A noiva

A noiva

Belvedere Bruno

Naquela manhã de maio, Elisabete arrumava-se para seu casamento. O vestido rosa-chá, confeccionado com tecido finíssimo, tinha apliques de organza salpicados de vidrilhos na parte superior, e a ampla saia mostrava leveza e sensualidade. O véu caía, cobrindo parte de seus cachos, entremeados de flores.

No quarto lateral, suas primas se vestiam, e Joana, a mais velha, procurava controlar o burburinho no ambiente. Havia trabalhado no vestido de Elisabete para que tudo saísse tal como a noiva sonhara. O clima era de intensa expectativa em relação ao enlace.

Elisabete havia proibido, sem mencionar razões, quaisquer presenças em seu quarto, exceto a da cabeleireira e da maquiadora. Tudo parecia perfeito. Sentia-se saída de uma daquelas maravilhosas revistas femininas que folheara por meses a fio. Surpreenderia a todos, tinha certeza.

Aproximava-se a hora H. Respirava fundo, no intuito de acalmar-se, mas o nervosismo era crescente. Não conseguia se desvencilhar do espelho. Gesticulava, sorria, como se treinasse para a sessão de fotos. Pegando o buquê, intimamente desejou que, ao jogá-lo, caísse nas mãos da prima mais jovem, Ana Lúcia. Que não fosse parar nas mãos de Joana, pois essa tinha que ficar mesmo para titia. - pensou, rindo zombeteiramente. De repente, com ar de espanto, grita:

- O que é isso no peitilho? Que coisa estranha! Parece um remendo. A maquiadora olha e, gaguejando, confirma. Elisabete começa a esbravejar, jogando objetos de encontro à porta, e logo percebe uma agitação incomum vinda do quarto ao lado, onde Joana, entre gritos e sussurros, narrava às primas o ocorrido:

- Como eu poderia dizer a ela que Petrus rasgara parte do vestido na antevéspera do casamento? Por mais que eu tenha bordado e rebordado o peitilho, ela viu o remendo. Logo ela, que desde criança tem implicância comigo. Ciumeira danada! Nem conto o que já sofri nas mãos dela... Mas, sinceramente, não entendi o comportamento de Petrus, um cachorrinho tão calmo. Teria sido o alvoroço da casa, o corre-corre? Que azar! Nem sei se vão acreditar em mim...

Elisabete, sentada sobre a cama, em choque, ainda consegue ouvir parte da narrativa e, em sua mente, o nome de Joana parece não dar espaço para mais nada, além de uma revolta desmedida.

- Desgraçada! Miserável! Vive aprontando. Como pude confiar nela justamente para fazer meu vestido de noiva? - diz, respirando fundo e mordendo os lábios. Baixando o tom de voz, como se falasse consigo mesma, Elisabete continua: - Comecei dizendo que ela era diferente das outras moças da família, cabelos crespos, baixinha e morena, enquanto a maioria era alta e loura. Sugeri, talvez influenciada por filmes, que fora deixada em um cesto diante da casa de vovó numa fria madrugada. O fato se espalhou na vizinhança e a dúvida que plantei vem persistindo através do tempo.

A maquiadora e a cabeleireira, assustadas, saem rapidamente, tomando o caminho da rua. Finalmente, Elisabete e Joana abrem a porta dos respectivos quartos e se encaram. Dos olhos de Joana, parecem sair faíscas.

No jardim, os convidados aguardam a noiva, e o padre, paramentado, se inquieta. A cerimônia já se atrasa em 45 minutos.