Meu primeiro carro...
Meu primeiro carro...
Morava no interior de Santa Catarina, tinha uns 20 anos mais ou menos e nunca havia tido um carro na vida, coisa até normal para quem era de uma classe social menos favorecida como eu, mas a ideia do primeiro carro me atormentava noite e dia.
Com grandes dificuldades, havia comprado uma moto, que era até bonita, mas o que eu queria mesmo era um carro e isso não me deixava dormir em paz.
Pois bem, certo dia apareceu por lá um vendedor de café, da cidade de Lages, distante uns 170 km da minha cidade e em uma oficina de um amigo meu, nos encontramos, eu de moto, que para variar precisava de reparos e ele de furgão, já que vendia e também entregava, por toda região. Conversa vai conversa vem, ele me disse que tinha um carro lindo, um karmam ghia vermelho, reformado e tinha interesse em trocar pela minha moto, desde que eu lhe voltasse uma quantia de 2.500,00 ( nem lembro que moeda era naquele tempo).
Me fez tanta propaganda do carro que fiquei interessado em ir ver o dito cujo, mas tinha um detalhe, esse carro estava em Lages. Como era sexta feira, combinamos de irmos no sábado cedo, levarmos a moto e depois eu voltaria de carro para casa, assim fizemos, carreguei a moto no furgão e lá se fomos para a cidade dele.
Quando lá cheguei, fui muito bem recebido pela família dele, mas quando vi o carro...me desesperei...parecia que tinha passado um trem carregado por cima do abençoado e tinha sido reformado a marreta, era tão torto que cantava pneu na reta...péssimo de pneus, sem bateria, para fazer funcionar foi difícil, só empurrando...
O que fazer numa situação dessas? Eu distante de casa, sem experiência de moto em rodovias e hospedado na casa dele...
Para encurtar a história, dos 2.500,00 iniciais eu ofereci 500,00 só pra não voltar de moto pra casa e o pior de tudo é que ele aceitou na hora...fiquei na casa dele ainda no sábado e domingo, arrumando coisas no carro e pensando como iria fazer para levar aquilo pra minha casa. Mas como o negócio estava fechado, não me restou outra alternativa e na segunda-feira, logo depois do almoço, liguei em casa e avisei que estava saindo de lá e se não chegasse até as dezoito horas, poderiam me socorrer na estrada, já que a distância a ser percorrida demorava no máximo umas três horas aproximadamente.
Foi a pior viagem da minha vida, nem as marchas paravam engatadas, quando eu conseguia colocar a quarta marcha ela escapava e eu fiz todo o percurso segurando o câmbio com a mão direita e o volante com a esquerda, mas fui embora confiante que chegaria em casa com aquela tranqueira...
Quando estourou o primeiro pneu, achei que era um pouco de falta de sorte, afinal era verão, calor e tudo mais, mas quando estourou o segundo e eu estava ainda a uns oitenta quilômetros de casa, percebi que a coisa era mais séria do que tinha imaginado...só consegui jogar no acostamento, sentar no capô e esperar pacientemente que alguém viesse em meu socorro.
Por pura sorte, depois de uma hora mais ou menos um carro parou e consegui pedir que ligassem na minha casa do posto da PRF mais próximo e fossem me socorrer levando pneus para que pudesse chegar. Ainda bem que só cheguei em casa a noite, minha mãe não teve como perceber o tamanho da tragédia, mas no dia seguinte a coisa ficou complicada...
Facilmente meu veículo foi eleito o carro mais feio da cidade, eu ia na casa da namorada e encostava a tranqueira na rua e saíamos a pé. Já estava começando a me preocupar com o fato quando alguém me disse que um comprador de carros da cidade havia perguntado de quem era aquele carro, rapidinho tratei de levar até ele e tentar vender...
Bom, na época a minha moto devia valer uns 8.000,00 e como havia voltado 500,00 pela tranqueira ela estava me custando 8.500,00 portanto qualquer valor acima disso era lucro, acreditem ou não eu pedi 14.000,00 pelo carro e o comprador chorou, regateou me oferecendo 12.000,00 mas com um cheque para trinta dias... foi o melhor negócio que já fiz...com o dinheiro arrecadado acabei comprando o carro dos meus sonhos, um fusca 1968 que depois da reforma foi eleito o fusca mais bonito da cidade...nada mal para quem não tinha mínimas condições de realizar esse sonho a três meses atrás...mas a vida é assim, aprendi com um erro, como todos aprendem ao longo da vida e para ser sincero, lembro com certo carinho do meu velho e torto Karmam ghia...
Adilson R. Peppes.