UM HOMEM COM A CARA DO CAPETA
Muito surdo e ranzinza o sexagenário Calisto morava à margem do córrego, cuja água movia o potente engenho de cana, onde trabalhava há mais de duas décadas. Tinha como vizinha Iracema a lavadeira da fazenda. D. Cema como era chamada, mãe de um filho único. Muito bondosa tratava o velho com todo carinho. Seu filho era o Tião que também trabalhava na fazenda junto ao Calixto. Responsável pelo carreto, ele abastecia de cana e lenha o engenho.
Todos os dias ao cair da noite o velho Calisto visitava D.Cema. Seu filho estava sempre implicando com o velho, que lá ficava até altas horas. Sua mãe sempre muito paciente o repreendia.
O velho colheu um pouco de milho e algumas abobóras, e com isso cismou em fazer a engorda de um cevado. Comprou um marrote já castrado do patrão e começou seus planos para o futuro. Assim que efetuasse a venda compraria outro e mais outro, e tempos após, teria sua independência financeira. Mudaria para a cidade pra viver com mais conforto. Esse papo tornou-se rotineiro em suas visitas ao casal de amigos. Tião já não aguentava mais, sempre que o velho mencionava o desenvolvimento do cevado, ele dizia pra si mesmo, vou roubá-lo deste velho chato!Às vezes zombava do pobre velho; mas pela surdez ele não entendia seu dizer. Cema reprimia o filho que afirmava agindo assim, estou recebendo minhas noites de insônias Provocadas por este chato!
No ponto de abate, Calixto convidou seu amigo Tião para ajudá-lo. Foi à cidade e acertou sua venda com um comerciante. Tião também andou por lá e o contratou com outro comerciante. Na madrugada seguinte com ajuda do amigo, o porco foi abatido, e suas bandas partidas colocadas na montaria emprestada pelo patrão. Uma égua de nome rosada. O velho rumou para a cidade puxando o animal, a estrada coberta por densas arvore, tornava-se um pouco escura pelas sombras. Em determinada altura ele tropeçou em um objeto, uma botina em bom estado. Experimentou deu certinho no seu pé. Pensou um pouco e disse lá com seus botões, há! Pena que seja uma só! Jogou-a a margem da estrada e seguiu. Poucos metros à frente após uma curva outra botina. Irradiando alegria imaginou, hoje é meu dia de sorte! Vou buscar a outra. Amarrou o animal e voltou em busca do outro pé. Enquanto isso, Tião apanhou a tropa despistou entrando na capoeira. E rumou para a cidade. O velho andou o dia todo até ao cair da noite e nada. Voltou à fazenda lá estava à égua com apenas seus arreios.
Revoltado com o fato, ele correu à casa dos amigos, a se lamentar dizendo isso só pode ser obra do capeta! Cema o consolou dizendo que o melhor a fazer seria ele levantar a cabeça seguir em frente. Nada melhor que um dia após o outro. Confortado pela amiga Calixto começou outra aventura com um novo cevado, desta vez com ajuda do patrão que lhe cedia à espuma da garapa retirada das taxas em apuração.
E assim outra novela para seus dois expectadores, tivera inicio. Com ele fazendo planos com seu novo investimento e lamentando a misteriosa perda do primeiro. Mas desta vez estava prevenido já havia confeccionado uma cruz de chifre e o capeta nem passaria perto. Tião muito aborrecido sempre dizia: cuidado que o capeta de rouba de novo! A mãe o repreendia ele sempre afirmando que era sua única forma de vingar suas noites mal dormidas, causadas pelo velho chato!
Seis meses se passaram tempo suficiente para o abate do segundo cevado. O mesmo procedimento do primeiro. Tião arrumou uma mascara com a cara do capeta. Ajudou o velho da mesma forma, assim que ele seguiu seu roteiro; ele atalhou na capoeira e foi esperá-lo após a curva da estrada. O velho seguia descontraido. Com a mascara na cara Tião emparelhou com a égua e sorrateiramente tirou o cabresto e o enfiou em sua cabeça, deu uma pequena tapa na cara do animal desviando-o para o mato, e seguiu acompanhando o longado do velho a balançar a corda com a qual o animal era puxado. Um pouco a frente forçou um espiro. Olhando pra trás o pobre Calixto viu sua cara de capeta, embrenhou serrado adentro correndo e gritando por tudo que era sagrado e santo! Tião pegou a tropa, vendeu o porco voltou soltando o animal com o cabresto na cabeça da sela.
Passou o dia e nada do velho aparecer. Cema ocupada com o serviço na fazenda nem tomou conhecimento da movimentação do filho. Preocupado com o desaparecimento de Calixto, ele foi à fazenda colocando o patrão a par da situação, afirmando que a égua rosada chegara à porteira da fazenda, e nem rastros do Calixto. Seu Joaquim mandou à cidade que não era tão grande revirou-a de ponta cabeça, nenhuma noticia!
