MACAQUINHO NOJENTO
MACACAQUINHO NOJENTO
No meu tempo de criança quando pintava um pequeno parque ou circo em nosso também pequeno e pacato povoado, era como uma jóia rara caída do céu. Certa ocasião apareceu por aqui um circo de tourada, muito pobre, cujo proprietário que tentava ser palhaço atendia pelo nome de “Cem-cem”. Não tinha graça nem aparência de palhaço.
Como sua pobreza era por demais, e a nossa gente sempre foi solidário. Um grupo de homens liderados por meu pai se mobiliou tentando ajudá-los. Deram o básico em alimentação, e apoio para que pudessem estrear seu espetáculo. Cem-cem querendo se mostrar eficiente começou enumerar suas qualidades como toureiro. Porem o danado ao que pareceu nunca havia pisado em uma arena de touro. Fez uma propaganda dos diabos, e o povo lhe deu crédito enchendo o circo. Dois fatores o ajudaram, a solidariedade de nossa gente, e a falta de opção em lazer na comunidade. Tudo pronto o circo cheio, soltaram a primeira rês uma vaca enorme tremendo mais que vara verde, na beirada da arena, o Cem-cem balançou sua capa vermelha, a vaca atendeu pisou na capa, ele correndo em circulo na frente numa velocidade tão grande, que pouco tempo após era a vaca que corria a sua frente. Aquilo levou a platéia ao delírio de tanto rir. Salvou-lhe tal de palhinha, que apesar de não ser grandes coisas como toureiro desviou a atenção do animal lhe dando oportunidade de subir na cerca. Sua mulher teve que acalmá-lo com água e açúcar. Passado o susto ele não botou os pés dentro da arena. Palhinha tentou dar o espetáculo sozinho com o restante dos animais, mas por varias vezes subiu na cerca recebeu mais vaias do que aplausos. A única atração do circo que valeu a pena, era um pobre dum macaquinho amarrado pela cintura. No nosso recreio, como era perto da escola, a gente corria pra lá. Preso num cercadinho nas piores condições higiênicas. Nós adorávamos jogar doces pro animal. Sua vasilha de água imunda de tanta sujeira. Cada pedaço de doce que se jogava, ele apanhava e corria lavava naquela água imunda antes de comê-lo. Ficávamos loucos por umas moedinhas para comprar doces só pra vermos o macaquinho nojento lavar antes de comer.
Ontem assistindo ao noticiário na T.V. quando disseram que a comissão de investigação do mensalão do Distrito Federal encontrava dificuldades em substituir titulares por suplentes. por também estarem envolvidos em corrupção fiquei imaginando, será possível meu Deus... Não temos água limpa pra lavar a sujeira... Lembrei-me daquele pobre macaquinho que sem saber que água era tão suja lavava seu doce. Pra ele eu pude dizer: pai perdoei por que ele não sabe o que faz... E para este bando, heróis da corrupção, o que diremos?
Perdoei-me, o nobre leitor, ter-me inspirado em coisa tão baixa para redigir o texto, e perdoei-me também a família dos primatas pela comparação!