O BADEJO...
O BADEJO...
Theo Padilha ™
Samuel, tinha descendência árabe. Era um senhor alto, entroncado, forte, muito parecido com o ator francês Gerard Depardier. E fixou residência em Guaraqueçaba, litoral norte paranaense, junto com sua família viveu ali muitos anos. E partiu para a atividade mais rentosa que poderia por ali existir em sua época. A pesca. Era a época das gordas vacas. Ou melhor dos grandes peixes. E viveu muito feliz até o ano de 1976. Samuel tinha bons barcos de pesca. Homem corajoso que pescava em todo o litoral paranaense. E sempre vibrava com cada peixe grande que conseguia. Certa vez ele fisgou um gigante badejo, mas não conseguiu retê-lo. Era grande demais. Cerca de 80 quilos, peso que uma linha 0,37 mm, não podia sustentar.
— Maldito peixe, ainda vou pegá-lo, nem que seja a úiltima coisa que eu faça na minha vida! – esbravejou o pescador nos seus sessenta anos.
A cena lembrava o filme Moby Dick. A luta entre o velho do mar e o peixe foi sensacional. Mas desta vez não deu certo.
Como um caçador de troféus, voltou muito triste para o “costão” trazendo pequenos peixes. O barco vinha cheio. E essa pesca era colocada nos mercados de peixe que ali já existiam. Assim foi aquele dia de pescaria. No bar à noite, enquanto bebia sua cachaça, ele contava para os amigos.
— Rubens, Aroldo, Cabeleira, escutem esta: Perdi um badejo de 80 quilos, mas vou trocar de molinete e a espessura da linha. Este peixe vai ser meu, ainda nessa semana. Antes da páscoa!
— Muito bem Samuel, vamos ficar torcendo por você! – disse um.
— Nós acreditamos em você “véio”! – gritaram os outros.
Numa bela manhã do mês de março. Depois de dizer adeus para Ruth, sua esposa. Samuel partiu com o seu ajudante Dico, outro valente rapaz que o ajudava. Foram em direção à Ilha das Peças. Próximo à Ilha do Mel onde é o lugar indicado para a captura desses gigantes. Já era quase dez horas e nada conseguiam de badejos. A não ser alguns exemplares diferentes. Mas eles estavam de olho num possante badejo. O horário da volta nunca era cogitado nas pescarias. De repente, a carretilha fixada na ponta do barco deu sinal. O barco deu um solavanco. Havia fisgado alguma coisa.
— Nossa! Você viu Dico?
— Pode ser o baita! – disse Dico feliz.
— Se não for o tubarão martelo é o badejo! – respondeu Samuel, pedindo para o rapaz jogar a âncora. Depois de muita luta, pois esse peixe vai para o fundo, para o meio das pedras, como os mandis de nossos pequenos rios. Samuel conseguiu trazê-lo à tona pela primeira vez. A linha aguentou. Mais algumas rabadas e mergulhadas e o valente badejo estaça içado.
— Que maravilha! Gritou o pescador! Conseguimos! Viva!
Depois de muito esforço, sobre-humano, o badejo foi puxado para dentro do barco. Era do tamanho de Samuel. Dizem que pesou 86 quilos.
Dico fotografou Samuel, com sua velha câmara Kodak, depois Samuel fotografou Dico.
— Nós agora podemos ir embora Sr. Samuel?... Sr. Samuel!... Meu Deus responda homem! – o amigo estava agonizando abraçado ao espécime. "Nem que seja a última coisa de minha vida!", pensou o seu amigo.
Conforme dizia o relatório médico, aquele esforço causou um infarto do miocárdio Dico tocou chorando o barco para Guaraqueçaba e no crespúsculo daquele dia chegaram no trapiche. Dico, o badejo e o saudoso Samuel. Triste fim para um homem de fibra que sempre venceu. A tarde vermelha, o vermelhio sangue no barco, o silêncio sombrio, um soluço sentido, foi o ato final desse melancólico dia.
Joaquim Távora, 16 de março de 2010.
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