O FEITIÇO CONTRA A FEITICEIRA MÃE MATOU FILHO
O FEITIÇO CONTRA A FEITICEIRA
A fazenda muito produtiva, grandes áreas em lavouras de subsistência e pastoris, com um volumoso plantel de animais. Muitos empregados. Seu proprietário um homem bom de grande coração. Em contra partida a esposa era o demônio em pessoa. Quem mais sofria com a situação era a cozinheira que teria que conviver com ela, por quase vinte quatro horas por dia.
Viúva mãe de um filho cujo pai morrera acidentalmente vitimado por uma descarga elétrica, provocada por um raio.
Neco seu filho, tinha a mesma idade de Juarez filho dos patrões. Sempre juntos eram carne e unha inseparáveis. Correndo como dois vitelos no vigor de sua puberdade. O riacho que cortava a fazenda onde as arvores brumadas de garças, desenhavam formas variadas sombreando suas margens era o local preferido dos dois amigos, que todos os dias, corriam a deliciarem o frescor de suas águas puras e cristalinas. Que rolavam numa ânsia de mar doce, absorvendo o límpido azul do infinito espelhado de forma exuberante, contracenando com o malabarismo do cardume de lambaris. Que disputava cada inseto e cada frutinha que o vento lhes atirava roubadas na bela paisagem.
Pelo patrão Néco poderia acompanhar a mãe vivendo Junto á ela na cozinha da fazenda. Mas perante o radicalismo da esposa nem cogitava tal fato. Alem de má era invejosa ao extremo, nutria verdadeiro ódio pelo filho da empregada, se quer permitia aproximar-se da mãe no trabalho.
Os míseros trocados que recebidos pela cozinheira mal davam para alimentar o filho.
Quando o alvor da aurora manchava o horizonte a pobre cozinheira beijava seu filho e rumava para o trabalho voltando altas horas, sempre de mãos vazias. Toda alimentação que generosamente o patrão liberava para ela levar ao garoto, a patroa tomava em suas próprias mãos e atirava aos cães da fazenda. A pobre mulher se lamentava, rogava a Deus por dias melhores, e ainda assim agradecia por estar viva. Esperançosa não se abalava em sua fé. Quanto mais tentava afastar o filho do amigo mais crescia a amizade entre ambos. Neco apesar de completar sua alimentação com as frutas de época e de sua pequena horta doméstica que ele mesmo cultivava, tornava-se a cada dia mais robusto. Enquanto Juarez acometido por problemas respiratórios se definhava, causando inveja à patroa, e um incontrolável desejo de vingança, como se ele,fora culpado pela moléstia do amigo. Periciado pela mãe Juarez, foi terminantemente proibido de aproximar do amigo.
Juntos freqüentavam a escola, com a víbora monitorando o horário de sua chegada. Mas a amizade entre ambos só não era maior que o ódio da bruxa malvada. Ao término da aula, em cujo povoado ficava a três quilolitros da fazenda; Juarez passava á casa do amigo só chegando à sua a noite. Aumentando assim Ira da mãe. Certo dia fora ela ao encontro do filho. Assustado Neco quis fugir. Fingindo amabilidade ela o convenceu a seguirem juntos, dizendo estar arrependida de seu comportamento. Que a partir do momento queria ver seu filho feliz. E que por serem tão amigos Néco aguardasse, Juarez iria com a mãe até a casa, e lhe traria um bolo como prova de sua reconciliação.
Feliz Neco aguardava ansioso, em seu pobre casebre, pela volta do amigo, enquanto isso fazia seu dever escolar, não redava os olhos da estrada na expectativa pela volta do amigo. De volta ao casebre, Juarez faminto, era tentado pelo cheiro do bolo, afinal desde manhã não havia ingerido mais nada, mas aquele era do amigo conforme recomendação da mãe. O seu estava reservado quando voltasse. Acabou não resistindo, com certeza o amigo dividia com ele aquele delicioso petisco com o maior prazer. Começou por uma biliscadinha aqui, outra ali, de repente metade do bolo tinha sido devorada.
Néco não redava os olhos da trilha, que ligava seu casebre à estrada que conduzia até a fazenda, mas nada do amigo. A tarde caía rápida coberta por um intenso nevoeiro. Preocupada com a demora, a mãe saiu à procura do filho encontrando-o pela metade do caminho, caído sobre a faisqueira do bolo, espalhadas pela trilha. O mortífero veneno destinado ao amigo dera cabo de sua vida.
Completamente louca, a patroa foi internada pelo marido em um hospício. Vindo a falecer meses após, clamando pelo nome do filho. Tônia a cozinheira, mudou com o filho para a cidade grande. Néco foi ser jornaleiro, percorrendo os bairros da cidade, a gritar: olha o “jornaleiro”... Estudou formando-se em jornalismo.
Anos mais tarde voltou à fazenda em busca de suas origens, para escrever sua própria história.
Encontrou tudo diferente seu Joaquim velhinho numa cadeira de rodas. Na sala do casarão onde poucas vezes, teve permissão para entrar, as paredes velhas enfumaçadas, com fotos de ancestrais petrificadas. Dentre elas, o casal que em silencio parecia contar a história daquela trágica e sombria tarde que sugou a vida de seu melhor amigo. No local do casebre apenas as trepadeiras vermelhas se misturando ao mata pasto, sinalizando sua histórica existência. Somente o perfume das flores, que dois amigos juntos muito aspiraram permaneceu à margem do riacho, onde as águas, espelhando a paisagem vazia, continuavam a perpetuar com sua ânsia de MAR.