Batendo Pino

Tenho uma ligeira impressão que os torcedores do Treze Futebol Clube da minha cidade são um bando de fanáticos, tão fanáticos que são capazes de numa noite de quarta-feira, em pleno inverno do mês de maio, saírem de suas casas para assistirem uma partida de futebol, entre as equipes do Treze e o Quebra Canela da cidade de Queimadas - PB. - A história de hoje é sobre uma destas criaturas, torcedor ferrenho do Galo”, o folclórico e irreverente “Zé Pequeno” proprietário de uma sucata aqui em Campina Grande.

Em 1964, fomos contratados pelo DNER para construirmos a ponte sobre o Riacho Amarelo, na BR-104 PB., bem próximo a cidade de Esperança – PB. - Por falta de verbas, construímos apenas a infra e meso estrutura da obra. - No ano seguinte, retornamos ao Riacho Amarelo, para concluir definitivamente a ponte..

Antes da construção da ponte, havia no seu lugar um bueiro celular de pequena vazão. - Quando acontecia do Riacho Amarelo botar uma cheia, por ser sub-dimencionado, o bueiro represava as águas formando uma verdadeira barragem, as águas subiam e passavam a correr por sobre o leito da estrada, tornando-a intransitável, até que baixassem.

Exatamente naquela época o famoso América de Esperança estava participando do Campeonato Paraibano de Futebol. Num certo domingo do mês de maio, realizou-se uma partida de futebol no estádio daquela cidade entre as equipes do Treze e o América Local. - Como não poderia deixar de ser, a “galera” da GUGA – Galera Unida do Galo, compareceu em peso ao estádio do América para torcer pelo Galo.. - Vários ônibus foram contratados para levarem os torcedores. - Enquanto outros mais favorecidos, viajavam nos seus próprios carros, entre tantos outros, nossa amigo “Zé Pequeno”

Naquele dia parecia que a população de Esperança havia dobrado, tantos eram os torcedores que compareceram a cidade para assistirem as partida, - Durante a realização do jogo, deu uma chuva daquelas de “sapo pedir canoa”, a chuva entrou pela noite. - Quando o jogo terminou com a vitória do Treze, a maioria dos torcedores compareceram aos bares da cidade, isto por dois motivos: o primeiro para comemorar a vitória do Galo, o segundo para tomar uma, para afugentar o perigo de uma gripe, já que todos estavam molhados. - Nos bares, a grande maioria do torcida da “Guga” exagerou um pouco, em vez de uma, tomaram todas.

Após as 20h00 , o pessoal já de turbina aquecida, passou a retornar à Campina Grande. Zé Pequeno e seus amigos foram os últimos a deixarem a cidade. - Pegaram um Bel-Car DKW Vemag e partiram voando baixo em direção a Campina Grande. - Já bem próximo ao Riacho Amarelo, Zé Pequeno notou que alguma coisa estava acontecendo na estrada , o transito se encontrava parado e uma fila de mais de cem veículos se estendia estrada afora até as margens do Riacho Amarelo. - Zé Pequeno com muita dificuldade vai conduzindo o veículo em direção ao riacho, ora andando pelo acostamento, outras vezes pela contra-mão, até chegar ao riacho. - Com a chuva daquela tarde, o Riacho Amarelo botara uma cheia sem precedentes, parecia até um mar de tanta água. - Filas de carros se formavam em ambas as margens do riacho. Agora era esperar que as águas baixassem. As águas do riacho era tanto que passavam sobre a estrada numa lamina d’agua de mais de cinqüenta centímetros.

Zé Pequeno desse do carro e vai até a beira do riacho, ele já estava “Pra la de Bagdá” de tanto “Mé” que tomara antes, durante e após o jogo. Como não tinha mesmo o que fazer passou a “Esculhambar” os políticos, e. . .

- Os políticos da Paraíba não estão com nada ! Vejam aí, os pilares da ponte construídos a mais de seis meses, e estes “Bostas” de braços cruzados sem fazerem nada ! Nós que pagamos impostos, ficamos aqui parados sem podermos atravessar o rio por falta de uma ponte ! - Esses “Caras” são uns irresponsáveis !

Enquanto Zé continuava com o seu blá-blá-blá, um sujeito vestido de terno se encontrava de cócoras as margem do riacho, escutando o desabafo de Zé e vendo as água passarem, enquanto isto. . .

- Eu queria que um "bosta" desses aparecesse aqui agora, para eu lhe mostrar com quantos "páus se faz uma canoa" - Gritava "Zé Pequeno" incentivado por parte da torcida da “Guga”, que eu coro gritava:

- BOA ZÉ ! METE O PÁU NESTA CANALHA ! ! !

O sujeito de terno que estava de cócoras a beira do riacho, já não agüentava mais as críticas que “Zé Pequeno” fazia aos políticos da Paraíba, levantou-se indo de encontro ao “Arauto da Guga”, abre o paletó onde aparecem ostensivamente dois revolveres, um de cada lado, e. . .

- MESTRE, eu sou político, o senhor quer alguma coisa comigo ?

Zé Pequeno quando viu aquele “Bill the Kid” de pernas abertas, braços caídos ao lado de cada revolver, pronto para sacar, como os matadores do velho oeste, ficou bom da sua “carraspana” na hora, e. . .

- EU ? ? ? Não senhor Mestre ! Falou Zé Pequeno saindo de fininho entrando no DKW.

Naquele silencio, só se ouviu o barulho do motor de um DKW dando partida, era o Zé Pequeno, ele engatou uma primeira, os pneus cantaram, e o DKW entra no riacho e sai cortando as águas como se fosse uma jangada cearense, até sair fora. - Do outro lado do riacho Zé Pequeno bota a cabeça para fora da janela do carro, e. . .

- Té mais Doutorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ! ! ! Gritou Ze Pequeno sumindo na escuridão rumo a Campina Grande. Pense numa "Batida de Pino". . .