AS FASES DA LUA



Hoje pela manhã, em minha caminhada rotineira, alem da beleza do cenário, que enchia meus olhos, ouvi o cântico dobrado de um canarinho da terra; e com ele vieram à saudade e recordação de minha infância. Cheia de sonhos e de magia, sem este consumismo faminto e globalizado, transportando a criança da atualidade com uma técnica a milhares de anos luz à frente de sua verdadeira realidade. Roubando sua magia infantil e o direito de sonhar.
Na minha infância ocorrida a mais de meio século não se falava em guerra nas estrelas, alias não se falava nessas aventuras mercantilizadas por interesses comerciais, pois nem o rádio havia. Nossas brincadeiras nasciam de nossa própria criatividade. Nos segredos do universo, buscamos várias fantasias, identificando estrelas, constelações, descobrindo mitos e criando lendas. A lua foi a nossa maior inspiradora. Ficávamos por longo tempo admirando sua brincadeira com as nuvens brancas que sem roteiro certo vagavam ao léu como plumas brancas, no infinito azul do céu.
Lembro-me de uma lenda criada por mim, em um desafio proposto por meus colegas. Sobre as fases da lua, que em nossa ingenuidade infantil, imaginávamos como ficariam apertados seus habitantes, por ocasião de lua minguante, se realmente houvesse por lá, algum sistema de vida.
E assim cada um escreveu sua lenda, sendo esta a minha, que se tornou vencedora do desafio, em julgamento entre meus colegas eu.
Aos nove anos assim a escrevi. Ei-la: o sol e lua são eternamente apaixonados, um pelo outro, viviam na maior felicidade a passear pelo cosmos. Entre estrelas cometas e outros corpos celestiais existentes em nossa galáxia. Sempre juntos a passear pelo mágico parque sideral. O sol sempre sonhava em ser beijado pela lua, mas ela afirmava que maior intimidade assim, só após o casamento. Quanto mais difícil ela se fazia mais apaixonado ele se tornava. Além do mais só havia a lua cheia, que fascinava com sua beleza amolecendo até os corações das rochas mais sólidas do universo. Seu prateado encantador derramava candura por toda a galáxia. E o sol a cada dia mais apaixonado. Ela correspondia ao seu amor, mas sempre afirmando jamais perdoaria qualquer traição.
Em uma bela manhã de primavera, enquanto passeavam aspirando o delicioso perfume exalado pelas flores no bosque das fadas; ela o surpreendeu dando uma piscadela para uma estrela cadente que banhava no lago mágico do amor.
Aí, foi fatal! Enciumada ela exclamou... - Eu avisei não é verdade?
Adeus... Para nunca mais! Todo desconcertado ele respondeu. – Calma meu amor... Não é nada do que estás pensando! Volte... Meu bem! Mas ela nem quis saber, foi direta ao palácio das fadas cuja rainha era sua madrinha. Contou-lhe o motivo de seu pranto e pediu ajuda afirmando que apesar de amá-lo loucamente jamais o perdoaria. Recebeu de sua madrinha uma toalha mágica tecida do índigo infinito, e partiu ao oposto, de onde o sol vinha desesperado ao seu encalço. Na medida em que se distanciava ela ia cobrindo o rosto aos poucos com a toalha mágica, até desaparecer completamente, e a escuridão tomou de assalto à face da terra.
Desesperado o sol vasculhava o universo a sua procura, sem nenhum sucesso. Passados quatorze dias,quando ele se preparava mais um ocaso ao norte, ela surgiu ao sul, risonha e cheia de graça, espalhando beleza e magia. Irradiando alegria, disfarçadamente, ele mergulhou rápido, sob a terra na expectativa em surpreendê-la, mas ao chegar ao sul ela já mergulhava ao norte. E assim nasceu a universal corrida do amor entre ambos, com ela cobrindo o rosto aos poucos até desaparecer completamente retornando de forma diferente a cada quatorze dias. E foi desta forma que surgiu às fases da lua, segundo a ingenuidade de um garoto, que atualmente raspa as travas dos setenta, mas mesmo assim tenta e tenta ser novamente criança apesar dos quase setenta.
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 19/12/2009
Reeditado em 20/04/2020
Código do texto: T1985853
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