Hell - A Lenda do Lugar do Mal

Começa a história no pior e melhor lugar da cidade. Dependia do ponto de vista de quem via. O "Inferno" era seu nome. O inferno na Terra.

No meio de uma pequena rua, nem tão bonita e nem tão feia, de um grande lugar. Prédios e pequenas casas guerreavam sobre as calçadas, pra ver quem ficava mais "exposto". Os apartamentos eram pequenos, e abarrotados de pessoas "suspeitas" e estranhas pra maioria da população de classe média da Cidade. As casas, em sua maioria eram antigas, e abrigavam também velhas famílias. Algumas acostumadas já com a idéia do lugar, que mal ligavam em conviver ali, porém, sabiam que havia dia e hora pra se sair a noite pelas ruas. E outras, furiosas com esta situação que parecia imutável, mas que simplesmente não podiam ir pra outro lugar pra fugir dali.

O Inferno era perigoso, as noites do Inferno eram perigosas. Todo final de semana, de sexta à domingo, o Inferno enchia. Abarrotado pelos seres mais esquisitos que viviam ali e em outros vários lugares, não só da Cidade, mas como de fora dela também. E nessas noites perigosas, qualquer coisa podia acontecer nas ruas. Desde estupros até assassinatos brabos, roubos comuns ou atropelamentos, era perigoso demais pros moradores se darem ao luxo de saírem de suas casas nessas noites. Os que saíam, o faziam bem antes, e ficavam até o "clima abaixar". Os policiais ficavam de mãos atadas, parecia que nenhuma polícia impediu os arruaceiros do Inferno de fazerem sua baderna. Então, os mesmos se mantinham longe do território.

E geralmente, quem era atacado é gente "normal". Normal que eu diga, com cabelos castanhos, pretos, loiros, curtos, longos, roupas coloridas, velhos, adultos, crianças, adolescentes... Todo e qualquer tipo que não se enquadrasse no padrão do Inferno. O padrão era ainda por cima imposto pelas lojas locais. Várias lojas de roupas esquisitas pra roqueiros psicóticos, competiam com lojas de instrumentos musicais, lojas de motocicletas (o meio de transporte mais popular entre os jovens do inferno), lojas de cds das bandas mais improváveis possíveis e por fim, terminava no mundo simplório digital, as lojas de informática e cyber cafés sujos, por aí.

Um ser do inferno tinha que ter moicano, tinha que ter cabeça raspada, tinha que ter cabelos coloridos, verdes, azuis ou roxos, tinha que usar preto, calças jeans rasgadas, saias quadriculadas, cintos de rebites, spikes, correntes, espinhos por toda a parte, all stars sujos, tênis grandes destruídos pela lixa dos skates, munhequeiras suadas, blusas com os nomes mais improváveis de bandas (de "maníacos do parque", até "bananas sangrentas") e outras variedades de esquisitices não-aprovadas por estrangeiros comuns e desacostumados... E caso você não se encaixasse nesses padrões, você provavelmente seria a primeira vítima nas noites de finais de semana.

E todo o final de semana, o Inferno "pegava fogo", se o trocadilho permite dizer. De sexta, começava a noite, morria de manhã, no sábado, onde recomeçava a noite, e morria na manhã do domingo, onde a noite terminava mais cedo. Até mesmo os roqueiros impagáveis do Inferno trabalhavam, e TENTAVAM viver uma vida normal depois daquilo. E era assim, quem estava no Inferno odiava o inferno, e amava o inferno. Mas era como um vício. Ele grudava na alma, e você nunca mais soltava. Você podia ser um empresário de terno e gravata, com seu cabelo preto pra baixo... E de noite, você estava lá, no bate-cabeça, com o cabelo preto pra cima, espinhos e um bando de tatuagens que ficavam escondidas. Sim... O Inferno era assim. Os membros dele guardavam todos os demônios dentro de si, e odiavam, e amavam isso, de qualquer maneira. Mas eles nunca... Nunca deixariam seu amado inferno sozinho.

