ADEUS MEU PORTO TRISTE OTIT*18
ADEUS MEU PORTO TRISTE
Uma placa com esses dizeres passou célere pelo Táxi. "Dona" Dirce e sua família iam satisfeitas por experimentar esta nova experiência. Ricardo o seu marido já havia mudado desde que ela resolvera aceitar uma bolsa de estudos fornecida pelo Incra, onde trabalha. Não obstante de saberem que teriam de enfrentar essa situação por longo tempo, principalmente tendo em vista os altos salários que viriam após sua formatura, conseqüências de uma futura e boa promoção. As justificativas abonavam todos os sacrifícios.
Os filhos, dois meninos e uma menina, não ainda acostumados com a idéia deixarem para traz o velho "Instituto Araguaia" com toda aquela petizada, vivendo mutuamente os alegres dias da infância. O seu marido não havia obtido sucesso nos dois últimos empregos, mas em Porto Alegre, estava emprega em uma Imobiliária, tendo conseguido vender dois apartamentos em menos de um mês. Portanto Goiânia começava a fazer parte do passado.
Vida nova, novas amizades, belos passeios, o Rio Guaíba, o mar, as praias, o apartamento alugado com toda a mobília; tudo corria bem até que em uma tarde:
- Bem, estou com uma dor de cabeça terrível, parece até que os miolos vão estourar, reclama "Dona" Dirce.
- Nada, é coisa atoa. Ricardo foi ao quarto trouxe-lhe um comprimido e um copo com água.
- Toma.
Ela tomou vindo algumas horas depois, reclamar:
- A cabeça continua doendo.
- É o jeito é irmos ao médico.
Diante da insistente dor a mulher nem relutou aprontando rápidamente procuraram um hospital de plantão, pois era tarde da noite, e onde fora prontamente atendida por um médico.
- Nossa a pressão está altíssima, enfermeira leve-a para a sala de emergência, dirigindo-se ao marido, o senhor espera aqui um pouquinho, vamos fazer o que for possível para abaixar a pressão e depois continuaremos com os exames de praxe.
- Ricardo vá até em casa e fique com as crianças, estou muito incomodada com elas; disse-lhe "Dona" Dirce. Com o consentimento de doutor, ele foi.
Ele então assim procedeu ficando algumas horas com as crianças. De madrugadinha, já amanhecendo, retornou ao hospital. Ao saber que a esposa sofrera um derrame, ficou muito triste. Ela no momento estava inconsciente em um leito na C.T.I. para onde o doutor procurou leva-lo, sabendo talvez, tratar-se dos últimos momentos de "Dona" Dirce, o aneurisma fora fulminante. Ricardo aproximou-se do leito onde estava sua mulher, colou a mão sobre a testa, não deu outra, ela acabara de morrer. Ele ouviu silenciosamente o último suspiro.
Depois de tudo desembaraçado, encontram-se dentro de um avião. O enterro será feito em Goiânia onde está as raízes familiares de Dona Dirce. As turbinas aceleram-se, a porta fechou-se, acende-se o letreiro de "Não fume" e a aeromoça dá as instruções de praxe. A aeronave começa a movimentar-se.
Num banco encontram-se o "seu" Ricardo com seus três filhos: Ângela com seis anos, Adolfo com oito e perto da janela e Ângelo com quatro anos. A nave decola despreendendo-se velozmente do chão. Naquele momento estava ficando para traz a esperança embalada nas asas da saudade. O corpo de "Dona" Dirce lá embaixo nas acomodações especiais, embalsamado, viaja para o seu último repouso numa urna fria. A máquina voadora ganha altura. Ângelo esticou o pescoço, olhou para fora vendo o Rio Guaíba, o Beira-Rio, os prédios do BNH onde seu pai era corretor. Acenando com a mão num aceno de adeus, viu os irmãos a chorar com seu pai pai, então falou chorando:
- Adeus meu "Porto Triste".
Observação: Em qualquer época e em qualquer tempo os fatos acimas, inclusive os nomes fictícios são meras coincidências.
Goiânia, 15 de JANEIRO de 2010.