A noite chegou tomada por uma tremenda escuridão e nada pode ser feito. Tião cheio de remorso não pregou o olho preocupado. De manhã reuniram todos, homens e mulheres saíram à procura do ancião. Começaram uma operação pente fino pela capoeira. Ao atravessar uma pequena vala na divisória da capoeira com o serrado, Tião se deparou com o pobre velho,deitado de costas, de olhos arregalados tomado pelo pânico com a cruz de chifre na mão direita apertada contra o coração, mortinho da Silva.
Em prantos o jovem caiu de joelhos ao lado do corpo implorando seu perdão! Mas já era tarde demais.
Seu Joaquim providenciou um sepultamento digno ao pobre velho. Inconformados, no dia seguinte Cema e o filho acompanharam o fazendeiro até o casebre onde residiu o falecido. Ao abrirem um velho baú la estava o fruto de uma vida de trabalho. O pobre velho economizara cada centavo do mísero salário que recebia. Junto um bilhete quase ilegível com os dizeres: no dia em que eu partir esse pequeno tesouro pertencerá ao Sebastião Villares, filho de Damasceno Calixto e Iracema Villares. Conforme consta nesta certidão de nascimento aqui anexada. Intrigado seu Joaquim pediu explicações a sua empregada.
E assim ela começa sua história de amor: conhecera Calisto, ambos muito jovens. Apaixonados iriam se casar, mas o destino pregara-lhes uma peça. Estavam nos preparativos finais para o enlace, quando uma grande explosão na mina calcária onde ele trabalhava, ceifou várias vidas de seus colegas e o deixou hospitalizado por mais de dois anos. Submetido às diversas cirurgias, perdeu seus órgãos genitais, que foram decepados por um fragmento de pedra, e ainda perdera oitenta por cento da audição.
Cada um seguiu caminho diferente. Vinte anos mais tarde o destino os colora frente a frente. Foram ser visinhos quase de portas.Tião sabia que o pai havia morrido em uma explosão.Cema não querendo mudar a história, pediu ao companheiro que fizesse segredo em troca não revelaria sua impotência. E como o amor entre ambos era maior que a força do destino. Selaram o pacto e juraram fidelidade até a morte. A certidão de nascimento fora Cema que passara ao seu amado como prova de um amor eterno.
Sebastião inconformado lamentava ter o pai junto de si por longos anos e nunca tê-lo amado como deveria. E a pobre Iracema alem ter seu amor impotente ao lado, teve que tolerar a implicância do filho por longos anos sem que nada pudesse revelar.
Muito surdo e ranzinza o sexagenário Calisto morava à margem do córrego, cuja água movia o potente engenho de cana, onde trabalhava há mais de duas décadas. Tinha como vizinha Iracema a lavadeira da fazenda. D. Cema como era chamada, mãe de um filho único. Muito bondosa tratava o velho com todo carinho. Seu filho era o Tião que também trabalhava na fazenda junto ao Calixto. Responsável pelo carreto, ele abastecia de cana e lenha o engenho.
Todos os dias ao cair da noite o velho Calisto visitava D.Cema. Seu filho estava sempre implicando com o velho, que lá ficava até altas horas. Sua mãe sempre muito paciente o repreendia.
O velho colheu um pouco de milho e algumas abobóras, e com isso cismou em fazer a engorda de um cevado. Comprou um marrote já castrado do patrão e começou seus planos para o futuro. Assim que efetuasse a venda compraria outro e mais outro, e tempos após, teria sua independência financeira. Mudaria para a cidade pra viver com mais conforto. Esse papo tornou-se rotineiro em suas visitas ao casal de amigos. Tião já não aguentava mais, sempre que o velho mencionava o desenvolvimento do cevado, ele dizia pra si mesmo, vou roubá-lo deste velho chato!Às vezes zombava do pobre velho; mas pela surdez ele não entendia seu dizer. Cema reprimia o filho que afirmava agindo assim, estou recebendo minhas noites de insônias Provocadas por este chato!
No ponto de abate, Calixto convidou seu amigo Tião para ajudá-lo. Foi à cidade e acertou sua venda com um comerciante. Tião também andou por lá e o contratou com outro comerciante. Na madrugada seguinte com ajuda do amigo, o porco foi abatido, e suas bandas partidas colocadas na montaria emprestada pelo patrão. Uma égua de nome rosada. O velho rumou para a cidade puxando o animal, a estrada coberta por densas arvore, tornava-se um pouco escura pelas sombras. Em determinada altura ele tropeçou em um objeto, uma botina em bom estado. Experimentou deu certinho no seu pé. Pensou um pouco e disse lá com seus botões, há! Pena que seja uma só! Jogou-a a margem da estrada e seguiu. Poucos metros à frente após uma curva outra botina. Irradiando alegria imaginou, hoje é meu dia de sorte! Vou buscar a outra. Amarrou o animal e voltou em busca do outro pé. Enquanto isso, Tião apanhou a tropa despistou entrando na capoeira. E rumou para a cidade. O velho andou o dia todo até ao cair da noite e nada. Voltou à fazenda lá estava à égua com apenas seus arreios.
