O MATADOR DE GALINHAS
Aquêle senhor manobrava a patrola recuperando uma estradinha de chão que cortava um bairro denominado "Alto da Glória" aqui em Irati.Hoje,a cidade estendeu-se por aquêles lados,mas naquela ocasião a estradinha era uma das poucas que abria caminho entre uma meia duzia de casas dispersas entre os terrenos baldios.
A sua preocupação ia muito além da qualidade do serviço que executava.Tinha olhos atentos ao bando de moleques que lhe importunavam correndo e saltando sobre a terra que se ia acumulando.Vez e outra quase entravam sob os pneus da gigantesca máquina.
Numa das casas,a última que se avistava na parte mais alta do terreno,as comadres conversavam animadamente equilibrando uma cuia de chimarrão que corria de mão em mão.
À sombra de uma "mimoseira" a conversa rolava sôlta na tarde azul enquanto a molecada (seus filhos) enlouqueciam o patroleiro.
Num dado momento,levantam-se e saem correndo e gesticulando desesperadas em direção à patrola.
O condutor se desespera,pensa no pior...Com tôda aquela piazada lhe apurrinhando,a única coisa que lhe vem à cabeça é:"Chi!...Aconteceu a K....gada".
Desliga o motor e prepara-se para receber a enxurrada de impropérios que lhe é dirigida.A mais alvoroçada das comadres é a dona da casa que gesticula com a cuia na mão enquanto lhe chama de irreponsável,cretino e outros adjetivos.Não lhe dão sequer o tempo suficiente de perguntar:"Afinal o que aconteceu?"
Depois de muito bate boca a mulher revela o porque de tanta fúria:
_Faltavam só tres dias pra sair os pintinhos e o senhor soterrou a minha galinha com a ninhada completa...Era a terceira vez que a pobrezinha chocava nêste mesmo lugar,à beira da estrada...Essas últimas palavras vieram acompanhadas de um choro coletivo das comadres.Condoído com a cena o patroleiro sugeriu uma operação de resgate e dando umas ordens meio aos berros botou todo mundo a cavar a terra.Não demorou muito e chegaram à soterrada,que infelizmente já encontrava-se sem vida.Restavam ainda alguns ovos intactos que a dona da casa iria aquecê-los pelos dois últimos dias restantes até que nascessem os pintinhos.
Mais de 40 anos se passaram depois deta tarde fatídica.Um senhor,aposentado,está na fila de idosos numa agência bancária aguardando a vez de ser atendido.Passam por êle,duas senhoras idosas de braços dados e passos lentos,cansados.Uma delas carrega uma sombrinha.Ao passarem por êle,a que carrega a sombrinha encara-lhe meio enferuscada,aponta-lhe com a sombrinha e diz meio entre dentes:"Matador de Galinhas",depois viram-lhe as costas e saem rindo baixinho em direção à porta do banco.
PS:O senhor que conduzia a patrola era "seu Jango",meu pai.E essa é mais uma das histórias ouvidas à boca do fogão,regada à chimarrão e pinhão.
Aquêle senhor manobrava a patrola recuperando uma estradinha de chão que cortava um bairro denominado "Alto da Glória" aqui em Irati.Hoje,a cidade estendeu-se por aquêles lados,mas naquela ocasião a estradinha era uma das poucas que abria caminho entre uma meia duzia de casas dispersas entre os terrenos baldios.
A sua preocupação ia muito além da qualidade do serviço que executava.Tinha olhos atentos ao bando de moleques que lhe importunavam correndo e saltando sobre a terra que se ia acumulando.Vez e outra quase entravam sob os pneus da gigantesca máquina.
Numa das casas,a última que se avistava na parte mais alta do terreno,as comadres conversavam animadamente equilibrando uma cuia de chimarrão que corria de mão em mão.
À sombra de uma "mimoseira" a conversa rolava sôlta na tarde azul enquanto a molecada (seus filhos) enlouqueciam o patroleiro.
Num dado momento,levantam-se e saem correndo e gesticulando desesperadas em direção à patrola.
O condutor se desespera,pensa no pior...Com tôda aquela piazada lhe apurrinhando,a única coisa que lhe vem à cabeça é:"Chi!...Aconteceu a K....gada".
Desliga o motor e prepara-se para receber a enxurrada de impropérios que lhe é dirigida.A mais alvoroçada das comadres é a dona da casa que gesticula com a cuia na mão enquanto lhe chama de irreponsável,cretino e outros adjetivos.Não lhe dão sequer o tempo suficiente de perguntar:"Afinal o que aconteceu?"
Depois de muito bate boca a mulher revela o porque de tanta fúria:
_Faltavam só tres dias pra sair os pintinhos e o senhor soterrou a minha galinha com a ninhada completa...Era a terceira vez que a pobrezinha chocava nêste mesmo lugar,à beira da estrada...Essas últimas palavras vieram acompanhadas de um choro coletivo das comadres.Condoído com a cena o patroleiro sugeriu uma operação de resgate e dando umas ordens meio aos berros botou todo mundo a cavar a terra.Não demorou muito e chegaram à soterrada,que infelizmente já encontrava-se sem vida.Restavam ainda alguns ovos intactos que a dona da casa iria aquecê-los pelos dois últimos dias restantes até que nascessem os pintinhos.
Mais de 40 anos se passaram depois deta tarde fatídica.Um senhor,aposentado,está na fila de idosos numa agência bancária aguardando a vez de ser atendido.Passam por êle,duas senhoras idosas de braços dados e passos lentos,cansados.Uma delas carrega uma sombrinha.Ao passarem por êle,a que carrega a sombrinha encara-lhe meio enferuscada,aponta-lhe com a sombrinha e diz meio entre dentes:"Matador de Galinhas",depois viram-lhe as costas e saem rindo baixinho em direção à porta do banco.
PS:O senhor que conduzia a patrola era "seu Jango",meu pai.E essa é mais uma das histórias ouvidas à boca do fogão,regada à chimarrão e pinhão.