O ladrão de pandeiro
O caboclo quando nasce para ser safado, pode ter certeza que ele já vem pronto. O cascatinha é um desses. Se existir alguém mais pilantra que ele, me apresente que eu te dou um doce de batata doce.
E que o diga o Jorjão, que certo dia resolveu levar o Cascatinha para participar de uma churrascada com a turma lá da COHAB de Itaquera. A maioria do pessoal era parente do Jorjão. Uma linhagem de afros descendentes estilo guarda roupas de casal. Daqueles que só de olhar, o cara já se caga de medo.
O Jorjão e o Cascatinha chegaram quase na hora do almoço, quando a rapaziada já estava a mil por hora. Cachaça, cerveja e pagode. Tinha quase umas cinqüenta pessoas.
E enquanto o pagode corria frouxo, o churrasco queimava na brasa de uma enorme churrasqueira feita de um tambor, desses de duzentos litros. Tinha rango e bebida a vontade. Nem é preciso dizer que o Castinha e o Jorjão se empanturraram até o talo de tanto comer e beber. E a cada um que ia chegando o Jorjão apresentava o Cascatinha.
----Esse aqui é um mano meu lá da Vila Alpina. Gente boa. Eu o considero como se fosse um irmão. –Dizia o Jorjão aos amigos.
Há certa hora, o pessoal do pagode deu um tempinho para abastecer a pança e ai o Jorjão aproveitou para cumprimentá-los e apresentar-lhes o Cascatinha. Tinha um negrão de quase dois metros de altura que tocava pandeiro, e que ao aproximar-se deles o cascatinha pediu para dar uma olhado no instrumento.
----Rapaz! Que pandeiro bonito! –Disse ele.
----Esse é de malandro! É o melhor que tem! Não gosto de ficar falando em preço, mas é o mais caro de todos! –Respondeu o rapaz.
Adivinha! É isso mesmo! O Cascatinha já ficou de olho cumprido no pandeiro do infeliz!
As horas foram se passando e já estava começando a escurecer quando o pessoal resolveu parar a festa. Já não tinha mais nada. Acabou a carne, acabou a bebida e acabou o pagode. O pessoal deixou os instrumentos encostado a um canto da parede enquanto se despediam um do outro.
O cascatinha, não se sabe por que razão começou a apressar o Jorjão para irem embora!
----Calma Cascatinha! Deixa eu me despedir do pessoal! Não sei por que você está acelerado desse jeito!
Despediram-se rapidamente da turma e começaram a descer a escada que saia para a rua. E o Cascatinha, desesperado para chegar logo lá embaixo, se caguetou sozinho. A cada degrau que ele descia ouvia-se o chacoalhar de alguma coisa parecida com um pandeiro tocando um xaxado. Não deu outra! O negrão imediatamente olhou para o canto onde havia deixado o seu instrumento e berrou:
----Esse Filho da Puta tá levando o meu pandeiro embora!
Rapaz! Foi um perereco danado! A negraiada saiu correndo atrás do Cascatinha que despinguelou rua abaixo. Antes, porém tirou o pandeiro que havia escondido debaixo da jaqueta e o jogou no meio da rua.
Se o Cascatinha não fosse bom de corrida o pessoal tinha linchado ele. E o pior é que sobrou para o Jorjão que teve que ouvir um monte enquanto tentava se explicar com o pessoal.
O Cascatinha desapareceu e só no outro dia é que o Jorjão o encontrou ali na padaria do seu Sergio, no Largo da Vila Alpina. O Jorjão xingou pra caramba, e prometeu que nunca mais falaria com ele. Porém como o Jorjão é um cara humilde pra dendéu e não guardar rancor de ninguém, não demorou muito e logo eles ficaram de bem outra vez.