O CONFESSOR E OS MARIMBONDOS

O CONFESSOR E OS MARIMBONDOS

Estávamos em pleno verão. Era domingo e o sol nasceu prometendo. Na sala a freguesia aguardava, atendidos um de cada vez. No quarto gêneros de primeira, em sacas de bocas abertas e enrodilhadas, alguns caixotes e caixas de papelão servindo de suporte aos demais ingredientes indispensáveis ao consumo domestico. Na porta que punha à sala sobre uma pequena mesa improvisada em balcão, a balança de duas conchas, ladeada por sacolas de papel, alguns pacotes de fósforos, extratos de tomate e sardinhas.

A conversa era animada, cada freguês atendido, afastava dando lugar ao próximo. Obedecia religiosamente a ordem da chegada. Aquele que já havia concluído suas compras esperava pelos demais para seguirem juntos. Zé Rosa o mais velho homem de cor, carpinteiro, por sinal muito lambão, e brincalhão também. Deu inicio a uma brincadeira dizendo, que a fila era idêntica ao confissionário. Liderando a brincadeira ele apontava o próximo a se confessar. Terminada as compras todos de malas nos ombros, desceram em fila indiana pela estrada que cortava ao meio a roça de milho, cujo trajeto passava de dois quilômetros distantes, entre o milharal.

Mais ou menos na metade deste trajeto, havia um rancho a beira chã que construímos, para nos proteger das fortes chuvas que nos pegavam de surpresa, na lavoura. Ao chegarem ao dito cujo, Zé Rosa convocou a turma dizendo: --olá pessoal agora está na hora de comungarmos, se confessamos la em cima vamos tomar a comunhão nesta capelinha, fazendo referência ao rancho. Entraram todos abrindo seus litros de pinga, sobre um estrado de madeira que havia. Beberam e papearam bastante. Ao saírem Zé Rosa sendo ultimo, ageitava seu litro no bornal, sem chapéu em respeito ao sublime momento da comunhão.

Um dos colegas disse: - e na saída da capela, devemos bater no sino! Passou a mão sobre um barril de marimbondos que havia num caibro do rancho, caíram todos sobre a cabeça do pobre carpinteiro. Seu cabelo muito enroscado ficou parecido com a casa das vespas. Ele começou gritar por socorro, mas ninguém se atreveu a chegar o pobre homem teve que esfregar a cabeça no chão para se livrar de tantas vespas.

Lá pelas duas da tarde quando o sol ardia de quente, ele me chama. Estava irreconhecível, com a cabeça do tamanho de um pneu.

-O senhor tem comprimido? Pode ser qualquer um! - O que aconteceu seu Zé?- Palhaçada do Ataíde! Contou-me o ocorrido. Penalisado, com ele exposto ao sol quente, o conduzi de carroça à sua casa. Perdeu vários dias de trabalho o pobre coitado.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 15/01/2010
Código do texto: T2030947
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