O MASCATE JUVÊNCIO E O VESTIDO DE LINDA
O MASCATE JUVÊNCIO E O VESTIDO DE LINDA
O mascate Juvêncio ruminava um fumo de corda, montado na velha carroça que o levava para as terras do Coronel Severo. Jovem ainda o rapaz herdou do pai a profissão de caixeiro viajante que lhe rendia um bom dinheiro.
No baú ia seda para dona Maria Tereza, chapéu Panamá do velho Severo e um outro de tafetá vermelho para a filha mais velha, a botina de Severinho, fazenda para as cortinas, sapato com salto de verniz nº 36 para Linda, pó de arroz e água de cheiro para as meninas, a cela de couro trançado para a égua Princesa, espelho para a sala, o tapete de sisal para o quarto da negra Felinta, e as revistas da cidade com novidade da moda.
O baú estava cheinho.
Mas o que mais dava prazer ao mascate era o vestido de Linda. A moça encomendou já ia pra um ano ou mais e o que atrasou a encomenda foi a exigência de tantos detalhes: “tem que ser inteirinho vermelho, ter renda importada de Paris nas mangas e no peito, botoezinhos forrados nas costas, e saiote de tafetá branco pra deslumbrar os olhos de quem enxergar”.
Danada essa Linda.
Desde o dia do pedido Juvêncio quase não dormiu. Inquieto o homem ficava imaginando a moça dentro do vestido vermelho caminhando no caramanchão fazendo-se descuidada deixando ver a pontinha branca do saiote engomado. Mais adiante a mocinha arrumava o cabelo dentro do largo chapéu vermelho, aveludava as faces com pó de arroz, largava um perfume de flor atrás das orelhas e voltava ao caramanchão para Juvêncio admirá-la.
Danadinha essa mocinha.
Quando a carroça aproximou da porteira o rapaz parou, ajeitou o cabelo com brilhantina, trocou a suada camisa, limpou a botina, bochechou com água de colônia. Apeou destrancou a tramela. Viu escancarar a porteira da fazenda, e sorriu.
Gritou como de costume: “ô de casa!” para ver sair em disparada a moça Linda que num sorriso enorme veio em sua direção perguntando: “e meu vestido, meu chapéu, trouxe desta vez?”...
Que danada essa moça!
Ele apeou de novo para os cumprimentos e percebeu que a moça já estava carregada de perfume. Dona Maria Tereza logo chegou e atrás dela o Coronel Severo: “boas tardes Juvêncio, trouxe tudo desta vez?”.
“Se trouxe, veio até o vestido vermelho de Linda!”.
Aliás, ela nem esperou descer o baú e já foi se apossando de suas compras nem adiantou o Coronel ralhar com ela.
Dona Maria Tereza convidou o mascate para um café na varanda enquanto as meninas esvaziavam o baú.
E lá vinha Linda. Linda!
Dentro do vestido vermelho com os cabelos lisos arrumados dentro do chapéu largo ela desfilava pela varanda...
O moço se abobou vendo aquele corpanzil vermelho se equilibrando no sapato de verniz enquanto a cabeça inclinava para o lado.
Ele não disse que ela era danada?