EURIPIM, UM DOCE DE MENINO
Quem saía pela região sudoeste de Goiânia, rumo à cidade de Guapó, precisava andar poucos quilômetros para chegar ao entroncamento que dava para uma região de pequenas fazendas que margeavam o pequeno riacho do Quebra Anzol. Numa delas, nasceu Eurípedes Ambrosio de Lima, menino doce desde o nome, que os pais logo o chamariam por Euripim.
Euripim por sua vez, desde os primeiros meses de vida, atraiu atenção das pessoas ao extremado gosto pelas coisas doces. Seus primeiros cházinhos, já com um aninho de idade, adoçados com mel, abriram sobremaneira seus contentamentos; mais tarde, antes mesmo do garoto falar, seus olhos brilhavam com a aproximação do dedo materno lambuzado em calda de doces. Por fim, crescidinho, a dentição viera-lhe sadia. Duas arcadas dentárias rijas e fortes trituravam sem piedade cocadas, pés-de-moleque e quejandos por toda a volta do dia.
Tudo ia às mil maravilhas. O menino causava admiração pela maneira como adorava e devorava doces; à medida que crescia, crescia-lhe também a compulsão por eles.
Em casa, a mãe os fazia. Euripim entupia-se comendo-os na hora, escondendo outro tanto para si, depois. Em casa dos parentes, vasculhava despensas e prateleiras buscando sua preciosa guloseima; indo às festas da vizinhança chamava atenção por avançar não só sobre as bandejas servidas, como nas encontradas por cima das mesas. Embarafustava de tal modo na frente dos convidados, saindo de mãos e bolsos cheios; amiúde, deixava alguém pelo chão na sua infrene investida rumo a eles. Atitudes então compreensivas, toleradas em casas de amigos e parentes, porém com reprimida indignação.
Certo dia, um fazendeiro, recém chegado, ofereceu uma festa aos novos vizinhos.
Como não podia deixar de ser, a prudência recomendava alertar o menino, pois, desde então, estariam em casa de estranho. Conviria evitar reprimendas.
--- Euripim, --- chamou-lhe o pai sisudo e sistemático --- todo mundo sabe da “locura” qui ocê tem prus doce. Mais vô ti avisá: se ocê aprontá na casa do seo Elia, vô acabá c’ocê. Aliais, vai ficá recumendado: ocê num vai nem cumê doce! Quando te oferecê, ricusa... fala qui num gosta, e pronto!
--- Ta bão, pai! Aquiesceu humilde. Menino de roça, dez anos, basta o pai olhar...
Recomendação feita, partiram.
A fazenda do seo Elias distava 5 Km. De carroça, a família em poucos minutos já cumprimentava os novos moradores e entrava no clima da festa.
Euripim, amendrontado pelo pai, babava sequioso pelos doces, muito embora a lembrança do currião no lombo e do pescoço torcido fossem argumentos mais fortes que o seu incontrolável desejo. Isso o reteve comportado.
Olhava, pois, com a boca, e comia sequioso com os olhos.
--- Quero não! A contra gosto, despedia uma bandeja de cartuchos de amendoins.
Mais adiante:
--- Brigado! Contrariado, dispensava por outro lado os doces de leite em pedaços.
E assim, evitando e renegando toda qualidade de doces lhe oferecida, acabou chamando a atenção da dona da casa.
--- Uai, seo Tino, admiro seu fio. É difice vê minino qui num gosta de doce! Óia qui esse é o primero!
--- Mais é anssim desde piqueno!... Nunca gostô de doce, dona Mariana!
Euripim que se encontrava de pé junto ao pai, se remoendo pela vontade de saborear toda aquela guloseima, revoltou-se com tal atitude, mas, contido pelo extremo respeito ao velho, virou a cabeça para o lado e com seu sotaque magoado falou baixinho consigo mesmo:
--- Num gosta de doce!? Óia só quem fala! Aaara, sô!... se já dei inté o c. mode doce, cumé qui num gosta de doce, gente!!!