Revoltado com o fato, ele correu à casa dos amigos, a se lamentar dizendo isso só pode ser obra do capeta! Cema o consolou dizendo que o melhor a fazer seria ele levantar a cabeça seguir em frente. Nada melhor que um dia após o outro. Confortado pela amiga Calixto começou outra aventura com um novo cevado, desta vez com ajuda do patrão que lhe cedia à espuma da garapa retirada das taxas em apuração.
E assim outra novela para seus dois expectadores, tivera inicio. Com ele fazendo planos com seu novo investimento e lamentando a misteriosa perda do primeiro. Mas desta vez estava prevenido já havia confeccionado uma cruz de chifre e o capeta nem passaria perto. Tião muito aborrecido sempre dizia: cuidado que o capeta de rouba de novo! A mãe o repreendia ele sempre afirmando que era sua única forma de vingar suas noites mal dormidas, causadas pelo velho chato!
Seis meses se passaram tempo suficiente para o abate do segundo cevado. O mesmo procedimento do primeiro. Tião arrumou uma mascara com a cara do capeta. Ajudou o velho da mesma forma, assim que ele seguiu seu roteiro; ele atalhou na capoeira e foi esperá-lo após a curva da estrada. O velho seguia descontraido. Com a mascara na cara Tião emparelhou com a égua e sorrateiramente tirou o cabresto e o enfiou em sua cabeça, deu uma pequena tapa na cara do animal desviando-o para o mato, e seguiu acompanhando o longado do velho a balançar a corda com a qual o animal era puxado. Um pouco a frente forçou um espiro. Olhando pra trás o pobre Calixto viu sua cara de capeta, embrenhou serrado adentro correndo e gritando por tudo que era sagrado e santo! Tião pegou a tropa, vendeu o porco voltou soltando o animal com o cabresto na cabeça da sela.
Passou o dia e nada do velho aparecer. Cema ocupada com o serviço na fazenda nem tomou conhecimento da movimentação do filho. Preocupado com o desaparecimento de Calixto, ele foi à fazenda colocando o patrão a par da situação, afirmando que a égua rosada chegara à porteira da fazenda, e nem rastros do Calixto. Seu Joaquim mandou à cidade que não era tão grande revirou-a de ponta cabeça, nenhuma noticia!
A noite chegou tomada por uma tremenda escuridão e nada pode ser feito. Tião cheio de remorso não pregou o olho preocupado. De manhã reuniram todos, homens e mulheres saíram à procura do ancião. Começaram uma operação pente fino pela capoeira. Ao atravessar uma pequena vala na divisória da capoeira com o serrado, Tião se deparou com o pobre velho,deitado de costas, de olhos arregalados tomado pelo pânico com a cruz de chifre na mão direita apertada contra o coração, mortinho da Silva.
Em prantos o jovem caiu de joelhos ao lado do corpo implorando seu perdão! Mas já era tarde demais.
Seu Joaquim providenciou um sepultamento digno ao pobre velho. Inconformados, no dia seguinte Cema e o filho acompanharam o fazendeiro até o casebre onde residiu o falecido. Ao abrirem um velho baú la estava o fruto de uma vida de trabalho. O pobre velho economizara cada centavo do mísero salário que recebia. Junto um bilhete quase ilegível com os dizeres: no dia em que eu partir esse pequeno tesouro pertencerá ao Sebastião Villares, filho de Damasceno Calixto e Iracema Villares. Conforme consta nesta certidão de nascimento aqui anexada. Intrigado seu Joaquim pediu explicações a sua empregada.
E assim ela começa sua história de amor: conhecera Calisto, ambos muito jovens. Apaixonados iriam se casar, mas o destino pregara-lhes uma peça. Estavam nos preparativos finais para o enlace, quando uma grande explosão na mina calcária onde ele trabalhava, ceifou várias vidas de seus colegas e o deixou hospitalizado por mais de dois anos. Submetido às diversas cirurgias, perdeu seus órgãos genitais, que foram decepados por um fragmento de pedra, e ainda perdera oitenta por cento da audição.
Cada um seguiu caminho diferente. Vinte anos mais tarde o destino os colora frente a frente. Foram ser visinhos quase de portas.Tião sabia que o pai havia morrido em uma explosão.Cema não querendo mudar a história, pediu ao companheiro que fizesse segredo em troca não revelaria sua impotência. E como o amor entre ambos era maior que a força do destino. Selaram o pacto e juraram fidelidade até a morte. A certidão de nascimento fora Cema que passara ao seu amado como prova de um amor eterno.
Sebastião inconformado lamentava ter o pai junto de si por longos anos e nunca tê-lo amado como deveria. E a pobre Iracema alem ter seu amor impotente ao lado, teve que tolerar a implicância do filho por longos anos sem que nada pudesse revelar.