UMA CHAVE UMA LIÇÃO DE VIDA

UMA CHAVE UMA LIÇÃO DE VIDA

No passado não havia fertilizantes. As melhores terras para o cultivo das lavouras eram disputadas por diversos meeiros. Muitos morando distantes construíam seus ranchos nas áreas cultivadas, e ali passavam a semana trabalhando voltando em casa só no sábado. Geralmente terminada a colheita no chamado período de entre safra, os ranchos recebiam uma limpeza e ficavam desocupados, até o inicio de um novo plantio.

Elpidio Paulino tinha seu rancho próximo à lavoura do Geraldo de Souza. Geraldo tocava lá sua rocinha e era pescador nas horas vagas e não vagas também. Vizinho de roça do Elpidio, às margens do rio Picão. Estava ele pescando na época da entre safra e de repente uma chuva temporona o pegou de surpresa. Longe de casa e próximo do rancho do companheiro. Ele testou a chave do cadeado de sua canoa no cadeado do rancho, deu certinho. Entrou se agasalhando. A chuva durou forte toda a noite, ele teve que pernoitar. No dia seguinte, deixou tudo como estava voltando pra sua casa. Alguns dias após, encontrou o Elpidio, contou o ocorrido. Recebeu um escolacho dos diabos. Quis justificar dizendo ter deixado tudo como estava, e que a chave dera certa não fora um arrombamento. Furioso Elpidio lhe disse que as chaves eram iguais, mas a dele não entrava em seu cadeado porque tinha vergonha na cara, e homem de vergonha,homem que é homem mesmo, jamais faria coisa tão baixa. Geraldo cabisbaixo saiu sem dizer palavra.

Segundo o Elpidio, se ele não lhe colocasse a par do fato, jamais saberia do ocorrido, o seu rancho estava intacto.

Chegada à época de novas plantações, Elpidio se preparou para carpir sua roça já plantada, levando consigo malas de mantimentos, e alguns peões que o ajudaria durante a semana pernoitando em seu rancho. Chegando ao rancho deu pela falta da chave esquecera a sua casa. A porta reforçada corrente grossa cadeado enorme muito forte. Voltar naquela hora; impossível dezesseis quilômetros a pé, seu almoço só sairia muito à tardinha. E se a chave não fosse encontrada. Olhando para a margem do rio avistou Geraldo carpindo seu arrozal. Imaginou e agora... Peço a ele sua chave? Que tamanho de escolacho vou tomar! Voltou tentou novamente com uma chave de arame nada deu certo. É... Calçar a cara e tomar uma carraspada de chingo, mas seja o que Deus querer! Dirigiu ao arrozal. Deu bom dia foi acatado com a mesma saudação. Tomou coragem e disse: - Estou morrendo de vergonha do papelão que aprontei contigo, mas você me empesta sua chave? Perdi a minha! Caso eu não a encontre comprarei outro cadeado. Sem uma palavra si quer, Geraldo tirou o chaveiro da cintura destacou a chave entregando a ele dizendo: não é necessário comprar outro cadeado tenho duas chaves pode ficar com esta.

Ao me narrar à história o Elpidio afirmou que deveria ter se calado! Ofereceu ao colega o rancho se necessário. Aí ganhou seu troco.

- Não muito obrigado, mas você me ensinou a ter vergonha na cara e minha chave não entra mais em seu cadiado. Esse ai vai entrar por ser sua, eu dei a você, mas esta outra aqui não entra mesmo, nem que o diabo berre! Sou muito homem e homem de palavra!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 25/01/2010
Código do texto: T2049408
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