MEU AMIGO SEBASTIÃO CRONOLOGIA
MEU AMIGO SEBASTIÃO CRONOLOGIA
A PEDRA DO COMPADRE
Garoto danado está ali, pensa o seu pai orgulhoso enquanto dirigi o seu fusquinha 1.200, ano 1968, já bem usado, pintura bege desbotado. Olha de nova para o guri deitado no colo da mãe, enche-se de mais orgulho e continua a marcha rumo à casa do compadre Antonio. O carro começa a sacolejar avisando aos passageiros qie estavam chegando. As ruas que agora acessaram não tinham asfalto, mas já já, daqui a três quarteirões estariam chegando.
Depois dos cumprimentos o compadre Antonio, padrinho de Onofrinho, nos seus quatro anos de pura inocência, coloca-o no colo e começa a contar bravatas de sua recente cirurgia.
- Tudo b em compadre, foi mesmo nos rins, você precisa ver que baita pedra estava lá dentro. Sofri mais a danada ta guardada lá dentro de um vidro em cima do guarda-roupa. Oh mulher traz lá o vidrinho pró compadre ver.
Logo o troféu da delicada operação passava de mão em mão, cada um fazendo gracejos com o delicado artefato do tamanho de uma bola de “gude”. Houve até alguém que comentara, se ela tivesse vindo da Serra Pelada, o compadre esta rico.
Mas conversa vai, conversa vem, o Compadre Antonio havia soltado o guri no chão que perambulava pelos cômodos da casa. Cafezinho servido a todos, o papo solto corria descontraído. As andanças do garoto não fora acompanhada, nem precisava com quatro anos já era quase um rapaz.
Passado alguns minutos de clima confraterno, ouvia-se um barulho como se fosse estilhaço de vidro quebrando em cima de cerâmica.
As mulheres correram a o quarto de onde veio o barulho, lá chegando viram Onofrinho sentado no chão, com vários cacos de vidro em sua volta. A dona da casa reconheceu de qual vidro eram os cacos. Era aquele que guardava a "bola" do rins do compadre. Procura daqui, procura dali e nada. Pergunta-lhe a mãe do garoto se ele não tinha visto a tal bolinha...
...e ele passando a língua nos lábios, responde:
- Doce gostoso.
Goiânia, 24 de julho de 1981.
MEU AMIGO SEBASTIÃO 1
Na vida existem fatos que a gente está sempre a lembrar. Tenho um amigo e concunhado de nome Sebastião. Ele faz aniversário em 23 de dezembro e eu em 01 de junho.
Quando passamos por essa data e logo após nos encontramos repetimos o mesmo lero.
Em dezembro:
- Jurinha eu lhe alcancei.
Em junho:
- Jurinha você me passou.
Assim vamos levando a vida em nossos encontros que se repetem pelo menos doze vezes por ano.
- Tião felicidade e longa vida para você...
Goiânia, 21 de março de 2009.
MEU AMIGO SEBASTIÃO 2
Ele tem uma mania, pedir sua opinião para as construções que faz. Às vezes a gente dá cada caminhada por Trindade a procura de suas obras.
Uma casa aqui um barracão ali e uma visita em um clube que ele insiste em fazer, refazer e ampliar.
Qualquer obra nova que ele vê na Pousada do Rio Quente ele quer fazer uma igual, tanto é que tem uma sauna que dura mais de dez anos.
Aqui eu vou fazer algo assim, o que é que você acha?
Ali eu vou fazer uma parede assim ou colocar um telhado também, o que você acha? O que é que você acha?
E a caminhada continua até ao cansaço e suadeira.
Alguns meses depois você volta à visita-lo e o convite é refeito de novo, vamos dar uma voltinha?
Repete-se todo o trajeto e as construções já terminaram ou se encontra em bom estágio.
Ai você presta atenção os palpites que ele lhe pedira anteriormente e nota que ele não seguiu nada que lhe fora sugerido fazendo tudo como ele queria.
É assim o meu amigo Sebastião.
Goiânia, 18 de abril de 2009.
MEU AMIGO SEBASTIÃO 3
Nas andanças por Trindade para visitar as suas obras, certa feita deparei com uma situação sui-generis.
- Tião eu acho que o pé direito da cozinha deste barracão está muito baixo.
- Está não eu deixei com 1,80 metros...
- Mas Tião o telhado é de cimento amianto além de ser um material perigoso, vai fazer muito calor ai dentro...
Ele pensou mediu a altura com os olhos e fez um sinal com a cabeça confirmando que de fato estava baixo.
Aproximou-se do lugar mais baixo da cozinha esticou a mão e alcançou a telha, falando:
- Tá baixo mesmo, mas não preocupa não. A casa é de aluguel e quem vai morar aqui não sou eu mesmo...
Goiânia, 19 de abril de 2009.
MEU AMIGO SEBASTIÃO 4
Há mais de dez anos morrera o seu tio o Sr. Armando Grieco e alguns anos antes o seu pai Sr, Wilson Torrano.
No velório do primeiro ficamos por muito tempo conversando e enumerando os feitos do tio inclusive a criação de uma loteria esportiva de Trindade, aproveitando esse iniciante fenômeno brasileiro, só que a loteria do Sr. Armando era só para o povo de trindade.
Como a loteria nacional era composta de treze jogos e os times a de lá também. Aí ele tinha um sério problema a cidade não tinha os vinte seis times necessários. Então ele angariava recursos montava os times que faltavam com uniformes chuteiras e tudo mais, às suas expensas.
Por toda sua vida ele bancou essa fantasia colocando-a como o TERCEIRO maior EVENTO da cidade. Perdia apenas para festa do DIVINO PAI ETERNO e para o NATAL, organizado e patrocinado por seu pai o Sr. Wilson Torrano, DISTRIBUIDO PRESENTE A TODOS OS POBRES DA CIDADE.
Após o enterro saímos juntos do cemitério e ao passar pelos murais da entrada ele bateu no meu ombro e falou:
-Jurinha prepare-se, pois por agora em diante somos nós os velhos da vez...
Goiânia, 19 de abril de 2009.
MEU AMIGO SEBASTIÃO 5.
No dia da soca de natal, em sua casa numero três, a de Goiânia, muito boa por sinal, após me perguntar se ele já me havia mostrado sua segunda TV de plasma e eu disse que sim. Não tendo nada mais para mostrar ele viu uma ducha que está a vista ao lado da piscina.
- Já viu a pressão da água da minha ducha?
- Não...
- Então vamos lá para ver como é forte...
- De fato é muito forte.
Ao sentarmos de novo comentou sobre a ducha;
- Ela é muito gostosa e fria. Como a casa é toda murada, à noite quando fechamos o portão eletrônico eu, a minha mulher e a empregada tomam uma duchada pelados...
Percebendo o meu ar de admiração completou:
- É claro cada um em horário diferente...
- Ah...
Goiânia, 04 de janeiro de 2010.
-