ESTORIA  DO TEMPO DA ESCRAVIDAO....


         Aconteceu que.......
quando o velho coronel Diodoro faleceu, Alonso, seu filho unico, herdou riquezas e a fazenda Salto Grande...grande fazenda que hoje nao existe mais...a cidade cresceu e ''engoliu'' tudo....apenas o bairro leva o mesmo nome..."" Bairro Salto Grande"" e incrivel!!!  o nome era por causa da queda d'agua que havia por la'...sumiu tambem...canalizaram o riacho...acabaram com ele!!!

          
            Alonso aos quinze anos perdeu a mae e aos dezesseis foi mandado a Europa para estudar...ficou seis anos por la', nao se formou em nada, voltou como saiu, sem um diploma ,e por la' so' gastou, farreou, foi expulso de varias escolas e na ultima expulsao o velho coronel resolveu e o trouxe de volta..


             Foi uma das coisas boas que fez na vida, trazer o filho de volta, ja' estava bem doente e um mes depois da volta do filho, faleceu.


             Alonso quando foi ao exterior era um rapaz educado, fino, de bons tratos, criado pela mae e por mae Ana, negra gorda, escrava de sinha' Laura desde menina, quando sinha' Laura casou com o coronel Diodoro mae Ana veio junto no enxoval, e Alonso quando voltou estava totalmente mudado, parecia outra pessoa.

              Mae Ana casou com o escravo Aluisiu, mulato claro, tinha ate'o apelido de ''pardo'', quase passava por branco , tiveram quatro filhos e sinha' Laura fez o coronel prometer no dia do casamento que nao venderia nenhum filho que eles tivessem, o coronel  honrou o prometido, todos ficaram por ali trabalhando, nao sabiam ler ou escrever , nas missas na capela so' mae Ana quando era solteira entrava junto com sinha' Laura, quando casou passou a ficar la' fora com os outros escravos.

              Benedita, a filha mais velha, a Dita, ajudava na cozinha, os dois rapazes menores nas cocheiras e na fazenda no faz um pouco de tudo e apenas a menor, Antonia, a Tita, ficava por ali zanzando sem fazer nada...mas um dia iria comecar tambem.

               Alonso era mais velho que Tita apenas um mes, e mae Ana tinha amamentado os dois juntos, juntinhos ali no peitao negro que saia leite branco, branquinho.

                Ate' quando Alonso foi para a Europa brincavam juntos e na partida mae Ana, e so' ela percebeu...Tita estava amando, e amando o errado do modo certo...mae Ana so' olhou para Tita, ela com os olhos disse tudo...foi um olhar de confissao de amor. 

                Mae Ana a abracou, levou ate' a beira do rio, sentaram 'a sombra do chorao mimoso e Tita confesou, declarou seu amor....'' mae eu sofro, ou e' ele ou nenhum mais...eu quero ser sua mulher""

                E mae Ana na sua bondade e sabedoria nada disse, nao repreendeu e nem disse :- '' e' impossivel !!!""..mae Ana sabia que o tempo e' o senhor da razao...disse apenas:- dai tempo ao tempo.

                Tita esperava a volta de Alonso dia a dia, um dia ele iria voltar e neste dia ela saberia como conquistar, como faze-lo entender e entao seria seu..

                Alonso ao chegar nao reconhecu Tita...ela de uma menina magrela, raquitica, esqualida tinha se tornado uma moca linda, mulata bem clara, cabelos ondulados mas como mae Ana dizia:- cabelo bom...nao sei quem esta danada puxou!!
nariz aquilino, bem feito, a boca grosa mas de tracos delineados, boca bonita, olhos puxados e castanhos...passava por branca facil, facil, e este era o grande medo de mae Ana!!!

                Alonso tambem do rapaz franzino tinha se transformado em um homem bonito, alto, ate' os olhos tinham ficado mais puxados, mais lindos ainda.

                Quando desceu da carruagem que o trouxe la' da cidade, abracou mae Ana e toda sua familia, quando chegou a vez de Tita parou, ficou admirando e olho no olho....nos dela, amor...nos dele, desejo!!!

                 Foi preparada um festa, pelo coronel, convites foram enviados, ate' o prefeito e pessoas importantes la' da cidade viriam, os fazendeiros visinhos? em peso, e no dia, um sabado, logo pela manha comecaram a chegar, a festa seria o dia todo e se estenderia pela noite adentro. 

                 Aos escravos, depois da cinco da tarde, ficou o terreiro menor, que o terreiro grande era para os convidados e a casa grande tambem.

                 Nos dias que antecederam a festa e nos preparativos, Alonso sempre procurava por Tita, estavam sempre junto, dando longas caminhadas pela beira do rio, andavam a cavalo e Alonso sempre a levava  de charrete ate' a cidade para compras...mae Ana sabia que o coronel nao iria aprovar estas coisas.

                 Tita alimentava a esperanca que no dia da festa Alonso iria se declarar, iria jurar amor eterno a ela, e ela a ele.