E cada vez mais o Inferno parecia encher. Na hora da entrada a fila se estendia pela rua inteira. Vários punks, góticos, grunges, metaleiros se enfileiravam, todos sujos, pintados, rasgados, perfurados por piercings variados, tentavam, e se empurravam, numa fila tumultuada, que nem aparência de fila tinha. Todos entravam lá dentro querendo se destruir... Era primeiro a sessão da bebedeira. Tinha de tudo no bar do Inferno, desde a mais simples batida, até a mais suja e perversa cachaça. Nada era chique, tudo era forte, e básico. Você bebia, e bebia, e bebia, e ficava bêbado, e vomitava, entrava em coma... Era normal. Tranquilo no Inferno, todos já estavam plenamente acostumados. A segunda sessão era a da rodinha infernal. A famosa roda do inferno... Aquilo era o liquidificador dos diabos! Ninguém entrava ali se não quisesse sair roxo ou sangrando. Nada de mosh e pogo calmos, e punks tradicionais, com simples empurrões ou chutinhos. A coisa ali fervia! Ao som de bandas de Grindcore, Grindgore, Crustcore, Metalcore, Black, Trash e Death do capeta, homens e mulheres também, todos eles se destruíam numa porradaria sem fim, do tamanho pelo menos da metade do salão do Inferno! Era impressionante... E todos seguiam a música, dum jeito místico. Quando ela ficava relaxada, eles pausavam os movimentos, e quando ela explodia... Quem não queria se ferir seriamente, era melhor ir pro bar, ou ficar nos "muros da foda". Sim, os muros da foda, a terceira sessão especial infernal. Esses muros tinham esses nomes, pois, eram neles que as pessoas se pegavam, e fodiam muitas vezes, no sentido mais trash da palavra. Homem com mulher, mulher com mulher, homem com homem, mais de duas pessoas, MUITO mais de duas pessoas, uma só... Dependia da vontade do "cliente". Mas ninguém nunca ligava... Independente do que estava acontecendo nos muros, aquilo era ABSOLUTAMENTE normal. E às vezes, acontecia nos banheiros também. Então, quem não queria entrar na brincadeira, às vezes tinha que recostar num canto e mijar ali mesmo... Além das sessões, o salão inteiro era um fumódromo. Eles fumavam cigarros, usavam algumas drogas também. Não importa. A visão das pessoas do inferno, era restritamente egoísta. Eles não davam a mínima pros alheios, e nada os interessava. A não ser o som - pra eles, a noite - pra eles, a bebida - pra eles e o seu par da noite... Óbvio que pra eles. Então, isso era ABSOLUTAMENTE normal no Inferno.

O inferno era de graça. Por isso que enchia tanto. As bandas tocavam de graça, pra puro reconhecimento, às vezes, só no inferno mesmo... Porque o lugar era famoso, então, eles vendiam seus CDs demos por lá mesmo e estava ótimo. A única coisa que o "invisível" homem dono do inferno ganhava, devia ser com as bebidas e os cigarros que vendiam lá. Às vezes surgia também um vendedor de CDs pirateados, com camisas, e outros acessórios pros membros ficarem mais com a "cara" do Inferno.

Bom, com essas várias explicações, já deu pra ver que o Inferno é um lugar mágico, cheio de bondade e amor. E é com esse argumento puro e verdadeiro, que terminamos essa introdução de merda...

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999. Paralelepípedo

- EI, PESSOAL! NÓS SOMOS OS "MORTOS VIVOS QUE COMEM CÉREBRO"! E NÓS VAMOS FUDER ESSA MERDA!!! - O vocalista, um careca de alargadores berrou no micro, e todo mundo começou a gritar de êxtase.

A roda começou estourando, enquanto o vocalista dava uns berros que lembrava um porco no cio. Trepando, é claro...

Em falar em trepar, o "muro da foda", estava cheio hoje. Duas lésbicas se comiam, e uns marmanjos otários (deviam ser um bando de noobs), olhavam babando. Eles tentavam se aproximar, e elas os xingavam e tacavam garrafas, rindo deles e mandando dedos do meio e "vai se fuder". Hahaha! Se ferraram os otários! Como se as lésbicas fossem mesmo querer um macho no meio delas... Aff! Noobs desgraçados! Devem ser estrangeiros, não devem... Conhecer nada do Inferno. Essa porra de lugar de bosta.

