O MANJAR BRANCO E A BORBOLETA
Ela amanheceu toda empolgada, afinal era vespera de natal !!!
Tanto trabalho a realizar, a familia toda estaria reunida, para a ceia.
Dona Silveria, originaria da Calabria, era cozinheira de mao cheia, tudo que preparava ficava delicioso.
Pulou da cama, colocou o vestido azul com bolinhas vermelhas, que adorava, foi pra cozinhar, vestiu o avental feito por ela mesmo, na velha maquina de costura que pertencera a sua mae, a boa Concetta.
Sem rodeios comecou o preparo do elaborado jantar, pediu a sua estimada ajudante de nome Iracema, chamada carinhosamente de Cema, que nao perdesse tempo naquele dia, pois as tarefas eram muitas.
E sem delongas, comecou, pelo que era o prato mais esperado por todos os visitantes, "o manjar branco" iguaria de encher a boca d'agua, de qualquer um que ja a tivesse provado.
E pra isso Dona Silveria, nao queria ajuda, pois, ninguem tinha a receita e ela fazia questao de mante-la em segredo.
Entao dispensou a ajuda da Cema, nos labores da cozinha, pra evitar que o segredo fosse desvendado, encaminhou-a, para a limpeza da casa.
Assim deu inicio ao preparo da famosa iguaria, ralou com cuidado dois cocos, colocando o mesmo depois de ralado em uma grande peneira, e a mesma em cima de um tacho, com a finalidade de que todo leite do coco, fosse ali escorrido e depois aproveitado.
E assim, passou Dona Silveira, quase toda a manha, as voltas com o rico Manjar, ate que o mesmo ficou pronto, e ela com muito contentamento, o colocou numa linda e enorme travessa de louca branca, presente de sua tia Quirubina.
Feito isso, depositou o precioso Manjar na janela da cozinha pra ventilar e esfriar mais rapido, ja que naqueles tempos geladeira nao existia.
O dia transcorreu cheio de afazeres pra Dona Silveria , que quando se apercebeu era hora de se aprumar, pois a familia, de irmas, irmaos, cunhados, cunhadas, sobrinhos, nao tardavam a chegar.
Depois do merecido e recofortante banho, vestiu-se com apuro, tirou do guarda roupa, o vestido de linho branco, tecido que comprou das maos do seu Ribas, mascate que atendia toda cidadezinha, como nao era habilidosa somente na cozinha, havia costurado o vestido, que ficou um primor.
Olhou-se no espelho, e ficou contente com o que viu. O vestido estava realmente lindo, e ela tambem se sentiu bonita, mesmo no outono dos seus cincoenta e dois anos.
Voltou para sala de jantar, para os ultimos detalhes, verificou que tudo estava no lugar, e nesse momento a porta se abriu e os convidados comecaram a chegar.
Era so alegria, muito prosear, muitos abracos, a festa teve inicio.
A ceia foi servida, tudo como sempre muito saboroso, mas todos, claro, ja conhecedores da fina iguaria da sobremesa, reservavam espaco no estomago, para aprecia-la.
Enfim, chegou o momento, da enorme travessa de louca branca, ir a mesa, com o tao esperado "manjar de coco", quando Dona Silveria foi busca-lo na janela da cozinha, solta um grito agudo.
Todos saem da mesa, e vao ao encontro do acontecido, e la esta a pobre mulher, rosto livido, segurando seu primor entre as maos.....e na superficie do delicioso manjar, uma enorme borboleta, a pobre nao resistiu ao delicioso manjar, pousou, provou e se afogou, sem conseguir levantar voo.