ela, de um povo, ainda esse antigo e velho CAMPO SANTO, estão lá guardando os fundadores da cidade e do próprio cemitério...antigas famílias, heróis, brancos, negros, mestres, doutores, pobres, ricos...,que também se estendem na mesma proposta cristã: UM SEPULTAMENTO DIGNO DOS QUERIDOS ENTES DE FAMÍLIA. Ele traduz tanto quanto todos os existentes em cada recanto como a ABERTURA DO RENASCER PARA UMA NOVA VIDA. Guarda no repouso absoluto para a ETERNIDADE, pessoas que fizeram parte de todas as gerações e história da querida AREIAS DO OESTE.
Essa Necrópole continua sendo PONTE DE TRAVESSIA OU TRAMPOLIM DE MERGULHO PARA A LIBERDADE DA ALMA DOS AREIENSES DO OESTE AO ACONCHEGO DA LUZ DIVINA!
Fonte: PASSARELA DE CONTOS
Conto Descritivo
Historiador:
Prof. Roangas -Rodolfo Antinio de Gaspari-
Imagens:Títulos-Lenita - Anjo Água Benta -Anjo Santíssimo
Autor das Imagens: Prof. Roangas-Rodolfo Antonio de Gaspari
Fonte: Foto...Grafando Versos Foto...Escrevendo
As casas residenciais aglomeravam até à Rua Nove de Julho, estendida pela Rua João dos Santos, até as imediações da Santa Casa de Misericórdia, hoje já um Hospital, bem equipado de recursos. Inclusive essa primeira rua da cidade, seguia logo em seguida através de trilhos, entre matagais, até a Santa Cruz do Abacaxi, em direção oeste do pequeno povoado.
Não havia nenhum bairro, apenas um considerado núcleo urbano, como resultado da pequena cidade, um simples e humilde povoado, muito familiar. Tudo isso por volta dos anos de 1925.
AREIAS DO OESTE, a exemplo dos grandes, como pequenos povoados, não fugiu às regras para a fundação do seu CAMPO SANTO. Já se fazia hora desse tão necessitado espaço, reservado aos falecidos das famílias.
Parece que o Senhor Matoso, um eficientíssimo funcionário público municipal, muito intelectual, acumulava o cargo de administrador do povoado, ainda não emancipado, nas condições de Distrito de um dos municípios vizinhos. Logo, através dos seus empenhos, foi escolhido o local para a construção do PRIMEIRO CEMÍTERIO. Esse se localizava bem distante do centro urbano do vilarejo, característica de todos os logradouros públicos desta espécie de qualquer localidade, nos seus primórdios do desenvolvimento: primeiro pelo espaço grande de que se necessitava, como objetivo de se evitar superlotação futura. Segundo, ele teria como portão central voltado à principal estrada (ainda na rua) que embocava no povoado.
A área escolhida ficava logo acima do já existente Buracão, onde tudo ao seu redor eram matas fechadas, sendo uma delas derrubada. A sua metragem equivalia aproximadamente dois mil metros quadrados, pouco mais pelo padrão estipulado de um quarteirão.
Tudo jogado abaixo, em pleno solo virgem, fértil, limpo... estava preparado às futuras vidas eternas dos entres areenses. Pelas nossas pesquisas, não temos certificado qual teria sido “o defunto debutante!” Uns dizem da família Inácio Barreto, outros da família do Dr. Góes, ainda mais Felipe Inácio Filho... Aqueles mais disputados como verdadeiros historiadores de Areias do Oeste, afirmam categoricamente, ter sido um corpo não identificado, ele, encontrado nas margens do Rio da Cobra Grande (grande rio que atravessa a cidade), tido como causa morte por deficiência respiratória por afogamento. Porém essas particularidades secundárias, não marcaram época nos anais da história areense e sim, o grande benefício: um avanço como índice do progresso crescente do povoado e principalmente um CEMITÉRIO, numa metragem de dois mil metros quadrados, que revelava um excelente desenvolvimento da população.
Ouvimos dizer que a queimada da mata, antes da derrubada, foi num cair de tarde e o fogo foi uma enorme atração para o povoado. Juntou-se ao crepúsculo, fumaças escuras que misturavam à atmosfera pesada, com ar de tristeza, pois ali dias depois repousariam entes inesquecíveis. Uma segunda atração popular foi à fase do destocamento das raízes das árvores e arbustos. Populares iam buscá-las para queima nos fogões caseiros que na época eram exclusivos à lenha. Os místicos e supersticiosos, não contribuíram nessa locomoção de limpeza, interpretavam mal agouro às futuras almas que ali habitariam, elas não iriam gostar! Tudo daquela área, já pertencia a elas...
