O SEGREDO

A vila sempre tao pacata, naquele sabado estava em polvorosa.

Finalmente Dona Assunta, havia conseguido realizar o sonho da pequena populacao do local.

Trazer o estimado padre do bairro vizinho, para celebrar uma missa.

O problema e que, na vila, nao havia uma igreja.

Foi dificil decidir o local, para improvisar uma capela.

Cogitou-se no clube esportivo recreativo do local, mas as beatas, acharam a ideia profana.

Entao, so restou a escola da vila, e la um grupo de fieis, improvisaram e a mesa da professora Zelia, se transformou, num singelo e bonito altar.

Dona Assunta, era a beata responsavel por toda a ideia, e encarregada de que tudo saisse bem, sua neta de nome Dorinha, la estava acompanhando a vo e prestando seu auxilio.

Dorinha ficou encantada quando viu o altar, os casticais dourados, com enormes velas, vasos repletos de flores frescas, que ela mesmo havia ido apanhar com a vo, que, avisou a neta, somente queria, copos de leite, lirios brancos e margaridas, tudo colhido no jardim da casa de dona Assunta.

Mas, algo no altar chamou por demais a atencao da curiosa menina de oito anos de idade, nao foi o lindo e enorme crucifixo, colocado no centro da mesa, e sim o calice dourado, contendo muitas ostias, e coberto por rico guardanapo de linho que uma devota de nome Pascoalina, havia bordado e engomado especialmente para ocasiao.

Dorinha, ansiava por sentir o gosto que tinha a ostia, que diziam, tirava os pecados das pessoas.

Tanto tempo ainda faltava para isso acontecer, pois era necessario , que ela completasse doze anos , para fazer a primeira comunhao e entao ser uma das eleitas a poder desfrutar de tao grande presente.

Voltando com a vo, da capela improvisada, entrou em casa, que ficava a poucos metros do local.

A curiosidade a corroia, viu dona Assunta, depositar a chave da escola, na gaveta do guarda-comida, que ficava na cozinha e assim que a vo se afastou, nao resistiu ao apelo da vontade, e rapidamente, pegou as chaves e correndo chegou a escola, entrou, e na penumbra, que ja se instalara, com a chegada da noite, foi direto ao calice, com maos tremulas, mas determinada, tirou com cuidado o guardanapo, que o cobrua, retirou uma ostia e levou a boca.

Que decepcao !

Nao tinha gosto de nada, resolveu provar outra, e novamente o gosto do nada surgiu.

Dorinha, continuou a provar as ostias, em busca do gosto que achava precisava encontrar, naquilo que, afinal, tirava todo e qualquer pecado das pessoas que a ingeriam.

E quando percebeu, o calice estava vazio.

Com cuidado, cobriu o lindo recipiente, colocou de volta no lugar que estava, fechou a escola, chegou em casa e guardou rapidamente as chaves na gaveta.

E como um anjo, jantou e foi dormir, nao sem antes claro, com a vo, fazer a reza da noite.

O domingo amanheceu lindo, ceu azul, os passaros fazendo uma cantoria, que parecia que tambem, queriam ir a missa.

Dorinha, bem cedo foi despertada pela querida vovo, vestiu seu lindo vestido de organza rosa com bolinhas brancas, rodado com um lindo laco amarrado na cintura.

E sem demora foi participar da santa missa, tao esperada.

Nao demorou nada, para o local estar repleto de fieis, o querido padre Aquiles, ja em pe em frente ao altar, comecou seu brilhante sermao.

Todos escutavam admirados, o saber, daquele vigario.

Embora, quase nada entendessem, ja que quase tudo era dito em latim, porem tinham certeza, que era algo muito especial.

Chegou, por fim, o momento mais esperado, o da comunhao.

Uma longa fila foi organizada no centro da sala, e as mulheres como de costume, cobriram a cabeca com o veu, e todos se encaminharam, em silencio respeitoso, para receber a ostia, que os livraria dos pecados.

Quando padre Aquiles, descobre o calice dourado, o encontra vazio.

O pobre homem se torna palido como o fino guardanapo de linho branco que recobria o calice.

E sem outra alternativa, comunica a todos os fieis, que as ostias, haviam desaparecido misteriosamente.

O choque foi arrasador, a decepcao estava estampada no rosto de cada um ali presente.

Todos murmuravam, o que havia acontecido, com as ostias ?

Somente a Dorinha, poderia dizer, e nao o disse nunca.

Em sua memoria, guardado, continua o maior segredo que possui.

E sem duvida a maior transgrecao que fez em toda sua vida.

Lenapena
Enviado por Lenapena em 31/01/2010
Código do texto: T2061831