CASTIGO NA QUINTA FEIRA SANTA

CASTIGO NA QUINTA FEIRA SANTA

Fico imaginando como é possivel, algumas lendas sem a menor possibilidade de serem verídicas, atingirem um dinamismo tão grande no imaginário popular adquirindo credibilidade de forma tão autêntica.

Existe um local distante há mais ou menos quatro quilômetros do centro do Engenho, conhecido pelo nome de Fundô. Na verdade o nome é derivado da palavra afundou que mal, pronunciada pelos sertanejos habituados usar meias palavras, acabam distorcendo palavras, frases e até mesmo a própria história.

O ano 1963 ficou marcado por uma seca violenta. Eu era jovem e trabalhava a mando de meu pai, tombando a terra com o arado boi nas imediações do Fundô. A fazenda pertencia aos herdeiros de Antonio Candinho. Terra de muita areia, um sol violento provocando um calor infernal. Não havia vasilhame adequado, e a água que consumíamos era na cabaça. No dito local há um poço circundado de arvores seculares, muito profundo. Água pura e cristalina onde nós conseguimos abastecer de água mais fria nossa cabaça. Seu fundo parece inatingível, imagino que deve pertencer a um aqüífero muito profundo. Várias estórias eram narradas. Diziam que ali era um sumidouro. Já engoliu pessoas, cavalos e até juntas de bois que tentaram saciar nele sua sede, e como seus barrancos são muito íngremes, foram engolidos pelo sumidouro.

Conta à lenda que ali havia uma casa cujos moradores foram muito incrédulos. Na semana em que se celebra a paixão de cristo, promoveram um baile para quinta feira santa. Houve muitos protestos por parte de vizinhos que não aprovaram aquela desrespeitosa atitude. Mas o chefe da numerosa família, afirmou não depender de ninguém, além de seus familiares, cujo número era suficiente para a realização do evento.

O baile ia animado noite a dentro, lá pela meia noite aparece um cavalheiro muito elegante dançando de forma inusitada. De repente liderando a festa ele tomou pra si a sanfona e começou tocar e dançar em circulo num ritmo enfeitiçando a todos. Em poucos minutos, todos, em coro o acompanhavam num recortado com a descrição: vai afundar... Vai afundar está afundando... Vamos afundar... Vamos afundar está afudando... Já afundou já afundou! E assim a casa se afundou engolida pela terra. E a família jamais foi vista.

Assim surgiu afundou, que passou para Fundô, cuja lenda foi repassada de geração a geração.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 07/02/2010
Código do texto: T2074723
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