Atrevido.

Atrevido

O rapazote; quinze anos, na cintura a faca que o pai deu de presente no dia dos quinze. Dia úmido e abafado, na venda a mistura de cheiros; fumo, cachaça, querosene, charque e outros. Pés descalços, bombacha remangada, recostado num canto escutando os causos. O mulato entrou na venda, jeito atrevido, chapéu jogado pra nuca, sacudindo o mango; bom campeiro, domador, homem de coragem, mas muito atrevido. Disse buenas ou me espalho. A meia dúzia que ali estava respondeu, o rapaz ficou calado, o mulato olhou pra ele:

- Tu tchê! Não cumprimenta os ome? Hem cunhado?

O rapaz tremeu e respondeu:

- Cunhado... Não conheço a tua irmã e a minha não é pro teu bico.

O mulato olhou atravessado, deu um tapa no balcão:

- Um copo de canha.

O bolicheiro botou o copo no balcão, despejou a cachaça. O mulato apontou para o rapaz:

- Bebe.

- Não.

- Tô convidando; bebe.

- Não.

- Tô mandando; bebe.

- Não.

- O tu bebe ou te viro por cima...

Levantou o copo, sentiu a faca na barriga. Foi muito ligeiro; as tripas saltaram pra fora, o copo caiu...

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Zésouza
Enviado por Zésouza em 04/03/2010
Código do texto: T2120306