O MENINO E A CAMADA DE OZÔNIO

O MENINO E A CAMADA DE OZÔNIO

Na entreaberta gaveta da mente, puxei pela pontinha, uma dobra de lembrança. Curiosa minha alma quisera desdobrá-la. Nela, encontrei as inesquecíveis tardes do rigoroso inverno nos meses juninos, la pela metade do século passado.

Quando, no seu ocaso, recém escondido no horizonte o sol manchava o infinito, com uma tarja amarela, prenunciando o violento frio que estava por vir. As sombras aos poucos se espalhando carregando com elas o beijo gelado da natureza.

No bambuzal, pássaros prêtos, melros, João de barro e bem-te-vis, formavam uma bela algazarra. Silenciados pelo crepúsculo, que aos poucos cobria de luto a face da terra.

O canto dolente do carro boi, que vinha distante carregado de cana. Aos poucos aproximando, fazia coro com o despencar da água na bica. E as pancadas do monjolo seguiam adiante levadas ao longe pela brisa gelada. Que carregava com ela o forte odor dos bagaços da cana, apodrecidos, onde as abelhas povoavam durante o dia, à busca de sacarose para seu labor diário. As fornalhas caprichosamente limpas pelo taxeiro, ainda mornas e convidativas, me atraindo com seu calor aconchegante. Ficavam apenas na imaginação. O carreiro acabara de rebear o carro, e o meu dever era ajudá-lo, colocando as canas no tabuleiro. Pois assim que a estrela Dalva pintava no horizonte, era uma nova jornada de trabalho se iniciando. Não importava se dormira o suficiente ou não. O importante era quando o sol ao raiar pela manhã, deitando o lume de seus raios, pelas frestas do telhado na casa de apuração, as rapaduras, já ha muito, teriam espalhado o seu cheiro seguindo os rastros deixados pela garapa quente, que antes visitara a vizinhança, ainda na escuridão da madrugada.

Quão belo foi vislumbrar a dança dos astros nas madrugadas geladas. Admirando o céu infinitamente estrelado, protegido por uma camada de ozônio, que tão inocente quanto eu, jamais imaginara o que o destino nos reservava. Com a incoerência humana destruindo-a, de forma tão desumana. Ela que é o peritônio da humanidade. Inofensiva e solidária conosco de forma voluntária, está apenas nos protegendo. Mas infelizmente vai sendo destruída e aviltada de maneira tão criminosa, trocada pelo cobiçado e vil metal.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 09/02/2010
Reeditado em 11/02/2010
Código do texto: T2077122
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