- Todd! - Ela disse, a ruiva. Linda e gostosa. Abriu uma garrafa de cerva pra mim, geladona. A minha favorita. - Tá comendo quem com o olho?

- Você... - Eu soltei, enquanto golava a cerva. - Só consigo isso...

- Seu mentiroso de merda! Hahaha! - Ela soltou, e foi atender um otário qualquer.

Mas é sério. Larissa. Ela era a mulher que eu sempre quis pra mim, desde meu dia de Noob no Hell. Sim, eu já fui um noob. Ser um noob é como nascer, todo mundo já passou por isso! Mas graças a QUALQUER COISA, eu era um Noob, até que espertinho, se é que isso existe.

-:- FLASHBACK -:-

No meu dia de Noob, eu não passava de um roqueiro que morava na Cidade ao lado, que veio visitar o inferno. Eu era fã da banda "Torradeiras elétricas", e eu fui ver o show da banda por lá... Eles viviam tocando lá. Eu cheguei com uma blusa dos Torradas, e com meu cabelo ainda acastanhado. Sentei no bar, achando a roda um absurdo de tão violenta. E então, tive a visão do paraíso - se ele existisse - Larissa. Já era linda e ruiva, desde aquela época. Larissa, puta corpão, ruiva de mente e alma, olhos verdes, um tanto queimada de Sol, coisa que era rara por ali... Nossa! Que gata!

- Oi... Me vê uma cerva... - Eu pedi, todo besta, olhando praquela Deusa, e ela apenas sorriu.

- Hm... Só isso? Você é meio frouxinho né? - Ela disse, e riu. Pegou um copo de Whisky, colocou alguma outra bebida estranha dentro, encheu de gelo, e pôs pra mim. - Toma. Essa é por conta da casa, Noob.

- Hm..? Eu sou o que? - Perguntei confuso, não sabia que porra era Noob na época.

- Noob. Você é um novato no inferno, é visível... - Ela disse, e sorriu de novo, derreti.

- Como sabe que é minha primeira vez? - Perguntei, e dei uma olhada no show dos Torradas. Queria me aproximar do palco, mas não queria morrer.

- Quem é do Inferno reconhece quem é do inferno também... - ela disse, e complementou. - E de mais a mais, quem é daqui tem pelo menos três piercings... Hahaha! você tem algum?

- Não... - Eu disse, e olhei pros meus tênis pretos sem graça.

- Então... - Ela me deu um cartão, e eu peguei. Estava escrito. "Bob furadeira - Especialista em furos, em pregos, em serras-elétricas e piercings! Visite e fure sua cara, seu corpo, sua genitália! Preços baratos e muita furadeira! Boa sorte! Estúdio em..."

- Que... Doente! - Eu disse, e comecei a rir. - E-ele não tá falando sério, não é?

- Sobre os piercings na genitália? Está! Tem muita gente que... - Ela ia dizendo, e eu a interrompi.

- Não, não. Sobre a furadeira... Auhn... Pregos...? - Eu disse, e ela começou a rir MESMO da minha cara. Eu era um noob imbecil.

- CLARO QUE NÃO! Você não captou o clima daqui... Talvez mais umas 3 vezes no inferno, façam de você um MEMBRO do inferno reconhecido. Faz assim, faz os três piercings primeiro! E... Evite os na genitália, incomoda na hora de mijar... - Ela disse, e eu fiquei assustado.

- Vo-você... tem piercings na...?!!!

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888. Sarcófagos

Não era minha primeira vez no Inferno. Eu era "gente do inferno" antes de estar lá. Eu ia andando , passeando pela rua de lá com meu skate. Meus curtos cabelos masculinos escondidos por debaixo do meu boné pra trás. Roupas largas como meninos skatistas. Eu era até bem comunzinha pro inferno, tirando o fato que, eu era uma garota, que me vestia como garoto.

