O FANTASMA DA LUZ

O FANTASMA DA LUZ

Por volta de hum mil novecentos e sessenta, com os meus dezoito anos. Trabalhávamos da madrugada ao anoitecer. Os agregados de meu pai como não tinham relógio orientados pela estrela Dalva (planeta Venus), faziam aquelas madrugadas bestas, para juntos fabricarmos rapaduras. Alguns deles chegavam já levando os bois que moviam o engenho. Muitas vezes ao nascer do sol o cheiro do melado se empalhava pelas redondezas sinalizando que já havia rapaduras prontas, em ponto de ser consumidas. Em casa tinha um despertador, eu o colocava dentro de uma bacia de folha para aumentar o barulho ao se despertar. Quando eu levantava, geralmente os bois já estavam engatados no engenho, para nossa jornada, que só terminaria após o por do sol, quando colocávamos no tabuleiro, a cana que seria moída na madrugada,seguinte, e que chegaria rapidinho... Oh vida dura!

Teve uma época que estes meus colegas de trabalho começaram a comentar que uma tocha de luz estava os assombrando. Ao buscar os bois. Diziam eles que a mesma surgia ao fundo às margens do rio Picão, a mais ou menos um quilometro, vindo até ao fundo do engenho onde desaparecia. Embora não fosse eu lá muito corajoso fiquei curioso querendo vê-la, mas não tive oportunidade. Para mim ela nunca vinha.

Exceto uma madrugada após eu chegar de um baile no grupo escolar. Sempre me entrava em casa pela porta dos fundos, pouco abaixo havia um bambual mais embaixo, em trezentos metros o lavadouro de roupas. Eis que um reflexo na folha da porta me chamou atenção. Ao olhar para trás tive um grade susto. No lavadouro de roupas uma enorme tocha de fogo, clareando a cobertura da casa construída da palha de buritizeiro. Com as pernas trêmulas desci um pouco mais até o bambuzal. A esta altura meu cabelo estava idêntico ao porco espinho, de tão arrepiados as pernas quase me colocando abaixo, meu intestino começou trovejar com se uma tempestade estivesse por desabar. Apesar de todas estas manifestações de pânico e nervos. Não sei de onde surgiu uma coragem danada, imaginei, sabe de uma coisa, der no que der, mas vou la enfrentar aquele fantasma! E fui de pernas bambas, mas fui! Chegando lá era simplesmente um esteio da casinha, a lavadeira deixara fogo na fornalha, o vento levou uma fagulha atirando-a no esteio, e por ser uma madeira de alta combustão incendiou, estava prestes a queimar a instalação inteira. Tirei algumas baldes de água do poço, evitei o preju... E assim destruí o fantasma.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 05/01/2010
Reeditado em 05/01/2010
Código do texto: T2012484
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