A PESCARIA
Naquela tarde meu pai se ocupava de fazer o que ele mais gostava na vida: Ficar à tôa. Acotovelado na janela que dava pra rua encascalhada, ele pitava seu cigarro de palha enquanto e , vez por outra, trocava o descanso do pé direito para o pé esquerdo. Mas se nenhuma simpatia nutria pelo batente, ao velho também não agradava aquele nada por fazer, aquela rua sem movimento... assim, enquanto o cigarro consumia a tarde ele empenhava-se em descobrir algo para se entreter à noite. Foi assim que surgiu a brilhante idéia da pescaria.
_ Silas, Joelç, vão rancá minhoca que nós vai pescá! Maria Flávia, custura a capanga de peixe, que tá furada no fundo, e ocê Maria, frita uns bolin pra nós levá de merenda.
Depois dessa maratona organizacional, muito merecidamente, meu pai entregou-se ao descanso enquanto a gente tratava de executar a primeira etapa do projeto.
Às sete da noite, eu, Joel e o idealizador da empreitada, seguíamos pela estrada de ferro que margeava o rio Sabará, à procura de um bom pesqueiro. Num local denominado "Liofico" onde o rio fazia uma curva em ferradura, entendeu meu pai ser o melhor lugar para se pegar uns bons bagres. O local era de difícil acesso. Tinha que se pular um barranco de mais de dois metros de altura para se pescar em plataforma entre este barranco e o rio. Eu e Joel achamos o lugar um pouco complicado, mas quando meu pai dizia "é aqui" a conversa tinha chegado ao fim. A lua ainda não tinha saído, mas o velho avaliou a altura do barranco, olhou a plataforma lá em baixo e explicou sua estratégia:
_ Ocês sigura as vara que eu vô pulá. Depois ocês joga as vara pra mim e pula também.
Tudo combinado, meu posicionou-se como um sapo, tomou impulso, respirou fundo, contou até três e despencou barranco abaixo.
Falta de sorte! A plataforma lá em baixo não era, como se pensou, nem areia, nem terra, mas uma lâmina fina de folhas secas que o rio mantinha encostadas naquele remanso. Quando o velho Ismael bateu lá em baixo, jum barulho forte e úmido se fez ouvir: STIBUMMMMMMMMMMM! Um círculo aberto pelas águas em meio ao folhiço, ia crescendo sem enhuma n´tícia trazer do meu pai que desaparecera por completo entre enormes bolhas e borbolhas viscosas e lamacentas. Joel nem conseguia falar. Apontou alguma coisa para mim. Eram os bolinhos de farinha de trigo que estavam na sacola com meu pai, mas nada do velho. Quando eu e Joel começávamos a entrar em desespero, meu pai apontou a cabeça a mais ou menos cinquenta metros de onde estávamos. Continuando a nadar sempre para a frente, virou a cabeça para trás e gritou:
_ Cês qué ficá aí, fica, eu já tô indo é imbora!
Joel ainda arriscou:
_ Pô-pô-pô e as minhoca?
E meu pai sempre nadando, respondeu:
_ Come elas, merda!
Naquela tarde meu pai se ocupava de fazer o que ele mais gostava na vida: Ficar à tôa. Acotovelado na janela que dava pra rua encascalhada, ele pitava seu cigarro de palha enquanto e , vez por outra, trocava o descanso do pé direito para o pé esquerdo. Mas se nenhuma simpatia nutria pelo batente, ao velho também não agradava aquele nada por fazer, aquela rua sem movimento... assim, enquanto o cigarro consumia a tarde ele empenhava-se em descobrir algo para se entreter à noite. Foi assim que surgiu a brilhante idéia da pescaria.
_ Silas, Joelç, vão rancá minhoca que nós vai pescá! Maria Flávia, custura a capanga de peixe, que tá furada no fundo, e ocê Maria, frita uns bolin pra nós levá de merenda.
Depois dessa maratona organizacional, muito merecidamente, meu pai entregou-se ao descanso enquanto a gente tratava de executar a primeira etapa do projeto.
Às sete da noite, eu, Joel e o idealizador da empreitada, seguíamos pela estrada de ferro que margeava o rio Sabará, à procura de um bom pesqueiro. Num local denominado "Liofico" onde o rio fazia uma curva em ferradura, entendeu meu pai ser o melhor lugar para se pegar uns bons bagres. O local era de difícil acesso. Tinha que se pular um barranco de mais de dois metros de altura para se pescar em plataforma entre este barranco e o rio. Eu e Joel achamos o lugar um pouco complicado, mas quando meu pai dizia "é aqui" a conversa tinha chegado ao fim. A lua ainda não tinha saído, mas o velho avaliou a altura do barranco, olhou a plataforma lá em baixo e explicou sua estratégia:
_ Ocês sigura as vara que eu vô pulá. Depois ocês joga as vara pra mim e pula também.
Tudo combinado, meu posicionou-se como um sapo, tomou impulso, respirou fundo, contou até três e despencou barranco abaixo.
Falta de sorte! A plataforma lá em baixo não era, como se pensou, nem areia, nem terra, mas uma lâmina fina de folhas secas que o rio mantinha encostadas naquele remanso. Quando o velho Ismael bateu lá em baixo, jum barulho forte e úmido se fez ouvir: STIBUMMMMMMMMMMM! Um círculo aberto pelas águas em meio ao folhiço, ia crescendo sem enhuma n´tícia trazer do meu pai que desaparecera por completo entre enormes bolhas e borbolhas viscosas e lamacentas. Joel nem conseguia falar. Apontou alguma coisa para mim. Eram os bolinhos de farinha de trigo que estavam na sacola com meu pai, mas nada do velho. Quando eu e Joel começávamos a entrar em desespero, meu pai apontou a cabeça a mais ou menos cinquenta metros de onde estávamos. Continuando a nadar sempre para a frente, virou a cabeça para trás e gritou:
_ Cês qué ficá aí, fica, eu já tô indo é imbora!
Joel ainda arriscou:
_ Pô-pô-pô e as minhoca?
E meu pai sempre nadando, respondeu:
_ Come elas, merda!