Eu tinha feito uma tattoo na minha batata da perna direita, pra aparecer quando usasse bermuda pra andar de skate, escrito "Love Girls, Love Skate, Love Beer, So love HELL" (Ame garoas, ame skate, ame cerveja, então, ame o INFERNO).

As pessoas me olharam sempre com olhares estranhos e preconceituosos toda a vida. E como uma "gente do inferno", eu não dava a mínima. E isso antes mesmo de ir pro inferno. Eu ia em bares, e enchia a cara. Andava de skate em parques e comunidades. Eu havia arrumados umas namoradas, e levado elas pra casa pra transar ouvindo o som da minha banda predileta: "Clitóris". Sim, essa banda era o máximo. Formada só por meninas... E não era só isso. Eu era completamente VICIADA na vocalista da banda, Karen, ela era meu ídolo. Com ela eu me sentia uma adolescente de classe média faminta por seu artista favorito, se não fosse assim... A minha artista era uma punk, mulher, de uma banda underground totalmente desconhecida. Exceto talvez... No Inferno. E era lá que elas iam tocar, a banda Clitóris. E eu estaria lá pra assistir a minha PERFEITA vocalista.

Cabelos loiros, diferente dos meus pretos, ondulados, diferente dos meus lisos, longos, até os ombros, diferente dos meus curtos como um moleque. Ela tinha a pele branca, igual a minha, éramos branquelas e magrelas. Ela usava roupas mais femininas. Baby looks de bandas que ela curtia, tipo "Punheteiros solitários" ou "Desordem Gástrica Abusiva", bandas muito boas também. Calças jeans grudadas nas pernas, rasgadas e cheias de correntes. All stars sujos que parecia que ela nunca trocava. Já eu , usava minhas roupas largas de skatista, calças largas, bermudões, camisetas diversas, e meus bonés e toucas. Ela usava maquiagem pesada, um preto nos olhos todos, uma boca vermelha. Eu não usava nada , nem brincos. Eu era mesmo um moleque!

Eu cheguei lá, com meu skate debaixo do braço, e o porteiro me deixou entrar como se eu fosse da "família". Eu fui direto pro bar, porque vi que a banda ainda estava se arrumando no palco. E nem sombra da minha linda e perfeita "ídola". Falei com a bargirl, e pedi umas três cervejas... Sim, tudo pra mim. Depois, eu ia esquentar com uma vodca, para tomar coragem de falar com ela... Quando o show parasse ou desse uma pausa. Bebi as cervejas golando tudo, e closei no palco. Karen então apareceu, e foi arrumar sua guitarra de ataque e seu micro. Eu saí correndo pra perto do palco. Não importa, se eu morrer na rodinha, eu pelo menos termino vendo minha deusa. Se eu não morrer, e beber muito, eu vou dar porrada em muito marmanjo metido a besta!!

- Ei, colega! Quer que eu te pague um drink!? - Sério que ainda existe homem que olha pra mim, e acha que eu sou uma menininha que gosta de pinto? Putz... Que otário. - Cara... Eu curto mulheres!

- Tudo bem... Eu só quero bater um papo! - Ele disse, e eu fiquei meio desconfiada.

Sentamos juntos, e então, começamos a beber e conversar. Ele me pagou bebida, é claro, bebida de graça todo mundo aceita!

- Ok. vou abrir o jogo... Andei te observando andando de skate por aí, e quero que entre numa competição aqui na cidade do Inferno! - Ele disse, e meus olhos brilharam. Era uma maré de sorte... Não pera... ERA MESMO UMA MARÉ DE SORTE!

- OI, PESSOAL DO INFERNOOOOOOOOOOO!!! - Karen disse com aquela voz gostosa dela. - ESTAMOS AQUI PRA FAZER BARULHO TOSCO PORRAAAAA!!! AGORA, ESSA MÚSICA É PRA TODAS AS MINAS GOSTOSAS DO INFERNO!!! GROOOOOOAAAAAAAAAAAAARRRRRRR!!

"Minas gostosas?" OH MEU DEUS! KAREN É LÉSBICA!

- Cara! Podemos falar isso depois??? - Eu disse a ele, larguei meu skate com ele, e com força, empurrei os caras na rodinha. - Sai da porra da frente!