Se o pai procurasse por ele no momento não o veria mais. Euripim, sentado num canto da cozinha, amuado, segurava o queixo com uma das mãos. A cara era de quem comeu e não gostou.
Mas não comeu!
Euripim por sua vez, desde os primeiros meses de vida, atraiu atenção das pessoas ao extremado gosto pelas coisas doces. Seus primeiros cházinhos, já com um aninho de idade, adoçados com mel, abriram sobremaneira seus contentamentos; mais tarde, antes mesmo do garoto falar, seus olhos brilhavam com a aproximação do dedo materno lambuzado em calda de doces. Por fim, crescidinho, a dentição viera-lhe sadia. Duas arcadas dentárias rijas e fortes trituravam sem piedade cocadas, pés-de-moleque e quejandos por toda a volta do dia.
Tudo ia às mil maravilhas. O menino causava admiração pela maneira como adorava e devorava doces; à medida que crescia, crescia-lhe também a compulsão por eles.
Em casa, a mãe os fazia. Euripim entupia-se comendo-os na hora, escondendo outro tanto para si, depois. Em casa dos parentes, vasculhava despensas e prateleiras buscando sua preciosa guloseima; indo às festas da vizinhança chamava atenção por avançar não só sobre as bandejas servidas, como nas encontradas por cima das mesas. Embarafustava de tal modo na frente dos convidados, saindo de mãos e bolsos cheios; amiúde, deixava alguém pelo chão na sua infrene investida rumo a eles. Atitudes então compreensivas, toleradas em casas de amigos e parentes, porém com reprimida indignação.
Certo dia, um fazendeiro, recém chegado, ofereceu uma festa aos novos vizinhos.
Como não podia deixar de ser, a prudência recomendava alertar o menino, pois, desde então, estariam em casa de estranho. Conviria evitar reprimendas.
--- Euripim, --- chamou-lhe o pai sisudo e sistemático --- todo mundo sabe da “locura” qui ocê tem prus doce. Mais vô ti avisá: se ocê aprontá na casa do seo Elia, vô acabá c’ocê. Aliais, vai ficá recumendado: ocê num vai nem cumê doce! Quando te oferecê, ricusa... fala qui num gosta, e pronto!
--- Ta bão, pai! Aquiesceu humilde. Menino de roça, dez anos, basta o pai olhar...
Recomendação feita, partiram.
A fazenda do seo Elias distava 5 Km. De carroça, a família em poucos minutos já cumprimentava os novos moradores e entrava no clima da festa.
Euripim, amendrontado pelo pai, babava sequioso pelos doces, muito embora a lembrança do currião no lombo e do pescoço torcido fossem argumentos mais fortes que o seu incontrolável desejo. Isso o reteve comportado.
Olhava, pois, com a boca, e comia sequioso com os olhos.
--- Quero não! A contra gosto, despedia uma bandeja de cartuchos de amendoins.
Mais adiante:
--- Brigado! Contrariado, dispensava por outro lado os doces de leite em pedaços.
E assim, evitando e renegando toda qualidade de doces lhe oferecida, acabou chamando a atenção da dona da casa.
--- Uai, seo Tino, admiro seu fio. É difice vê minino qui num gosta de doce! Óia qui esse é o primero!
--- Mais é anssim desde piqueno!... Nunca gostô de doce, dona Mariana!
Euripim que se encontrava de pé junto ao pai, se remoendo pela vontade de saborear toda aquela guloseima, revoltou-se com tal atitude, mas, contido pelo extremo respeito ao velho, virou a cabeça para o lado e com seu sotaque magoado falou baixinho consigo mesmo:
--- Num gosta de doce!? Óia só quem fala! Aaara, sô!... se já dei inté o c. mode doce, cumé qui num gosta de doce, gente!!!
Se o pai procurasse por ele no momento não o veria mais. Euripim, sentado num canto da cozinha, amuado, segurava o queixo com uma das mãos. A cara era de quem comeu e não gostou.
Mas não comeu!