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O cinema chegou pela primeira vez em uma pequena cidade do interior da Bahia. O Prefeito que trouxe.
Um grande barracão preparado, uma grande espaço pintado de branco, na parede do fundo.
Cadeiras? Foi avisado: cada um leva a sua.
A sessão foi marcada para oito horas da noite de um dia de Domingo.
Foi contratado Seu Tonho, para ficar lá, escondido, passando o filme.
Tempo de cinema mudo, tempo de chapéus, sedas estampadas, sapatos altos de bico fino e até perfume francês, porque os maridos “coronéis” mandavam vir das “Oropa”.
Prá começar, o discurso do Prefeito.
E o povo impaciente gritava: e a fita? Acaba logo, queremos ver a fita!
A criançada batia palmas e gritava.
A luz do recinto foi apagada. Silêncio total. O filme começou e foi rodando. Em um determinado momento, quebrou e houve necessidade de voltar a fita.
Nos momentos que antecederam ao acidente fatal , estava sendo projetada uma cena onde pessoas desciam uma escada para irem até um salão para o almoço, onde estavam servindo macarronada.
O que aconteceu? Um monte de pessoas subindo correndo a escada de costas e outras na mesa pondo macarrão para fora da boca, mas daquele jeito, apressadamente. O povo endoideceu:
As madames gritavam:
Para! Para! Que porcaria! O que foi que houve?
As crianças bradavam:
Quero meu dinheiro! O artista tá subindo a escada de costas!
Os homens berravam:
Sabia que isso não ia dar certo! É isso que é cinema? Essa doideira?
Acenderam a luz. O Prefeito pedia calma e paciência. Depois de um rebuliço total, o filme voltou a correr na direção correta e felizmente, foi bem até o "the end" e a cara do Leão no final.
Dona Filismina, na saída, comenta com seu Edésio:
-Gostou, cumpade? E ele responde:
-gostei não. Nunca vi tanta gente botando “de cumê” prá fora, na mesa.
– É mesmo... eu também nunca vi ninguém subir escada naquela correria e de ré, mas, mesmo assim, foi supimpa, né?
– Ora se foi!