Então, com mais força, subi no palco, no intuito de dar um mosh! Mas antes que eu pudesse fazer isso... Karen, tocou meu ombro, eu a olhei.

Nossos olhos se encararam, ela abriu um sorriso expontâneo, e então... Ela me agarrou! ELA ME AGARROU NO PALCO! ME DEU UM BEIJO!!! Todos berravam com fúria na rodinha, e ela estava lá me beijando... Era o dia mais PERFEITO da minha vida.

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777. Sangue seco

A menina de moicano era famosa no Inferno. Tá, existiam muitas meninas de moicano lá. Mas nenhuma era negra, de moicano verde e branco, e dona de lindos olhos verdes. Ela era bonita de corpo também. Mas sua personalidade era difícil. Quem conseguia chegar perto de Natascha geralmente era um nada. Ela era linda, inteligente, séria... E muito disputada. E eu era uma voyeur desgraçada... Apaixonada por Natascha.

Eu entrava no clima do Inferno, mesmo sem gostar muito. Eu cortei picotado meus cabelos loiros acobreados, coloquei um piercing na sobrancelha, usei roupas sexys roqueiras e pretas... E fui atrás dela. Ela sempre na dela, andando de moto por aí. Linda demais. Séria demais. Eu levava escondida uma mini-câmera que eu possuía comigo. E entrando no Inferno tirava fotos de Natascha.

Tirava fotos dela bebendo... Sua bebida favorita era a Vodca, alguns dias, estranhamente, ela tomava uma batida de morango com côco... Com vodca, é claro. Tirava fotos dela lendo. Sim, ela lia DENTRO do inferno. Usava o balcão do lugar. E apesar da luz fraca, ela forçava a vista, e usava uma lanterninha pra ler, a lanterna era um tipo de chaveiro. Ela lia sobre ocultismo, Aleister Crowley, Eliphas Levi... Tirava fotos dela entrando na roda. Apenas três vezes isso ocorreu. Uma ela estava de olho numa garota, nas outras duas, se desentendera com um homem folgado. Natascha ficava com raiva com facilidade, tinha pouca paciência, mas ela simplesmente, não entrava numa rodinha à toa ou por diversão. Tirava fotos dela saindo com meninas... E essas eram a que mais me matavam. Meninas que eram bonitas, e que não significavam - graças a QUALQUER COISA- droga nenhuma pra Nat. Ela saía com essas meninas quando estava alta, beijava elas, trepava com elas às vezes, em seu apartamento de dois cômodos, e as largava.

Natascha trabalhou em um Cyber Café sujo, trabalhou como tatuadora e colocadora de piercings, e já foi também baterista de uma banda. Ela adorava frequentar a biblioteca municipal, e gostava de punk alternativo. Tinha muitas ideologias, mas a sua principal era ser contrária a tudo e todos. Nunca a via com nenhum parente, apenas com algumas amigas adicionais. Acredito que ela já teve uma namorada séria, que hoje em dia é uma das meninas mais putas do Inferno. Acho que depois dessa, ela resolveu não ligar pra amor... Pena pra mim.

Deu pra notar o quanto eu sou apaixonada e viciada por Natascha? Agora, o mais triste de tudo: Ela mal sabe da minha existência. Pra ela não passo de um ácaro. Mais uma idiota qualquer no Inferno. Mais uma roqueira esquisita de merda... E nem roqueira sou.

Foi num lindo dia de sol, que eu fui passear na praça que fica próxima a biblioteca, que ela passou de moto. Ela parou a moto na praça, e estranhamente... Apenas se sentou no banco. Ficou observando as crianças brincando de longe, ficou olhando o sol e as nuvens, vendo os pombos comendo. Era impressionante. Antes dela, eu achava que aqueles roqueiros do Inferno não tinham cérebro e nem emoções. Depois dela... eu estava perdidamente apaixonada. Desde então, eu fico de longe a admirando com a lente da minha câmera.