                 No dia, Tita ficou ocupada o dia todo ajudando a preparar a festa dos escravos e nao teve jeito de ir la' para a casa grande, teve que ficar por ali, no terreiro menor, mas no meio da festa deu um jeito e foi ate' a casa grande, mae Ana quando a viu, foi pegando pelo braco e trazendo de volta e quando estao quase saindo Alonso vem vindo na direcao delas de braco dado com Alice, a filha do coronel Fabricio, da fazenda visinha , foi o fim para Tita, nao ficou na festa, foi para seu canto, chorar suas magoas de amor. 

                   Domingo levanta bem cedinho e foi bater na janela de Alonso, como fazia quando criancas e ele pulava a janela e saiam em disparada para a beira do rio, ele abriu e ela pulou para dentro e ficaram como criancas , falando baixinho, rindo do nada, do atoa, so' que desta vez nos olhos dela faiscava o amor, nos dele a volupia, o desejo de possui-la, desejo apenas carnal, sem amor...

                   Num golpe rapido, joga-a na cama, beija, ela corresponde, vai num crescente, um fogo tomando conta dele, e num repente rasga a blusa dela, tenta arrancar as saias, ela comeca a se debater, nao quer assim, quer amor, quer as coisas certas na hora certa, se da' conta da situacao, luta, consegue levantar, corre para porta, trancada, corre para a janela, abre e pula..corre, corre....vai para a beira do rio..ele nao a segue, fecha a janela, volta a dormir, pensa"- havera' outro dia''....ela senta embaixo do chorao mimoso, chora suas magoas de amor....nao entende!!! nao era assim que tinha sonhado!!!

                  Nao mais procura Alonso, fica distante, evita ve-lo, encontrar, sair com ele, mae Ana percebe, nada comenta..dai tempo ao tempo!!!

                  Um dia voltando da beira do rio, e' fim de tarde, o sol esta' se pondo, vem pensativa pela estrada e ve Alonso puchando o cavalo pelas redeas, vindo em sua direcao, ela tenta mudar de caminho, ele bloqueia, cerca, diz que quer apenas conversar, se desculpar....''vamos ate' o chorao?''...vai.

                   Durante um bom tempo apenas ele fala, se explica, ela apenas ouve, ele vai se aproximando , coloca um braco em seu ombro, beija seu rosto, beija sua boca, ela corresponde, e de novo a luxuria, o fogo, toma conta dele...empurra no chao, rasga roupas com forca, beija ela loucamente....ela se bate, tenta sair...e morde com forca a lingua dele, quase arranca....ele grita, leva a mao a boca, se ajoelha, ve o estrago feito....ela se levanta corre...corre, foge...foge

                   Alonso coloca um lenco na boca, monta no cavalo e vai atras dela, nao a encontra, ja' esta' escuro e resolve..vai ate' a cidade a procura de um medico, de socorro...o sangue escorre, molha suas roupas..a dor e' imensa...o odio maior!!!

                   No hospital o dr. faz o melhor que pode....fica por la' dois dias, ninguem na fazenda sabe onde esta', mas ele sempre ia a cidade e ficava sumido dois ou treis dias...ninguem estranha e Tita nada diz...e quando ele volta nao tem mais o mesmo olhar de antes, tem odio no olhar e no coracao...jurou vinganca!!!

                   Evita de falar por dias, fica em seu quarto e quando aparece tem a fala diferente, um sons de sssssssss sai, o dr.havia dito que faltava um pedaco da lingua, ficaria assim pelo resto da vida....falando meio sibilado....fica remoendo odio e vinganca!!!

                    Dois anos se passaram, Alonso nunca mais falou com Tita ,nunca mais a  procurou, tratava-a bem, com respeito e  como escrava da casa, e mae Ana sentia e se preocupava com a situacao e hoje e' o dia do casamento de Alonso e Alice, a filha do coronel Fabricio, da fazenda visinha, a festa vai ser por la', mae Ana e toda a familia foram, Tita nao...nao vai, nao quer ve-lo, nao quer ver...ainda ama e amor doi, machuca!!

                   E' noite, Tita esta dormindo, e' acordada com alguem tapando sua boca, outras maos segurando seus bracos e pernas, e uma vela e' acessa e Tita ve, com horror, Alonso bem ali ao seu lado e dois escravos da fazenda do coronel Fabricio segurando-a...

                   Amarram na cama, colocam um pano na boca para ela nao gritar..saem, e Alonso se despe, rasga a camisola dela e se satisfaz, uma , duas, treis, e com forca, provocando dores, machucando, quando termina da-lhe tapas na cara varias vezes, deixa sua marca, seus dedos marcam a pele...levanta, gospe na cara, se troca, e sai mandando os dois escravos entrarem e usarem, e abusarem tambem

                   Eles entram fecham a porta, um deles senta no chao em frente a porta, escorando-a  e comeca a chorar, o outro, um mulato, vai ate' ela, desamarra, ajuda a levantar, limpa tudo, faz sinal ao outro para sair e dizer a Alonso que tinha usado e agora era a vez do outro
 
                   Alonso fumando na espera....o mulato enfia as roupas sujas de sangue dentro das suas...ajeita Tita o melhor que pode..pede para ela gritar, ela entende, grita, ele manda ela calar..geme, silencio....sai e diz aque tambem a usou, Alonso ri, satisfeito da vinganca, somem.