Depois de tudo arado, planado, a infra-estrutura remota estava pronta, com suas ruas em número de três verticais em paralelas que divisavam as quadras para as futuras sepulturas.
Em consequência da baixa renda econômica do Distrito, o perímetro limítrofe dessa Necrópole não foi murado. Foi construída uma cerca de arame grosso, liso, pregado por vários fios em paralelos de mais ou menos cinquenta centímetros de distância, em mourões, perfazendo toda metragem dos quatro lados dos seus limites. Os esteios de segurança (mourões) foram aproveitados dos próprios troncos das árvores quando da derrubada para tal construção.
O portão de entrada, de duas folhas de tábuas foi colocado no lado inferior da área já considerada um CAMPO SANTO. Ficava na rua um, que cruzava com a única rua em travessia, onde foi construído o necrotério. Esse centralizava o cemitério. Servia de recolhimento para os cadáveres não identificados; aos que precisava submeter às autópsias; àqueles em estágio de decomposição cadavérica, vitimados por afogamento (muito comum, devido à proximidade do imenso Rio da Cobra Grande, que atravessava a cidade, o qual atraia muitos visitantes nas suas margens, na busca de lazer e principalmente pesca); assassinatos, demais acidentes e mortes prematuras. O ambiente desse necrotério, destinado às causas de emergência, mesmo vazio era indesejável de encará-lo no seu interior, transmitia medo, nojo ou sensações estranhas... Quando ativado atraia os mais curiosos, dotados de elevada coragem. Eram os indivíduos que no dito popular, ”saiam dali sempre aumentando mais um ponto” às tragédias, procurando levar ao povoado o dom da curiosidade e dramatização dos óbitos especiais, transformando-os em casos mais sérios da realidade vitimada ocorrida.
E, o CEMITÉRIO MUNICIPAL DE AREIAS DO OESTE estava fundado e muito bem preparado para a época, dentro dos padrões de um povoado simples e com poucos recursos políticos e econômicos. Não foram constados discursos, bandas, fogos, autoridades...como ato inaugural. À espera da primeira vítima ali ele permaneceu! Gostaríamos de estar presente para ter observado como deveria ter sido o primeiro enterro!... Infelizmente não temos em mãos esse evento marcante, por mais que levantássemos nossas pesquisas. Vale justificar que os assentamentos, mesmo nos arquivos mortos deixaram de existir, tanto no cartório civil da época, como dos registros das sepulturas perpétuas da Prefeitura Municipal de Areias do Oeste desse primeiro cemitério.
A grande maioria dos sepultamentos eram feitos em “covas”, que na interpretação popular, queria dizer: “enterrado na terra”, num espaço simples, onde plantavam flores ou simplesmente vasos com algumas espécies naturais comuns ou artificiais. Todos levavam uma “cruz de madeira”, feita pelos próprios familiares dos enterrados. Os primeiros jazigos oficializados como “carneiros”, feitos de tijolos e gavetas “boca de forno” foram das famílias Vellares, Souza Almeida e Ignácios; em consequência disso é que há aqueles que falam, ter sido um ente dessas famílias, os primeiros enterros ocorridos. Sabemos até hoje, ali exposto, que o jazigo da família Vellares, tem um lugar de destaque, logo na entrada oficial, pelo lado direito, constituído por uma antiga “capelinha”, rodeada de gavetas para sepultamentos. –Seriam realmente os primeiros defuntos?... –Não sabemos!...
Uma das quadras do cemitério estava reservada para os “anjinhos”, porque ali arrebanhavam corpos de criança de todas as idades. A mortalidade infantil era grande naquela época! Ainda não havia chegado as “vacinas” e os recursos na manutenção da saúde eram precários e deficientes. Tudo muito primitivo.
Mesmo com a derrubada da mata, que veio dar lugar ao CAMPO SANTO, algumas árvores insistiram em brotar e foram comuns algumas espécies permanecerem naquele interior. As que se destacaram foram às chamadas “árvores choronas”, de galhos pendentes e com o movimento do vento emitia um som estranho, triste, assombrado para os contadores dos efeitos sobrenaturais. Sem contar os tatus que faziam as suas tocas entre as sepulturas e urubus eram vistos no arames das cercas. Era um cenário, além de fúnebre, um tanto de terror, mesmo levando em abono o naturalismo de uma época de desenvolvimento de um povo, preso aos costumes primitivistas. Com certeza algumas aves canoras, coloridas, delicadas, de belas plumagens...lagartos, bichinhos, insetos...também circulavam pelo primeiro cemitério de AREIAS DO OESTE. Evidente que os místicos ou voltados ao ocultismo do terror, viam somente os animais de mal agouro. Imaginamos que as populares e nocivas baratas, hoje comuns nas entradas e saídas dos cemitérios da atualidade, ainda não tinham as suas tocas nesse novo cemitério! Não havia muitas sujeiras, poluição e contaminação, tudo era muito natural e um tanto sadio! Tão menos tantos “defuntos” para serem devorados!
