O Televisor
Cícero fora criado no sítio, nunca tivera oportunidade de ir até a cidade. - Quando completou 15 anos, como presente de aniversário o pai resolveu leva-lo até o vilarejo que ficava próximo a fazenda em que moravam. - O pai foi até a cidade para comprar querosene, portanto chegaram a noite. - Na praça principal o prefeito da cidade havia instalado um televisor, quando Cícero viu aquela novidade da tecnologia ficou deslumbrado. - Enquanto o pai permaneceu na mercearia, Cícero não arredava o pé de junto do televisor. - Aquilo foi amor a primeira vista. - A partir daquele dia, quando havia uma oportunidade Cícero inventava um pretexto de ir até a cidade, só para assistir televisão.
Quando Cícero completou a sua maioridade veio morar em Campina Grande. - Aqui passou a residir em casa de parentes. - Conseguiu um emprego e com o salário ajudava nas despesas da casa.
O seu sonho era comprar um televisor, mesmo fazendo todo tipo de economia, jamais realizou o seu sonho. - Cícero passou a namorar uma vizinha e ao cabo de seis meses de namoro, terminaram se amigando e foram morar numa invasão lá pras bandas da Catingueira.
Se Cícero era tarado por televisão, sua mulher muito mais. - Diariamente os dois depois do jantar iam para a casa de um vizinho e ficavam ali vendo televisão até a emissora sair do ar. - No início tudo ia muito bem, mas, com o passar do tempo o dono do televisor foi ficando aborrecido, por conta dos televizinhos, se via obrigado a dormir diariamente altas horas da noite; terminaram brigando.
Agora Cícero e a mulher não tinham mais onde ver televisão, pois aquele era a único da vizinhança. - A mulher do Cícero proibida da sua única diversão, ficou incontrolável, brigava diariamente com o marido e passou a ameaça-lo:
- Oia Ciço, ou tu compra um televisor ou eu te deixo !
Nas horas da briga Cícero prometia a mulher que compraria o TV, mas, quando a coisa esfriava êle colocava os pés no chão e via que não tinha as mínimas condições.
O tempo foi passando e a coisa se complicando ainda mais para o lado do pobre Cícero, diariamente a mulher ameaçava deixa-lo caso não comprasse o televisor.
Na estrada que levava ao conjunto residencial onde Cícero morava, havia uma casa isolada. - Todas as noites quando Cícero deixava o trabalho, passava na porta da tal casa; na sala de visita ele via sempre um televisor colorido ligado, ele ficava parado junto a janela apreciando as imagens, ali Cícero se demorava mais de mia hora.
Certo dia como fazia habitualmente, Cícero teve uma idéia que lhe chegou a dar um suor frio, ele pensou com os seus botões:
- Todo santo dia, passo mais de meia hora vendo este televisor e o povo da casa, lá dentro na cozinha ! Acho que vou roubar este bicho !
Na hora de saltar a janela, cadê a coragem. - Cícero era um cara honesto, jamais na vida havia cometido sequer um pequeno delito. Suas pernas tremiam de tanto nervosismo, então ele deixou o furto para outra oportunidade.
Quando chegou em casa, foi aquele carnaval, a mulher danada da vida cobrando o televisor. - Cícero ficou tão aborrecido com a barulheira da mulher, que, esbravejando, gritou:
- Cala a boca danada, amanhã eu trago esta BOSTA !
No outro dia quando terminou o expediente, Cícero foi até uma barraca que ficava próxima a fábrica em que trabalhava, tomou várias lapadas de cana para criar coagem. Quando estava de fogo alto, partiu decidido em direção a tal casa.
Chegando lá, Cícero ficou parado frente a janela vendo o televisor. - O povo da casa como sempre se encontrava na cozinha. - Cícero olhou para os lados, como não viu ninguém, saltou as janela e entrou na sala onde se encontrava o televisor. - Suas pernas tremiam de tanto medo, seu coração batia, parecia até que ia sair pela boca, mesmo assim foi se aproximando da TV, baixou o volume, quando a sala ficou naquele silencia, Cícero desliga o fio da tomada, agarra o televisor, antes de partir, afina a garganta com um pigarro, e. . .
- ESTAREMOS FORA DO AR POR ALGUNS MINUTOS, PARA A TROCA
DOS TRANSMISSORES !
Falou Cícero imitando a voz de Cid Moreira, sumindo na escuridão com o televisor na cabeça. . .