                   Alonso ainda teve forcas para tornar Alice mulher.


                   A festa de casamento ficou na lembranca de todos ...foi o casamento mais festejado na regiao.

                    Tita nao contou nada a ninguem, ninguem soube, procurou Antonio, o escravo que a ajudou, conversou muito com ele, casaram, moravam agora na fazenda e Tita foi ser a mucama de sinha' Alice, a nova dona , e mae Ana e mae Ditinha ensinaram Tita na arte de ser parteira.

                    Ela e Alice esperavam filhos de Alonso e ela sabia o que queria...fazer o parto de Alice.

                    Alonso queria um filho homem.

                    Nove meses, nove luas, Alice comeca a entrar em trabalho de parto, Tita dorme no chao ao lado da cama de Alice, acorda com barulhos que Alice esta' fazendo, la' fora um temporal desabando, Alonso tinha viajado, na casa so' um escravo menino para atender alguma emergencia, dorme la' embaixo, e na casa grande so' ela e Alice...

                     Foi um parto dificil, nasceu um menino, coloca nos bracos da mae, Alice acaricia o filho, entrega de volta para Tita, acena como que agradecendo, fecha os olhos, da' um suspiro fundo, e Tita sente que tem algo errado, chama, bate no rosto, nao sente pulso, nao sente coracao.

                     Sente suas proprias contracoes, fortes, intensas, sente sua bolsa romper, se agacha e recebe sua filha, e' uma menina, corta o cordao, embrulha nas roupas de escrava, coloca junto ao menino e na luz do lampiao ve os dois, iguaizinhos, sao meios irmaos. 

                      Limpa tudo com uma forca tirada do amor , se lembra de Alice e tenta levanta-la um pouco, sente cheiro de sangue e colocando o lampiao acima ve com horror uma poca enorme de sangue no meio das pernas, lencol, colchao tudo encharcado, Alice esta' palida, branca...e' um cadaver agora . 

                    E na visao do sangue, na visao da morte, horrorizada resolve...desnuda a filha, coloca no meio das pernas de Alice, suja a bebe todinha com o sangue, embrulha com roupas do menino, coloca roupas de escrava no menino.

                   Seu dia de vinganca chegou.

                   Ela tem um filho homem..filho de Alonso e Alice.

                   Alonso tem uma filha mulher...sua filha e dele.

                   Ela sabe que vai criar os dois juntos, juntinhos e sera' com a ajuda de Alonso...ela ainda vai ser a sinha'!!!!

                    Consegue aos gritos chamar o negrinho escravo que vem  as carreiras, ela sente suas forcas se esgotarem, vai caindo devagar ao chao, sente tudo rodando, explica ao menino  e ele vai acordando todos e anunciando o que aconteceu, mae Ana, mae Ditinha acodem, encontram Tita desmaiada no chao,  ajudam, choram, se alegram...Alice se foi mas deixou uma filha...Tita tem um menino!!!

                   Mae Ana, dias depois nota diferencas nas criancas...nada diz, nada comenta, mas seu coracao se aperta!!!

                   Alonso nunca se recuperou do golge, perdeu a esposa e nao teve o filho homem, comecou a beber, a jogar, passava semanas na cidade, dizem que nas casas de mulheres e assim foi durante dois anos...e nunca pediu a Tita para ser sua sinha'.

                    Vivia bebado e uma noite tentou entrar no quarto de Tita, ela nao deixou, colocou-o para fora e de vinganca disse-lhe o que tinha feito com as criancas.

                     De manha encontram-no caido no quarto, tinha atirado na cabeca durante a noite.

                    Alicinha ficou sendo a herdeira de tudo...Tita governava a casa e criava as duas criancas como irmaos, mae Ana e sua familia ajudando, e o coronel Fabricio ficou responsavel por tudo, heranca, fazendas, que sua neta tinha herdado, viuvo que era, adorava ficar um pouco na sua fazenda um pouco na da neta.

                     Esta estoria foi sendo passada de geracao a geracao, ate' chegar a ser contada a mim por minha mae, que ouviu de sua mae, que ouviu da mae dela e que ouviu da propria boca de Alicinha sua mae.

                     Quem contou para Alicinha foi a propria Tita pouco antes de morrer.

                      Assim Alicinha conheceu sua verdadeira mae , dizem que no primeiro momento sentiu odio, raiva, depois perdoou e ate' conseguiu dizer '' eu te amo'' para Tita...mas nunca mais conseguiu chamar de mae Tita...era agora so'.......''' mae''...que coisa!!.... odio e amor!!


                       Qual e' o reverso de qual?????


em tempo:- Antonio, o Toninho, filho de Alonso e Alice, o verdadeiro dono de tudo, quando veio a abolicao, se despediu de todos e foi embora para Santos, no litoral de Sao Paulo, de la' embarcou em um navio mercante como cozinheiro e nunca mais se soube dele....que pena!!!...o verdadeiro herdeiro e nunca ficou sabendo.


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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 27/12/2009
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