Tromba D'agua no Gurinhém
Antes eu nunca vira nada igual, em pleno verão, no mês de outubro, um rio do nordeste botar uma cheia sem precedentes como se estivesse em pleno inverno (e inverno dos bons).
Este fato aconteceu no Rio Gurinhém pequeno afluente do rio Paraíba lá no meu Estado - Estávamos construindo uma pontezinha na PB-063, para o DER-PB., trecho Cajá x Gurinhém. - Iniciamos a concretagem da super estrutura da obra cedinho, era nosso pensamento concluir os trabalhos por volta das 22h00; quando no início da tarde, surge no horizonte pesadas nuvens de chuva, sem que ninguém esperasse o vento começou a soprar era tão forte que chegou a arrancar algumas arvores, telhados de algumas casas e as lonas dos nossos barracos. O céu em pouco tempo ficou escuro como se fosse noite, de repente desabou um forte “toró”, eram pingos tão grandes, como dizem os matutos (de encher um pote), em pouco tempo de chuva o Gurinhém dava sinais de vida, uma cabeça d’água com quase um metro de altura vinha em direção ao escoramento da ponte como se fosse uma locomotiva, trazendo toda sorte de entulho eram: baceiros, arvores, folhas, lixo e até pequenos animais pegos de surpresa no leito do rio, as águas subiam rapidamente, e em pouco tempo já apresentava uma lámina d’agua de mais de dois metros, o escorament6o da pontezinha resistia bravamente, da mesma forma que a chuva chegara fora embora como por encanto, mesmo assim, as águas do rio continuavam subindo, transformando o Gurinhém de um rio tramquilo numa verdadeira corredeira.
Passada a chuva reiniciamos os trabalhos, no final da tarde a laje estava quase concretada, com toda certeza os trabalhos estariam concluídos até as oito da noite.
- Como tudo estava correndo normalmente, resolvi ir até o barraco da cozinha para tomar um café, quando ia saindo vejo que alguns ferros da laje estavam expostos, chamo Amaro, o meu Mestre de Obras e peço para ele mandar colocar um pouco de gorda de cimento por cima dos ferros, quando retorno do café, em vez de três eram mais de oito ferros expostos, novamente chamo o Amaro e cobro uma explicação, ele me disse que pessoalmente havia executado o serviço, desconfiado peço para alguém me trazer uma linha de nylon, estendendo a mesma entre dois pontos e verifico que o escoramento estava cedendo, reúno os carpinteiros e fomos para baixo da ponte por sobre o escoramento, onde verificamos que o rio estava escavando os pés de algumas estroncas, com o auxilio de um grande macaco do tipo “Chicão”, pessoalmente iniciei e levantamento daquela parte do beiral danificado, Amaro dependurado no beiral da obra me dava instruções, em poucos minutos a laje havia voltado a sua posição normal, os carpinteiros trabalhavam rápido cravando algumas estacas no leito do rio, reforçando o escorament6o, quando me preparava para comemorar o resultado do nosso trabalho, escuto o estalo de uma madeira quebrando, a peça onde o macaco estava apoiado partira com o peso, quando dou por mim, junto com o macaco estava-nos mergulhado naquele turbilhão de águas e entulhos, a escuridão era total, vou até ao fundo do rio, voltando a tona rapidamente para respirar, dou as primeiras braçadas, olho para trás e vejo as luzes instaladas sobre a ponte se afastando rapidamente, o rio me arrastava com violência, começo a ficar apavorado, nunca fui um bom nadador, subia e descia constantemente, cada descida imaginava não haver retorno, de repente escuto uma gritaria de ambas as margens do rio, eram os operários da obra, que, como um malucos corriam portando lanternas acompanhando as águas do rio numa tentativa desesperada para me salvar, já não agüentava mais uma daquelas descidas até o fundo do rio, quando sinto alguma coisa bater nas minhas costas, me viro rapídamente me agarrando com toda a força que ainda me restava, era uma grossa corda jogada de uma das margens, enquanto isto. . .
- Ele agarrou ! - Puxa macacada !
Em questão de segundos estava em terra firma deitado nas areias macias do Gurinhém, com alguns quilos a mais, eu havia engolido um bocado daquela água barrenta.
Fui carregado em triunfo nos ombros da “pinhãozada” como um político em época de eleição. Para os operários aquilo merecia uma celebração, então, fui levado por eles até uma pequena bodega existente nas proximidade da pontezinha, onde foram consumidas várias garrafas de cana acompanhadas de “Lambú” assado, em comemoração ao meu retorno ao mundo dos vivos. . .