A PRIMEIRA E A SEGUNDA
A dupla era inseparavel.
Sintonia perfeita, nas brincadeiras.
Muito embora fossem tao diferentes essas duas inseparaveis companheiras.
Diferentes mesmo !
Uma alta e esquia, longos cabelos ondulados, reservada, timida, sorriso acanhado, aluna aplicada, de pouco falar, de pouco comer.
Ja a outra, baixa, cabelos lisos, extrovertida, sorriso aberto, aluna mediana, muito comunicativa, carismatica e gulosa.
Mas em sentimentos, ai sim, se entendiam, se pareciam, se alimentavam, numa amizade simbiotica perfeita.
A primeira precisava muito, da coragem aventureira da segunda.
Ja a Segunda, necessitava da paz, do pe no chao, da quietude da primeira.
Eram cumplices em tudo.
qdo a primeira, nao conseguia comer, e sua mae ja impaciente lhe ameacava com o chinelo em punho.
A segunda, arrumava um jeito e comia a refeicao por ela.
A mae da primeira, voltava e surpresa ficava, com a rapidez com que o apetite havia voltado ao estomago da filha.
Pra primeira comer era o momento Inferno.
Pra segunda era a hora do paraiso.
Chegava a hora da retribuicao do socorro.
Quando o dever de casa tinha que ser feito, era ai que a primeira, entrava em cena, fazendo pela segunda o dever, que sozinha, com certeza, a mesma nao conseguiria fazer.
Uma beleza de convivencia, do romper do dia ao escurecer da noite, era pouco, pras brincadeiras, confidencias, das duas grandes amigas.
Certo dia no entanto, resolveram, brincar de curupiu, piu , pui....
um brincadeira de roda, com certa velocidade, e que so pode ser feita
aos pares.
Da pra adivinhar, quem inventou brincar de curupiu....????
certo, isso mesmo, foi a segunda.
Adorava movimento, acao, folia.
A primeira mais uma vez cedeu, alias como era usual.
O rodar comecou fraco, evolui pro medio, e passou pro rapido.
a primeira queixou-se, que estava tonta, muito tonta.
a segunda, gritou, voce e tonta, vamos continuar nao seja mole.
Nao teve escolha pra coitada da primeira, e continuou....
Mais alguns minutos se passaram, desde a queixa e.....
bumba ! ! !
a mao mais delicada e fragil da primeira, soltou-se da segunda.
e foi parar longe, esborrachada no chao.
Nao antes de enfiar o rosto num velho vaso de lata, que se achava no chao na area em que estavam rodando.
E a amiga primeira, coitada abriu um talho em seu lindo rosto, que quando conseguiu se por em pe, com o auxilio da segunda, nem se via, tamanha era a quantidade de sangue a borbulhar, esparramando-se por seu delicado vestido bco de florzinhas azuis.
Foi uma correria so, agitando o pacato local onde viviam as duas amigas.
La havia somente um posto medico e uma farmacia, e foi pra la que a primeira foi, toda ensanquentada, quase desmaida, do susto, claro sequida de perto, de muito perto pela segunda .
Quatro pontos costurou o estrago feito pelo curupiu, piu , piu.
E o rosto da primeira guardou pra sempre, a cicatriz da travessura da segunda.
A vida transcorreu, elas cresceram, e se distanciaram fisicamente.
Mas nunca no coracao.
A ultima vez, em que a segunda pode rever a primeira, e tocar na marca deixada pelo Curupiu, pio, pio.
Foi no triste dia do velorio da primeira, que muito jovem ainda partiu dessa vida.
Deixando na segunda a certeza, de que a amizade continuava, o bem querer permanecia.
As diferencas tambem, mas quem se importava, elas nunca atrapalharam, tao bela amizade.
E a segunda.....tocou devagar e com um carinho sem fim, pela ultima vez, a cicatriz no rosto da amada amiga primeira.