COISAS DO INTERIOR - Sapatos trocados I
Morávamos na zona rural a dez quilômetros de uma cidadezinha bem interiorana servida por uma estrada de terra batida, onde passava só carros de boi, cavalos e carroças. Como naquele tempo, não existia facilidade de locomoção, a solução era no pé mesmo. Aos domingos e dias de festa era sagrado: rumávamos para a cidade bem cedinho e a turma ia se juntando pelo caminho, rapazes, moças, pais, mães, crianças, pessoas da redondeza, todos conhecidos. Era sempre uma festa. Muita conversa, muita brincadeira, namoricos e, às vezes, até uma briguinha. Sendo a distância razoável e a estrada muito poeirenta, geralmente ia-se descalço, levando-se os sapatos para serem calçados nas proximidades da cidade. Havia lá um córrego de águas, então, limpas que tinha o nome de “lava-pés”, exatamente por se servir para esta finalidade. Ali era o ponto de encontro, parada obrigatória para o descanso, um lanchinho e uma água fresca para revigorar as forças perdidas.
Certa vez, por ocasião da festa da padroeira, paramos no córrego lava-pés e, após os rituais de sempre, continuemos a marcha. De repente, notei que um companheiro nosso vinha manquitolando e ficando aos poucos para trás. Retardei o passo até que ele se aproximou e então indaguei o que estava acontecendo. Meio desapontado, ele parou e me disse:
- Rapaz, num sei o qui tá se assucedeno. A danada dessa butina nunca me apertô e hoje tá me matano pelos pé.
Olhei para os pés dele e vi logo que as botinas estavam trocadas. Então, apontando instintivamente para o pé direito dele disse com muito jeito para não melindrá-lo:
- Pudera sô, este sapato tá errado!
Ele baixou os olhos, olhou bem para o pé direito, depois para o esquerdo e exclamou quase incrédulo:
- Uai sô! E é os dois que tão errado!
Morávamos na zona rural a dez quilômetros de uma cidadezinha bem interiorana servida por uma estrada de terra batida, onde passava só carros de boi, cavalos e carroças. Como naquele tempo, não existia facilidade de locomoção, a solução era no pé mesmo. Aos domingos e dias de festa era sagrado: rumávamos para a cidade bem cedinho e a turma ia se juntando pelo caminho, rapazes, moças, pais, mães, crianças, pessoas da redondeza, todos conhecidos. Era sempre uma festa. Muita conversa, muita brincadeira, namoricos e, às vezes, até uma briguinha. Sendo a distância razoável e a estrada muito poeirenta, geralmente ia-se descalço, levando-se os sapatos para serem calçados nas proximidades da cidade. Havia lá um córrego de águas, então, limpas que tinha o nome de “lava-pés”, exatamente por se servir para esta finalidade. Ali era o ponto de encontro, parada obrigatória para o descanso, um lanchinho e uma água fresca para revigorar as forças perdidas.
Certa vez, por ocasião da festa da padroeira, paramos no córrego lava-pés e, após os rituais de sempre, continuemos a marcha. De repente, notei que um companheiro nosso vinha manquitolando e ficando aos poucos para trás. Retardei o passo até que ele se aproximou e então indaguei o que estava acontecendo. Meio desapontado, ele parou e me disse:
- Rapaz, num sei o qui tá se assucedeno. A danada dessa butina nunca me apertô e hoje tá me matano pelos pé.
Olhei para os pés dele e vi logo que as botinas estavam trocadas. Então, apontando instintivamente para o pé direito dele disse com muito jeito para não melindrá-lo:
- Pudera sô, este sapato tá errado!
Ele baixou os olhos, olhou bem para o pé direito, depois para o esquerdo e exclamou quase incrédulo:
- Uai sô! E é os dois que tão errado!