Coragem pra falar com ela? Eu não tenho. Sou tímida demais, e tenho medo que ela me rejeite. E se ela fizesse isso, eu nunca... Nunca mais poderia... Bom, então, eu acho que é muito mais proveitoso continuar meu voyeurismo de longe, apesar dele não ser muito saudável pra minha sanidade mental. Amigos mesmo já acham que eu sou maluca, eles definitivamente odeiam Natascha, e acham ela uma roqueira do Inferno, total perda de tempo. Mas eles não a conhecem como eu... Ela é... Ela é... Perfeita.

Um belo dia, eu resolvi "tirar uma folga", e saí pra outros clubes de rock, onde Natascha não estivesse. Juro que senti muita falta dela. Mas mesmo assim, aceitei beber com uma garota. A garota era sem graça e desinteressante. Nem sabia se ela era roqueira, mas pra mim pouco me importava. Ela tentou manter alguma conversação, mas ela própria falava pouco demais... E eu não estava com vontade de conversar sobre nós - Eu ou ela. Bebemos e trepamos... E não foi absolutamente nada demais. O tempo todo durante o sexo, eu só conseguia pensar em Natascha o tempo todo. Como seria bom se fosse ela quem estivesse fazendo comigo. Como seria forte seu corpo negro contra mim. Como ela seria precisa em seus ataques ativos em mim... Eu ficava louca só de pensar. Então foi isso... O encontro com aquela menina sem graça. E eu a vi mais algumas vezes, mas não tivemos mais nada. Ela bebeu um pouco comigo, mas não conversamos muito. Eu havia esquecido seu nome... Bem, não era tão importante mesmo. E o tempo, bom... Ele se passava, e mais e mais meus números de fotos de Natascha aumentavam. Ela era meu vício, absoluto e verdadeiro, e eu a desejava mais que tudo no mundo, mesmo que isso soasse possessivo, egoísta e incrivelmente brega. Ah sim! Lembrei o nome da garota sem graça... Seu nome era Thia.

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666. Abas - O desfecho

Este era o inferno. Local sujo e inferiorizado pelos que viam de fora. Mas eles mantinham o medo, e logo o respeito. A distância de noobs que mal sabiam o que aquele buraco sujo e barulhento significava. E como eles, os "membros do inferno" se portavam dentro e fora dele, em suas vidas. Como o amor podia ser tão ingênuo, a ponto de se deteriorar por umas goladas de bebida alcoólica e uns shows de bandas barulhentas e sem sentido. Como eram vazias as pessoas que mal entendiam a poesia de tanta "trasheria"...? Como eram ignorantes. O inferno fechava as portas pra quem não tivesse sua mente aberta, assim como o coração, as vontades carnais, o desejo de ter todos os desejos realizados. Sejam eles sexuais, sentimentais, comportamentais... Ou apenas por diversão. Era enorme a quantidade de demônios perdidos, se esgueirando pelos muros da foda, pela rodinha de pogo, pelo bar ou pelo palco iluminado. As meninas que pressionavam as outras no banheiro feminino, ou os meninos que não permitiam a entrada de outros no masculino. Haviam lendas de vampiros, que atacavam menininhas dentro do Inferno. O rei do inferno ria todos os dias da dominação dos povos pelas falsas crenças que de nada levariam... Como ele queria que todos pensassem que era aquilo o errado, ele era sarcástico, e se defendia com uma boa idéia do que era liberdade. Era isso... No fundo, era o que compunha sempre. O inferno era liberdade. Liberdade de seu povo, não-submisso, revoltado com o de sempre, com os costumes e com a ética. Querendo uma liberdade singular, mesmo que essa parecesse tão ruim. Ora, quando éramos pequenos aprendíamos com nossas mães, que não devíamos julgar o legume por sua cara, e sim pelo seu sabor. Não julgue um livro pela capa, você ainda não o experimentou. Pra que julgar um roqueiro do inferno, você provavelmente teria menos personalidade que ele, e continuaria sua vida toda, triste, preso, solitário, vivendo dentro dum vidro, onde não há a mais pura liberdade. A liberdade de poder ser quem se quer ser.

FIM.

AArK Kuga
Enviado por AArK Kuga em 19/03/2010
Código do texto: T2147671
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