A Saudação
Juvenal era um “matutão” do interior de Pernambuco, embora fosse uma pessoa quase sem instrução, era um sujeito esperto e metido a falante. O homem adorava empregar palavras difíceis, muitas vezes sem saber exatamente o seu significado. O importante para ele era falar bonito para impressionar os eleitores, que já o tratavam de “Dr. Juvenal. - Juvenal era um político inveterado, aquilo estava no seu sangue. Quando aquela “raposa velha” subia no palanque em épocas de eleições, seguia a risca um pensamento de Júlio de Camargo que diz:
“Política é a arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações” era só pegar no microfone que o homem já ia falando:
- Quando eu for eleito, prometo. . .
Em épocas de eleição, Juvenal gastava dinheiro na “medida grande” por este motivo já fora eleito por três vezes consecutivas deputado estadual e agora era o prefeito da sua cidade.
Certo dia Juvenal estava despachando no gabinete da prefeitura, quando um “Office-boy” coloca sobre a sua mesa uma série de envelopes, no meio das cartas uma chamou a sua atenção, o prefeito pega o envelope e descobre surpreso que aquela correspondência viera do Vaticano. O oficio da Santa Sé, informava que no final daquele mês, a cidade ganharia o seu primeiro Bispo, como também convidava o prefeito para fazer o discurso de saudação ao Bispo que chegava.
Juvenal não cabia em si de tanto contentamento, sua cidade agora passaria a diocese e ele teria uma ótima oportunidade de falar em público, coisa que Juvenal dava um dia da sua vida para fazer.
Normalmente, Juvenal costumava passar pelo menos uns vinte dias para preparar um discurso de improviso. A partir daquela noite a Primeira Dama da cidade perderia preciosas noites de sono, pois Juvenal tinha uma mania estranha, só sabia preparar os seus discursos de improviso, na cama e na hora de dormir. Todas as noites colocava vários travesseiros junto ao espelho da cama para se encostar e ali iniciava o seu “blá-blá-blá” em voz alta até altas horas da madrugada.
Ao cabo de quinze dias de treinos, o discurso de improviso do prefeito já estava quase pronto. Em contra partida a Primeira Dama, estava mais pra lá do que pra cá, profundas olheiras eram visíveis no seu rosto, também poderá, com quinze dias sem dormir.
Finalmente chega o esperado dia em que a cidade ganharia o seu primeiro Bispo. Juvenal havia convidado o que era de autoridades das cidades vizinhas e até da capital. Uma grande carreata foi organizada para esperar o Bispo na entrada da cidade.. Colégios, irmandades e até o Tiro-de-Guerra também foi convidado, Da entrada da cidade até o centro por onde a carreata deveria passar, a população se comprimia para dar as boas vindas ao seu primeiro Bispo, enfim, era uma festa monumental.
Pontualmente as 16h00 a comitiva do Sr. Bispo chega a entrada da cidade, o mesmo e recebido pelas autoridades presentes, em seguida levado para um carro aberto, onde ao lado do prefeito Juvenal, seria conduzido em triunfo até o centro da cidade.
Bem em frente a Prefeitura, Juvenal mandara armar um grande palanque, onde seria feita a saudação a sua excelência. A comitiva se aproxima e o Bispo e conduzido para cima do palanque. Na praça uma multidão gritava dando boas vindas ao seu primeiro Bispo. - Logo após ao espetáculo pirotécnico patrocinado pela prefeitura, o locutor oficial da solenidade se aproxima do microfone e anuncia:
_ E agora vai falar o prefeito da cidade, JUVENBAL SILVA !
Juvenal para mostrar o seu prestigio, mandara trazer dos distritos, em vários caminhões, parte da sua ala feminina, quando ele se aproxima do microfone, as “macacas de comício” passam a gritar:
- JU-venal, JU-venal, JU-venal !
Juvenal pega no microfone, dando uma volta no fio (como fazem os cantores bregas), dá um pigarro para afinar a garganta e inicia o seu discurso de improviso (que já estava ensaiado a mais de quinze dias) de saudação ao Sr. Bispo.
Mesmo estando com o discurso decorado, Juvenal resolve fazer pelo menos a abertura do seu discurso de improviso mesmo, e. . .
- Dom José Arco Verde Guimarães, seja bem-vindo a nossa cidade, pois até o seu nome nos engrandece ! Falou Juvenal iniciando seus elogios a sua excelência
- DOM, palavra que lembra os príncipes da igreja !
- JOSÉ , o pai de Jesus, o fundador do cristianismo !
- ARCO, que nos lembra o Arco do Triunfo de Paris, símbolo de glorias !
- VERDE, palavra que nos faz lembras as nossas matas, os nossos campos !
- GUIMARÃES, Guimarães, Guimarã-es, Gui-ma-rã-es. . . eita nomezinho, ‘Fela da P.” para não rimar com nada. . .