Telegolpe
Antes de qualquer conflito doméstico, cabe logo esclarecer que o fato aconteceu quando eu era solteiro e morava em um pequeno apartamento do Bairro Buritizal, em Macapá.
Em meados da década de noventa recebi uma conta mensal registrando vários telefonemas para países como Guiana, Suriname e outros. Para minha desagradável supresa, o valor da fatura veio quatro vezes maior que o normal.
Imediatamente vesti o paletó e me dirigi para a loja de atendimento da privatizada TELEAMAPÁ, que à época funcionava na esquina da Rua São José com Avenida General Gurjão, no centro comercial de Macapá. Ao chegar, depois de alguns minutos de espera, fui atendido em um balcão, ao lado de vários outros consumidores.
A jovem recepcionista, muito educada, perguntou qual o assunto da minha reclamação. Eu, com certa arrogância, fui logo falando:
- Olhe aqui minha conta. Tem várias ligações internacionais, todas feitas de madrugada. Eu só ligo pro interior do Ceará, pra Várzea Alegre. E nem venham me dizer que outra pessoa fez a ligação que eu moro sozin.
A jovem, sempre sorridente, comunicou-me que ia verificar o acontecido e passou a examinar a conta em seu terminal de computador. Após cerca de um minuto, levantou o olhar em minha direção e, polidamente, falou:
- Senhor, esses números são do telesexo. São ligações internacionais porque as empresas foram proibidas de funcionar no Brasil.
Duas senhoras que também eram atendidas me dirigiram um olhar de inquisidoras. Eu fiquei sem saber o que dizer. Havia esquecido daquelas ligações. Meses antes eu realmente sucumbira. Chegava sozinho em casa e, ao ligar a tevê, sempre aparecia uma bela moça, vestindo roupas sumárias, repetindo insistentemente: ligue, ligue, ligue.
Vendo que aumentava o número de olhares a me avaliar, tomei a contestada conta das mãos da atendente, e, antes de sair às pressas, sem sequer agradecer, inventei:
- Agora me lembrei. Foi aquele tarado do meu primo que veio passar uns dias lá em casa.