Caçador Prevenido

Quando a caça ainda era permitida no Brasil, boa parte da população de Campina Grande - PB. praticava este esporte. Na cidade havia até um clube denominado Clube dos Caçadores, eu mesmo era um dos seus associados. Mais a história de hoje não é sobre o Clube dos Caçadores e sim de outro grupo de caçadores moradores do bairro de Zé Pinheiro, (Bairro popular da cidade) cujo líder era um mecânico chamado José Miguel. - Sempre aos sábados logo após o almoço eles se reunião no abrigo do bairro de Zé Pinheiro, a espera do caminhão que os levaria ate ao Cariri. - A grande preocupação da maioria do grupo era não esquecer de levar pelo menos duas garrafas de aguardente no embornal. - Eles iam chegando ao abrigo e logo procuravam o pequeno bar ali instalado para comprar algumas garrafas daquela água que passarinho não bebe.

Pontualmente as 14h00 o velho caminhão de “Antonio Carvoeiro” encostava frente ao abrigo e a turma ia se acomodando como podia sobre pos fardos de sacos vazios de carvão. - Três horas depois, estavam chegando a um rancho localizado as margens do Rio Paraíba, alguns quilômetros após a cidade de São João do Cariri – PB.

Toda semana aquela cena se repetia. - Na tarde do domingo quando o caminhão chegava com os caçadores, algo chamava a atenção de todos, ninguém, mais ninguém mesmo entre os caçadores, trazia sequer uma rolinha abatida, os cartuchos das espingardas estavam intactos como no dia anterior. - Finalmente, ninguém do grupo havia efetuado um só disparo, nem abatido um animal ou ave. - Aquilo deixava o pessoal do bairro intrigado, e tem mais, boa parte dos caçadores para descerem do caminhão necessitava da ajuda de alguém, tal era o estado de embriagues da maioria.

Aquele estado de coisas estava deixando Zé Miguel preocupado e até certo ponto encabulado. - Ele juros de pés juntos que haveria de tomar uma providencia.

No sábado seguinte, o caminhão já se encontrava estacionado em frente ao abrigo, o pessoal já se preparava para tomar os seus lugares, quando Zé Miguel chama o grupo e diz que gostaria de falar com todos:

- Gente, o negócio é o seguinte, faz mais de cinco anos que caçamos juntos, durante todo esse tempo nenhum de nós deu um só tiro, nenhum de nós trouxe para casa sequer uma “Rolinha Cambute”. - O pessoal do bairro já começou a falar mal de nós, nos chamando de “Lote de Bêbados”. Esta situação tem de terminar, a partir de hoje, peço encarecidamente a todos para não levarem cachaça para as caçadas. Espero a compreensão de todos. Obrigado

Parecia até que o Zé Miguel havia jogado água fria na fervura, era aquele silencia, aquela tristeza entre os caçadores. - Para completar a sua preleção Zé Miguel falou:

- Agora por favor, quero que vocês coloquem todas as garrafas sobre o balcão do bar !

Um a um, os caçadores se dirigiram ao interior do bar, em poucos segundos mais de 30 garrafas estavam enfileiradas sobre o balcão. - Livres das garrafas os caçadores retornaram ao caminhão, seguindo em direção ao Cariri.

Naquele final de semana a caçada fora um sucesso, era tanta caça que o pessoal teve até dificuldade em carregar.

Na semana seguinte a turma voltou a se reunir no abrigo, na hora de tomarem o caminhão, Zé Miguel se antecipa, e . . .

- Gente, vocês não me levem a mal, mas, terei de fazer uma vistoria no embornal de vocês !

- Pois não “seu” Zé Miguel, pode fazer a vistoria ! Gritou a maioria

Durante mais de um mês as caçadas iam de melhor a melhor, a turma trazia tanta caça que dava até para distribuir com os vizinhos.

Num, determinado sábado, Zé Miguel resolve fazer, ou melhor, dar uma incerta no grupo, só para testar como andava o problema com as bebidas. - Avisa para o grupo a sua intenção e dá andamento ao serviço, passando a revistar os embornais dos caçadores, quando chega no sétimo, para seu desprazer descobre uma garrafa de cachaça naquele embornal, indignado exclama:

- MAIS LOGO VOCE COMPADRE RAIMUNDO ! Homem tenha

vergonha na cara, respeite o nosso trato !

- Cumpade Zé Migué, posso falar ?

- Claro que pode Raimundo !

- Cumpade, já imaginou se uma cobra cascavé pica um de nói naquele cariri? – Cuma é que nói vai cuida da picada ?

- Muito bem pensado ! Gritou a turma batendo palmas para o Raimundo

- Você tem razão Raimundo ! A partir de hoje vocês estão autorizados cada um a levar uma garrafa de cana, apenas para prevenir uma eventual picada de cobra !

Mesmo sabendo que cada caçador levava uma garrafa de cana no embornal. Zé Miguel de vez em quando fazia uma inspeção para evitar excessos. Até que um dia fazendo mais uma tal inspeção, quando mete a mão num embornal de um dos caçadores, Zé Miguel descobre apavorado que ali havia alguma coisa estranha, o homem fica apavorado, branco como uma vela grita:

- EUCLIDES, que danado tem no teu embornal homem ? ? ?

- É uma cobra Cascavel “seu” Zé Miguel

- Mais pra que homem ?

- O senhor já imaginou “seu” Zé, se não aparecer lá no Cariri uma cascavel para picar um de nós, como é que vamos tomar toda esta aguardente ? ? ?