DA SAGA DOMÉSTICA...
Essa coisa estranha que é a barriguda, demoníaca e metálica panela de pressão, podia tranquilamente fazer parte de filmes de terror. Amolece tudo...até a alma mais dura pode se amaciar com este monstro. O Maníaco do Parque vira Chapeuzinho Vermelho em instantes. Incrível o seu poder!
Todo mundo já deve ter ouvido, senão uma; várias historias loucas sobre suas explosões, onde a tampa gruda no teto junto com todos os seus lindos cabelos, e prá onde seu olhar alcança ficam impregnados os grãos de feijão, lentilhas e afins, causando traumas irreparáveis...reformas de cozinhas, rombos em azulejos, brigas com vizinhos, queimaduras, divórcios...quando não, terapia intensiva para conseguir enfrentar novamente o fogão.
Por isso, sempre adiei o momento de usá-la. Até que chegou o dia:
- Porque não faz uma carne assada filha? É simples, vai ver.
Quando casei fui premiada com "pasmem" 8 (OITO) panelas de pressão. Sim! Oito explosivos de todos os tamanhos. Elas olhavam prá mim, brilhantes e paralisadas...como todo "ser" suspeito pode ser.
Peguei a menorzinha - "já que é prá enfrentar o medo que se comece com o pequeno". Acendi o fogo.
Quando aquele infernal botãozinho começou a agonizar, a fumaça saia pelos lados, e com os batimentos na testa, peguei o telefone:
- Mãe, me diga sem rodeios, está certo que a fumaça saia pelos lados da tampa?
- Como assim?
- Aquela nuvem branca fica saindo pelos lados do botão, que começou a girar a cabeça sem parar....
- Você fechou a tampa direito? Viu se tinha a borrachinha?
- Tá brincando? Que borrachinha mãe?
- Uma que vai em volta da tampa. Não fica nervosa, filha.
- QUEM É QUE TÁ NERVOSA AQUIIIII? A senhora nunca me disse isso. PANELA É PANELA...só me faltava borrachinhas!
- Tudo bem, fica calma. É assim mesmo. Só esperar pelo menos meia hora e aí veja se a carne já está boa.
- Não posso fazer isso, não posso e não vou...tô olhando a porta da cozinha aqui da porta da entrada e quase tocando na vizinha pedindo socorro.
- Tá, tá...desligue o fogo então.
- Não ouviu? Tô petrificada! Meus pés se recusam. É uma bomba prestes a me levar pelos ares.
Ó! Vou colocar o fone prá senhora ouvir...ouviu?
- Quer parar de brincadeira filha? Não tem graça isso. Você conhece a vizinha?...Toca lá.
- Tenho vergonha, né mãe? Fica falando comigo então, enquanto tento o impossível.
- Chegou?
- Continua falando mãe...coisas do tipo: "Foi bom ter tido uma filha como você"..."Não sei o que será de mim sem a sua presença daqui prá frente"...vai mãe!
- Deixa de palhaçada...vai de uma vez!!!!
- Talvez com o cabo da vassoura acho que alcanço o botãozinho. Tô a um passo de morrer. Pera. Tô quase lá. Preciso largar o telefone, não sai daí.
(....)
- Mãe? Tá aí?
- Conseguiu então?
- Eu e Bruce Willis em Duro de Matar, somos uma só pessoa. Ainda não foi dessa vez que se viu livre de mim.
- E eu lá quero me ver livre de você?
- Ai mãe...repete isso...só mais uma vez...uminha só....e, será que posso jantar aí?