Seu Zé

__ Ê seu Zé!

__ Vai cum Deus meu fio!

Esse era seu Zé. Zé que já foi moço, sim sinhô. Ficava assim, o dia inteiro a falar bom dia, boa tarde e vai cum Deus. Eita seu Zé! Sentava no banco do passeio em frente à sua casinha de barro. Ele era só pele e algum osso. A cabeça tombava. Seu Zé dormia tanto... Mas se ouvia um passo em sua direção, levantava a cabeça. Olhava rapidamente a posição do sol e falava:

__ Vai cum Deus meu fio!

A dona Maria da Conceição morreu de picada de inseto. Seu Zé chorou nos primeiros dias. Mais era um choro contido, por baixo da pele. Mas antes do dormir, ele até pensava na esposa falecida mas logo o sonho invadia sua alma e era tudo bonito outra vez.

No sol de janeiro, a garganta de seu Zé estava muito seca. As moscas na cozinha pousavam no copo de água quente e no Zé lá fora. Em uma mistura de preguiça com sono, seu Zé foi tombando.

__ Ê meu vô.

__ O meu fio, vai cum Deus e Nossa Senhora do Rusário!

Morreu antes da lua aparecer. Pegaram o corpo, enterraram numa cova no quintal da casa de barro e trancaram as portas. Dizem que seu Zé ainda aparece cumprimentando os outros, durante a noite, quando só quem não tem medo de assombração escuta seu Zé e levanta o chapéu em sinal de respeito a um antigo morador da cidade.

D Ana
Enviado por D Ana em 10/08/2006
Reeditado em 22/01/2008
Código do texto: T213449