O ARMAZÉM DO TOTÓ
Era um vilarejo pitoresco.
Com paisagens, que pareciam ter sido retirada de calendários antigos.
Sua beleza, vinha da natureza, que ali era privilegiada em suas matas e rios.
Seus habitantes se conheciam desde todo sempre.
Sua casas eram de uma beleza singela, com quintais imensos, com pomares, hortas e muitas galinhas, coelhos, cabras, porcos e até vacas.
Na entrada de cada residência seus moradores, tinham por hábito cultivar lindos jardins.
O lugar tinha como ponto de encontro o Armazém do Seu Totó, figura conhecida e estimada por todos os que ali residiam.
Seu Totó era caboclo genuíno, amava aquelas bandas, e o que fazia.
Era dono de uma bondade e calma sem igual, grande contador de causos, pra ele, não havia tempo ruim pra prosear.
Para os moradores daquelas bandas tranquila, as compras no Armazém do Totó eram diárias, porque junto com elas, vinha o mais importante: o dedo de prosa.
E todos os dias, sem falhar nenhum, lá estavam elas: Dona Justina, que morava na casa ao lado da escola, Dona Tico, professora da única escola da vila, Dona Alzira mãe do Sergio, Dona Anita mãe do Ditinho preto, Dona Zulmira, mulher do seu Rolando, Dona Maria, mulher do seu Tente, Dona Irene, dona da pensão, a Tica, mulher do Helio....... citando somente algumas.
Elas se revezavam dentro do armazém, muitas vezes em busca de somente meio quilo de feijão, uma cabeça de alho, uma pedra de anil, porém o mais importante, com tempo suficiente pra um dedo de prosa.
Cada uma tinha seu jeito de prosear, Dona Anita, já chegava no armazém, desfiando o rosário de queixas: o filho só dava desgosto, o marido não largava da maldita cachaça, o dinheiro era curto.
Já dona Alzira, seria a Candinha do lugar, sempre por dentro de qualquer fato novo, e olha que por lá, fato novo era raridade, mas ela inventava se preciso fosse.
Com Dona Tico a conversa era outra, adorava aproveitar a vinda ao estabelecimento, pra trocar receitas, ora com Dona Mena, ora com Dona Cacilda.
Interessante, que as freguesas chegavam ao armazém logo que ele abria suas portas, as sete horas da manhã, e até as onze horas, era uma animação só, da mulherada chegando, comprando e proseando. O coitado do cacheiro de nome Gumercindo, que ajudava seu Totó, ficava ate zonzo, não sabia se pesava o açúcar encomendado pela Dona Brandina, ou se escutava a prosa dela.
Depois das onze horas, o movimento rariava e perto do meio dia, esquentava novamente, só que agora com fregueses diferentes, eram os homens, que ali se achegavam, aproveitando o horário reservado para o almoço, já que trabalhavam ali mesmo no bairro, eles faziam ponto obrigatório na venda do Totó.
Vinham eles, em busca do dedo de prosa e da cachaça, porque afinal ninguém é de ferro.
E o rumo da conversa era outro, se falava do time de futebol do lugar, do torneio de bocha, do campeonato de sinuca, se proseava sobre o tempo, se chovia ou se fazia sol, a política era sempre lembrada, dividindo os ânimos entre o Janio Quadros ou o Ademar
de Barros.
Depois das treze horas, o Armazém era da criançada, de volta da escola matinal, e do almoço, elas agora tinha o resto do dia pra desfrutar daquele paraiso no meio de tanta natureza.
Entravam na venda chamando pelo seu Totó, em busca dos doces saborosos, que eram trazidos pela fabrica de doces Confiança.
Mas o que pegava no seu Totó, eram as dúvidas que a garotada ficava, na hora de escolher o que comprar com os poucos tostões que tinham.
Também, pensava o bondoso homem, não era pra menos, tinham que ficar indecisos mesmo, porque, como a meninada ia escolher fácil, entre as delicosas guloseimas como: doce de leite, maria-mole, cocada branca, pé-de-moleque, paçoquinha, doce de batata doce, gibi, bala de hortelã, anis, morango. Nossa era te entender a dúvida da petizada toda.
Mal acabava o movimento alegre e barulhento dos pequenos, e de novo recomeçava o da mulherada, pois, algumas preferiam vir a tarde , porque o periodo era de menos afazeres caseiros e dava pra prosear dois dedos ao invés de um.
E lá estava seu Totó, vestido impecavelmente na sua calça de casemira cinza, camisa azul de botão, cabelo liso e preto, sempre cuidadosamente penteado com brilhantina, atendendo a todos com a mesma alegria e atenção, como se o dia mal tivesse começado.
Figura talhada para o posto, pois amava conviver com as pessoas, esbanjava simpatia, bom humor, tinha o coração maior que seu peito comportava, a ninguém negava, o quilo de arroz ou feijao, vendendo fiado sempre que a necessidade pedia.
As dezessete horas, o Armazém deveria fechar suas portas, mas era comum acontecer do local ainda se encontrar repleto, agora novamente pelos trabalhadores, que voltavam do trabalho e davam a costumeira paradinha.
Pra um dedo de prosa e um de pinga, porque ninguém é de ferro......
não é mesmo ???