MUNDICO
Mundico
Seu nome poderia ser qualquer um. Mas seu apelido seria “Mundico”. Tinha que ser. “Mundico encaixa, soa bem, tampa e estampa na cara, na testa ou em qualquer lugar”.
É um sinal, uma mancha, uma marca.
Verdade seja dita: Raimundo tem a cara de “Mundico”. E o jeito também.
O jeito é de um sujeito desajeitado, bom pedreiro, bom de papo e, principalmente, bom de “golo”. Na bebida é fera – na verdade, ele já tem cara de tira-gosto. A gente olha para a “peça” e sente vontade de tomar “uma”. Uma não, umas! E a gente toma.
Não é que somos sacanas, mas se ninguém “judiar” dele, ele acha que é pouco caso.
Um dia, quando ninguém lhe dava “bola”, ele começou a beijar um cachorro e tentou comer pedras.
Quando íamos acampar, ele fazia a festa: comia pão com ovo recheado com milho de pipoca ou com estrume de boi ainda quentinha ( é claro que um sacana fazia o tal sanduíche ). Tomava uma cerveja e umas pingas para descer e ainda pedia mais. Esse era o primeiro fogo do dia.
No segundo, acordou todo amarrado na cama, com uma loura bonita chamando-o e ele sem poder nem se mexer.
No terceiro, ficou sem a barba da banda direita da cara e sem o bigode da banda esquerda. Tais penugens nunca haviam sido tiradas em mais de trinta anos de bobo que é.
Num aniversário,foi levado pela polícia e trancado na cadeia. Passou um aperto danado, o coitado.
Foi tudo armação dos “amigos”.
Como bom pedreiro que era, já levantou um cômodo sem porta e sem janela e ficou preso dentro dele.
Já fez um serviço para um amigo sem sair do quarto: tudo lhe era dado conforme a necessidade, inclusive uma lata para urinar, porque estava “enrolando” e o serviço não rendia. Sendo vigiado, o serviço rendeu e a obra terminou.
Enfim, o “pecinha”, “peça” ou “oreia” , como chama todo mundo, é uma fonte de diversão para todo tipo e gosto. Ele tem histórias que preencheriam um grande volume.
Para resumir a história, uma das mais incríveis: exceto um dente para furar jabuticaba e mais uns dois que pouco valem, a boca dele é igual a própria cabeça: limpinha. E, de acordo com ele mesmo, os “danados” não foram arrancados por estarem estragados. Foram extraídos para “arrancar” um atestado que o arrancaria do buraco.
Ele trabalhava na extração de ouro, na Mina do Morro Velho.
Eu sempre acreditei nele!