O LENDÁRIO KOSTELLA KID... 2.

O LENDÁRIO KOSTELLA KID... — 2

Era Domingo. A igreja não cabia mais gente. Alguns ficavam do lado de fora junto à porta principal e nas portas laterais, ouvindo o sermão de Padre Arlindo — este, numa ressaca das brabas, pois gostava de uma “branquinha”, celebrava a missa ainda meio sonolento.

Padre Arlindo falava sobre os direitos das pessoas. Mesmo naquele tempo, ele ensinava de modo prático, o respeito a todos... Numa determinada passagem de sua fala, Padre Arlindo, sem perceber, ao falar do respeito que todos deveriam ter para com as mulheres, usou uma frase que podia ser interpretada maldosamente...

— Façam como eu faço... “respeitem as velhas como as novas!”

Todos na igreja seguraram uma gargalhada, pois Kostella Kid, assentado perto do altar, olhou para trás e, todos se calaram.

Na hora da comunhão, ninguém se levantou... Padre Arlindo, tendo ao seu lado o sacristão com a patena em mãos, esperava alguém se levantar. Porém, enquanto Kostella Kid não se levantou, nenhuma pessoa arredou a bunda do banco para receber a hóstia. Ninguém se atreveu a passar na frente de Kostella Kid.

Kostella Kid era mesmo muito respeitado! Aliás, temido!

Ao sai da igreja, Kostella Kid ficou condoído ao ver um velho conhecido sem uma perna. O velho conhecido usava uma muleta, andava com dificuldade.

— O que lhe aconteceu, meu caro amigo? — perguntou Kostella Kid.

— O médico da cidade grande teve que cortar uma perna minha do joelho para baixo. O médico inté fez um preço bão... cobrou de mim duzentos réis!

— Ora, ora... que exploração! Por cem réis eu lhe cortava as duas! — frisou Kostella Kid.

— Se eu tivesse aqui eu pricurava o sinhor... mas eu tava na capitar, Belorzonte... O médico falou qui era problema de idade a dor em minha perna... e teve que cortar ela.

— Isso é conversa fiada de médico! Sua outra perna é da mesma idade, meu caro amigo, e nunca doeu... Já pensou nisso!

— Não! Nunca havia pensado nisso...

— Pois é... o mundo está cheio de aproveitadores!

— Delegado, delegado! — dizia um homem simples, parando na frente Kostella Kid.

— O que foi? Por que você esta nervoso?

— É o seguinte... meu vizinho de cerca precisava de um touro para cobrir suas vacas... as vacas delas são malhadas e meu touro é preto... se nascessem bezerros pretos todos seriam meus como pagamento, se nascessem bezerros malhados, seriam deles... só que há alguma coisa errada... só nascem bezerros e bezerras malhadas... eu estou desconfiado de que há alguma coisa errada.

— Fique tranquilo, meu caro amigo. Eu vou verificar!

Dias depois, sorrateiramente, Kostella Kid ficou de tocaia pelo mato na fazenda do vizinho suspeito.

Num dia que estava armando uma boa chuva, Kostella Kid chamou o outro vizinho e foram para a propriedade do vizinho ao lado. Kostella Kid ordenou que juntassem todo o gado no curral.

Quando a chuva começou a cai, a surpresa: o gado começou a mudar de cor... e a maioria, pretos! O vizinho pintava os bezerros para ludibriar seu amigo de cerca.

— Leve seus bezerros e bezerras — disse Kostella Kid. — E o senhor, seu malandro de uma figa — sacando seu revólver —, vem comigo ver o sol nascer quadrado!

...

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 04/03/2010
Código do texto: T2118964
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.