O velho BERNARDO parece ter o seu registro como o primeiro coveiro ou zelador desse cemitério.
As sepulturas eram consideradas de duas posses: as “permanentes” identificadas com uma placa louçada de forma ovulada, de azul com letras brancas, nelas lia-se: PERPÉTUA, o que traduzia PARA SEMPRE, ou seja, demarcavam ter sido compradas pelas famílias dos falecidos. As “transitórias” não eram compradas e sim, emprestadas, depois de sete anos a ossada do cadáver era desenterrada (caso não fosse comprada pelos familiares, no decorrer dessa carência), para colocar um próximo falecido junto à mesma cova (buraco de terra). Resumindo: as duas opções de posse das sepulturas revelavam claramente que todos os mortos “tinham que comer o capim pela raiz!” Ninguém ficava para os urubus! Ninguém ficava sem a sua “cova”! Todos tinham o mesmo direito de serem enterrados!
Pela localização do aglomerado do pequeno povoado, visitar o CAMPO SANTO ou acompanhar um cortejo fúnebre, despendia cansaço e uma boa caminhada. Diziam com forte expressão popular: - “O nosso cemitério fica no final do mundo!” Na realidade um duplo sentido: à distância da zona urbana e o lado verdadeiro era um final de mundo para aquele ser humano que estava sendo recolhido em consequência da morte.
Todos os enterros subiam por um único caminho, poucas consideradas ruas e em seguida, por uma estrada aberta em direção ao cemitério, rodeada por matos e arranha-gatos, até se chegar ao portão central do CAMPO SANTO. Essa estrada, conhecida na época como da SAUDADE, hoje é uma das principais ruas que dá aceso ao centro velho da cidade.
Muitos anos depois, o cemitério foi murado com estrutura de tijolos de alto porte, molduras sobrepostas (estilo gótico sacro), na parte superior, dando um acabamento que nos dias dia hoje pode ser considerado uma engenharia bonita do passado. Foram abertos mais dois portões laterais, bem grandes de duas folhas, no mesmo local do primeiro de madeira construído. Os três existentes montados de ferro, trabalhados em desenhos fundidos, antigos e raros.
Com o avanço e desenvolvimento rápido do povoado, depois município e nos dias contemporâneos, uma cidade quase de porte médio, o cemitério passou a ser localizado bem na zona central e urbana de AREIAS DO OESTE.
Como um dos resultados, do aumento da população, veio depois a super lotação das sepulturas, não havendo espaços ociosos para novos lotes e continuidade de se construir outros sepulcros. Daí o direcionamento para a construção de uma nova Necrópole.
E Ele se tornou um patrimônio público tradicional da cidade, levando em consideração todos os processos e fases, desde a sua fundação até os dias de hoje sendo conservado e ainda usado pelos procedentes de antigas e tradicionais famílias de AREIAS DO OESTE nos momentos derradeiros da morte.
Como todo conto vem de uma história e toda ela, de um povo, ainda esse antigo e velho CAMPO SANTO, estão lá guardando os fundadores da cidade e do próprio cemitério...antigas famílias, heróis, brancos, negros, mestres, doutores, pobres, ricos...,que também se estendem na mesma proposta cristã: UM SEPULTAMENTO DIGNO DOS QUERIDOS ENTES DE FAMÍLIA. Ele traduz tanto quanto todos os existentes em cada recanto como a ABERTURA DO RENASCER PARA UMA NOVA VIDA. Guarda no repouso absoluto para a ETERNIDADE, pessoas que fizeram parte de todas as gerações e história da querida AREIAS DO OESTE.
Essa Necrópole continua sendo PONTE DE TRAVESSIA OU TRAMPOLIM DE MERGULHO PARA A LIBERDADE DA ALMA DOS AREIENSES DO OESTE AO ACONCHEGO DA LUZ DIVINA!
Fonte: PASSARELA DE CONTOS
Conto Descritivo
Historiador:
Prof. Roangas -Rodolfo Antinio de Gaspari-
Imagens:Títulos-Lenita - Anjo Água Benta -Anjo Santíssimo
Autor das Imagens: Prof. Roangas-Rodolfo Antonio de Gaspari
Fonte: Foto...Grafando Versos Foto...Escrevendo