Pescador Porreta
Um dos meus “Hobby” preferido é a pescaria, principalmente quando, o açude é perto e tem muito peixe. - Infelizmente meus companheiros de pescaria se encontram dispersados me impossibilitando de praticar tão agradável esporte.
Quando eu me encontrava construindo o Reservatório R4 da Sanesa (Sanesa era a companhia distribuidora d’agua de Campina Grande - PB), localizada no alto da Palmeira, no bairro do mesmo nome. Certo dia fui procurado por um dos meus companheiros de pescaria, ele fora informado que em um dos açudes da Fazenda Cabeça de Boi, de propriedade do Major Veneziano, havia muito peixe, porem era proibido pescar, para lhe tranqüilizei informando que me dava muito bem com o Major - O Major Veneziano era o Diretor Presidente da Sanesa, proprietária do reservatório que eu estava construindo, para confirmar esta condição no mesmo dia, aproveitando uma visita do Major a obra, consegui uma autorização para realizarmos a pescaria no domingo seguinte.
No domingo, ainda escuro seguimos para a Fazenda Cabeça de Boi, localizada no Cariri paraibano. Eramos um grupo de cinco e mais alguns garotos irmãos de um dos pescadores. - Chegamos ao açude, cada qual procurou um local ideal para ficar, a título de comodidade me instalei sobre uma grande pedra encravada as margens do açude sob a sombra de um frondoso Juazeiro. Pela a minha experiência de pescador ali seria um lugar ideal para pescar, pelos os meus cálculos, dentro de pouco tempo a minha cesta estaria cheia de traíras. - Coloquei a isca no anzol, ajustei a bóia de acordo com a profundidade do açude, acendi um cigarro e fiquei naquela agradável espera do primeiro fisgão, as horas se passavam lentamente e nada, nem uma piaba se aproximava para “beliscar” a isca, de repente. . . a bóia afunda lentamente, volta a tona, depois submerge definitivamente, fiquei um tanto intrigado, geralmente quando as traíras abocanham um anzol, fazem com tanta voracidade que a linha com um puxão chega a assoviar, e a vara verga com o peso do peixe. Naquele caso não, a ponta da vara começou a se inclinar vagarosamente em direção a água, vergando com o peso, então, penso com os meus botões. - Até que enfim ! - Começo a puxar, mas, alguma coisa de errado estava acontecendo ali, o peso na ponta da vara era grande, mais onde estava aquela gostosa briga que as traíras fazem para não deixar a água, para o meu desprazer em vez de um peixe, estavas preso ao anzol, um bruto cágado d’agua, o bicho era tão grande que parecia um caminhão “Fé,Nê,Mê”. - Sempre tive repulsa aos cágados d”água, que fazer para livrar aquela coisa do anzol, nem pensei duas vezes, peguei uma faca e cortei a linha libertando o cágado. - Coloquei novo anzol na linha e fiquei naquela expectativa de fisgar pelo menos um peixe. - Lá pelas 10h00 continuava no mesmo lugar, peixes que era bom nada, de repente escuto passos vindo em minha direção, me viro e vejo um negrinho de uns 12 anos se aproximando, preso a sua cintura uma enfieira de peixes de mais de dez traíras, e das grandes, o peso era tanto que o “gury” tinha dificuldade em se locomover, seu caniço era uma varinha de marmeleiro, torta que só uma bengala de palhaço, como isca o menino trazia na mão uma latinha cheia de minhocas, aquilo
me deixou intrigado e com uma inveja dos diabos, como podia eu com uma vara articulada, linha de nylon, bóia colorida de isopor, isca de coração de boi, maleta de ferramenta com toda aquela parafernália de pesca, ainda não havia pescado nem uma “suvela” (traira pequena), enquanto o “gury” com a aquele seu equipamento rudimentar, aquela quantidade de peixes. - Aquilo me deu uma vergonha que cheguei a corar, mesmo assim puxei conversa com o menino;
- Pescaria boa, né ?
- Hoje nun ta bom não “seu” Zé !
- Tem dia que eu pego inté 20 quilo de peixe !
- Com esta varinha ?
- Cum ela mermo !
Fui me chegando ao garoto, mesmo envergonhado, lhe fiz a seguinte proposta:
- Quer vender os peixes ?
- Na hora ! Disse o negrinho em cima da bucha
- Quanto é ?
- Dez mil réi, ta bom ?
- Negócio fechado !
Não quis mais saber de pescaria naquela manha, meti os peixes na cesta me dirigindo para a sede da fazenda. Lá chegando o pessoal já estava a minha espera; Martins um dos membros do grupo se aproxima e pergunta:
- Pegasse alguma coisa ? Nós não pegamos nada !
- Não, só umas “suvelinhas” ! - Respondi mostrando com desdém
a cesta cheia de traíras
A “galera” olhando para dentro da cesta, arregala os olhos e em cora grita:
_ Eita, pescador PORRETA . . .