O COMEDOR DE LINGUA

O COMEDOR DE LINGUA

No passado muitos fatos simples e corriqueiros, vistos como sobrenaturais, assombraram os sertanejos.

O medo do diabo e o temor a Deus foi um fator de certa forma até positivo aliado da Igreja católica. Impondo os caboclos andar um pouco mais linha.

A Igreja desempenhou um papel fundamental, não só na evangelização, mas também como veiculo de informação àquela gente inculta.

As celebrações religiosas por um longo período foi o único contato da civilização com o sertanejo nos cafundós da Brasil colonial. Aonde os mitos e as crenças predominavam. Também faço parte desta gente e como prova veja o que me ocorreu há pouco tempo.

Dias atrás chegando a minha propriedade Rural, bem a frente do curral estava um boi morto.

No seu entorno, o capim verde queimado num raio de uns dois metros ou pouco mais, o fato me intrigou, pois estava formando um circulo bem delineado. De inicio imaginei ser acidente provocado por uma descarga elétrica. Mas logo percebi que se tratava de um fenômeno, devido à forma do circulo queimado muito certinho como se uma involução circular tivesse protegido as laterais. Ao abrir boca do animal, faltava-lhe a língua. Pareceu-me ter sido extraída por um objeto cortante, muito bem afiado extraindo retinho bem na sua raiz.

Um fato que desde criança, ouvi diversas narrativas a respeito, mas nunca dei importância considerando como uma lenda.

Lembro de um boi carreiro de meu pai que morreu da mesma forma exceto o capim queimado no seu entorno. Na época eu era criança me lembro que gravei o fato mais pelo medo que senti. Quando curioso quis saber onde foi à língua do animal e minha mãe veio com a lenda me dizendo ser um menino que levantou um falso testemunho a sua mãe, e fora castigado a viver comendo língua. Mais tarde já adulto descobri ser uma lenda que permeava o imaginário do sertanejo. Atribuíam aquele fenômeno a um menino que disse ao pai que a mãe o traia com um vizinho. Morrendo nas garras do marido ela espraguejou o filho, dizendo que jamais ele haveria de morrer, teria que comer língua até o fim dos tempos.

E assim vez por outra o come língua passava em alguma propriedade cumprindo seu destino. Pelo visto o seu fim ainda não se cumpriu, pois a pouco me ocorreu este estranho fato.

Prefiro atribuí-lo a obra de algum extraterrestre pelo menos me parece mais convincente!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 22/01/2010
Código do texto: T2044164
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